Os Manuscritos de Aspern, Henry James (Sistema Solar)

   
    Conheci a história deste livro através da newsletter das edições Sistema Solar que o Luís Guerra com regularidade me envia. Depois foi a vez de a ler no Público, acentuando a minha vontade de ler o livro.
    Foi o Diogo que o encontrou à venda na Livraria Palavra do Viajante e teve a simpatia de mo trazer.
   A história narrada no livro é portanto conhecida à partida. É aliás, referida na apresentação que o tradutor, Aníbal Fernandes, faz do livro e do autor. Segundo este, Henry James ouviu a história durante a sua estadia em Florença: duas mulheres de idade avançada (uma com mas de oitenta anos e outra, a sua sobrinha, com cerca de cinquenta anos)vivem juntas, solteiras e têm na posse manuscritos de Shelley e de Byron. Um indivíduo quer desesperadamente ficar com os manuscritos e para tal consegue instalar-se na casa destas senhoras, aproximar-se delas, na expetativa que a mais velha morra e lhes consiga deitar a mão. Quando a velha senhora morre e ele manifesta a sua intenção à sobrinha ela põe como condição que ele se case com ela.
   O que interessa no livro não é a história, que conhecemos de antemão, mas a construção das personagens, a teia que vão tecendo à sua volta, como se tratasse de uma cuidadosa coreografia em que todos os passos são ensaiados de antemão, mas cujo desfecho é imprevisível.
    O cenário da história é a cidade de Veneza, magistralmente descrita, como se tratasse de uma casa de habitação familiar, doméstica e sonora, (…) onde as criaturas humanas circulam a pé como se contornassem os ângulos de uma mobília e onde os sapatos nunca se gastam.
   Também as personagens, sobretudo as duas mulheres, são minuciosamente retratadas: sempre tinha mostrado um ar de dor cediça (como se usasse velhos vestidos de um luto que nunca chegava ao fim), e sob este ponto de vista não havia nenhuma mudança apreciável na sua aparência. Mas era evidente que tinha chorado, e chorado durante bastante tempo – com simplicidade até ficar saciada, revigorada, com uma espécie de primitiva, retardada sensação de isolamento e feroz constrangimento.

    Uma palavra final para a tradução e a edição, a merecerem destaque e nota pela qualidade.

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