A Fita Vermelha, Carmen Posadas (Círculo de Leitores - Quetzal)

    A Fita Vermelha é um livro arrebatador. Escrito na primeira pessoa, por Teresa Cabarrús, a pedido da sua filha mais nova que o conclui, leva-nos pelas ruas de Paris e Bordeús durante os anos da Revolução Francesa.
   Teresa, de origem espanhola, vai para França para encontrar marido. Ainda nova (adolescente pelos padrões actuais), casada e já mãe, vive a violência após a tomada da Bastilha e foge para Bordéus. Pouco depois, Bordéus, como outras cidades da província, recebem emissários de Paris, decididos a pôr termos aos contra revolucionários. Teresa tem um papel activo logo em Bordéus, salvando muitas pessoas da guilhotina. Mais tarde, regressada a Paris, é encarcerada e prepara-se para a guilhotina quando é salva pelo amante Tallien que, para a salvar e instigada por ela, consegue condenar Robespierre à morte.
    É na prisão que conhece Rosa que passou à história como Josefina, mulher de Napoleão.
   A proximidade do poder e da morte acompanham a protagonista que utiliza a sedução para se salvar e para ajudar os outros, mas também para se manter na proximidade do poder. A história política destes anos corre a par da história dos costumes, surpreendentemente dissolutos mesmo para os padrões actuais. As portas dos salões das casas senhoriais são-nos abertas para festas de grande riqueza, enquanto o povo continuava a morrer de fome. Os homens e as mulheres mudavam de casa, cama e parceiro sem qualquer problema ou mesmo censura social.
   Paralelamente, a violência é-nos quase inimaginável.Para além da guilhotina, procuram-se formas de matar que sejam mais rápidas e menos dispendiosas. Até a morte era encenada: os nobre detidos na Bastilha encenavam a morte e preparavam-se para ela, escolhendo designadamente como iriam aparecer vestidos e as palavras que diriam.
   A roupa usada e imaginada por Teresa poderia ainda escandalizar nos dias actuais e a descrição das bocas fétidas, sem dentes e cariadas de todos, incluindo Josefina, não deixam de nos surpreender.
   Como também não deixam de nos surpreender os factos mencionados relativos a protagonistas da época, como Rousseau (que teria tido muitos filhos e os abandonou a todos) mas que deslumbrou todos com as suas teorias e criou um estilo de vida que ainda foi adoptado pela Rainha Maria Antonieta e pelas damas da alta sociedade ou Napoleão que se apaixona perdidamente por Josefina e aceita nela um comportamento que considera reprovável nas demais e que é profundamente censurado pela sua família.

   Carmen Posadas optou por apresentar um livro escrito na primeira pessoa, acontecendo muitas vezes a autora dirigir-se e interpelar directamente os leitores. Receia ainda a leitura crítica dos filhos e a filha, que o conclui, decide que o livro só será publicado depois de mortos os filhos. Para além do tom de diário, acrescenta vários excertos de documentos, cartas, biografias,  e até do diário parlamentar, que asseguram a fidelidade  da personagem e da história. 

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