Os livros do final da tua vida, Will Schwalbe (Clube do Autor)

   
     Talvez não fosse a melhor altura do ano (ou da minha vida) para ler este livro, mas cada vez que passava por uma livraria terminava por folheá-lo e, em pé, no meio das compras de natal, já tinha lido o primeiro capítulo "Rumo a um lugar seguro". Will Schwalbe, o autor, acompanha a mãe nos seus últimos tempos de vida, depois de lhe ter sido diagnosticado cancro no pâncreas. Sabem que irão ter longos períodos de espera e de tratamentos em hospitais e iniciam um clube de leitura. 
    Como refere logo na primeira página, a pergunta "Que estás a ler?" é uma pergunta curiosa nos dias de hoje. As pessoas perguntam mais frequentemente que "filmes tens visto" ou "que férias estás a planear", contudo, prossegue, é uma pergunta que ele e a mãe se colocam desde sempre.     Talvez tenha sido este o ponto que me cativou. Também é uma pergunta que faço à minha mãe - ou se não a faço é porque vejo o livro pousado e com a marca ao pé do sofá dela, pelo que me limito a perguntar se está a gostar - e aos meus filhos (embora o do meio já tenha optado por um e-reader tornando fisicamente inexistentes para mim as suas leituras).
    Cada capítulo embora fale em mais que um livro, tem o título de um: "O preço do sal", "O véu pintado", "A jaula do lagarto", "A leitora real"...
     É interessante ver a leitura que é feita de livros que já li e que conheço, por duas pessoas, que vivem noutro continente e noutra cultura, mas é igualmente fascinante antecipar a leitura de outros livros, através da leitura que partilham entre os dois e com o leitor. Atraída pela leitura, aproveitei para ir recenseando os livros e os autores que me pareceram mais interessantes, numa lista que se tornou mais extensa do que me parecia a princípio.  
     Em simultâneo e a marcar as leituras, os encontros e os diálogos, a mãe de Will vai morrendo, mais lentamente do que tinham antecipado. Mas a sua morte é marcada pela sua vontade, não porque seja antecipada, mas porque efetua os tratamentos que entende e a dado momento opta por parar com a quimioterapia ou com a hipótese de tratamentos experimentais e avançar para cuidados paliativos, morrendo tranquilamente em casa, acompanhada do marido e dos filhos. Talvez a razão para não me sentir triste no final, seja avançada por ela própria, a propósito do livro "A elegância do Ouriço": a alegria não depende de as personagens viverem ou morrerem, mas do que elas se dão conta ou conquistam, ou da forma como são recordadas.

    Uma reflexão final, roubada do autor: Estamos todos juntos no clube de leitura das nossas vidas, quer disso nos dêmos conta ou não; cada livro que lemos pode muito bem ser o último, cada conversa a derradeira. 
 

    Em simultâneo fui lendo um livro emprestado pelo Joaquim, "De olhos fixos no sol" de Irvin D. Yalom sobre a morte, ou melhor sobre a forma como nós convivemos com a morte e como a devemos enfrentar. Não me angustiou como receei antes de iniciar a leitura, mas se esperava alguma resposta que me tranquilizasse, também não a encontrei.

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