A sombra do vento, Carlos Ruiz Zafón (Leya, SA)

    A sombra do vento são vários livros num só, romance, romance histórico, policial. E são várias histórias que se cruzam por causa do amor aos livros. O livro, cuja história se desenrola na primeira metade do século XX, em Barcelona, inicia-se com a visita de Daniel ao Cemitério dos Livros Esquecido. O pai de Daniel levou-o numa madrugada, para o compensar do pesadelo que tivera e das saudades que sentia da mãe que morrera há pouco.
    O Cemitério dos Livros esquecidos destina-se a perpetuar os livros. Neste lugar, os livros de que já ninguém se lembra, os livros que se perderam no tempo, vivem para sempre, esperando chegar um dia às mãos de um novo leitor, de um novo espírito. Na loja nós vendemo-los e compramo-los, mas na realidade os livros não têm dono. (...)O costume é que a primeira vez que alguém visita este lugar tem de escolher um livro, aquele que preferir, e adoptá-lo, assegurando-se de que ele nunca desapareça, de que permaneça sempre vivo.
    Daniel escolhe "A sombra do vento" e depois de lê-lo e de procurar outros livros do mesmo autor, envolve-se na procura do próprio autor e das razões que o tinham levado a fugir de Barcelona e refugiar-se em Paris. Barcelona, dilacerada pela Guerra Civil, é uma cidade socialmente muito estratificada e marcada pelo preconceito e pela tradição. A história de Júlio Carax, autor do livro, e de Daniel cruzam-se e repetem-se permitindo que Julian se redima da morte da sua amada, ao proteger Daniel e a sua história de amor.
    Não posso deixar de sublinhar o toque queirosiano da história de Julian e a qualidade da escrita do autor, presente em todas as páginas, nas descrições e nos diálogos: Abateu-se a tarde quase à traição, com um hálito frio e um manto púrpura que resvalava entre os resquícios das ruas.

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