Granta Portugal - 1 (2)

    Outros textos que li e que gostei neste número foram:

    "Jazz, rosas e andorinhas" - Afonso Cruz, um conto inteligente e muito bem escrito. Apesar de ter lido apenas um livro deste autor, consegue-se identificar a escrita e certas passagens remetem-nos para aqueleoutro livro (A música é uma janela, e se nos debruçamos muito caímos lá para dentro e só paramos quando batemos no chão.).
    O conto, uma história de amor, tem jazz e rosas e só numa breve passagem andorinhas: Nesta profissão temos uma liberdade diferente do resto das pessoas, não estamos confinados a um "eu". Somos umas macieiras capazes de dar andorinhas. Ou leões...

    "Diário de um fumador" - Simon Gray. Gostei deste texto escrito ao ritmo de um diário, por um fumador, em férias, que está à beira de celebrar os 65 anos e com pretextos diversos descreve o que vai vendo ou vivendo ou nos arrasta até ao seu passado. Com subtítulos como O que leio nas férias ou Livros, percorremos temas tão diversos como hemorróidas, cancros, livros, pornografia, cigarros, férias, alzheimer, o tempo e a família como resultado de uma divagação sem amarras do autor.

    "Espelho de água" - Rui Cardoso Martins. E se o corpo de uma jovem a flutuar pelo Tejo abaixo, morta, se cruza com um cacilheiro? Os passageiros e tripulação impressionam-se, pensam um pouco na sua própria morte, mas depois regressam às suas vidas, às suas preocupações, as contas, os dinheiros, os filhos, as doenças...
    Rapariga morta que fazes no Tejo
    assustas os que vão trabalhar
    Mas o susto dura pouco e é logo substituido pelo peso do dia, dos dias que seguem....

     "Rescaldo" - Rachel Cusk. As interrogações de uma mulher, jovem, mãe, após o divórcio - Separei-me do meu marido recentemente e em poucas semanas a vida que construímos desmoronou-se, como um puzzle desfeito numa pilha de peças de cantos quebrados. (...) Nessas poucas semanas, desfizemos tudo o que nos conduziu ao momento da nossa separação; desfizemos a própria história.
   O papel da mulher e do homem, a família, o trabalho, os nossos conflitos interiores e exteriores, o que sentimos (nós, mulheres)  está tudo aqui neste pequeno texto.

    "Gente famosa" - Orhan Pamuk - guardei para o fim este texto e não me desiludiu. Toda a arte deste escritor está presente neste pequeno texto, cuja ação decorre em 1958, na Turquia e que aparece como autobiográfico (o meu pai, o meu tio e a minha avó falavam e discutiam sem se olharem uns aos outros....) e fala-nos de como a vida na infância decorre paralela à dos adultos, que se cruzam fisicamente, mas em que muitos vezes as crianças e jovens são mero espectadores, sem perceberem ou poderem intervir. O texto acaba quando o narrador (criança) se volta para a mãe, querendo saber por que não nos tinha dado a mão para atravessarmos a estrada e reparei que ela chorava em silêncio.


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