A mancha humana, Philip Roth (D. Quixote)


   Cada vez mais me parecem semelhantes as relações entre pessoas e entre pessoas e livros. Relacionamo-nos com os livros com com as pessoas: apaixonamo-nos, traímos, cansamo-nos, abandonamo-los temporária ou definitivamente...e muitas vezes tinha tudo para dar certo. Foi o caso deste livro: o autor é excelente, o livro aplaudido pela crítica, o tema fascinante. E ao lê-lo sabemos que é bom, que corresponde à expetativa, contudo, impacientamo-nos para que acabe. Aguardamos pela última página e apetece dizer como dizemos às pessoas:"não és tu, sou eu". 
    No caso deste livro, sou eu seguramente a responsável pela impaciência. A minha incapacidade de abandonar os livros agrava-se com os autores que conheço e aprecio. Não consegui por isso abandonar a leitura, mas a dado passo senti que nos arrastávamos, o autor na escrita e eu na leitura, sem vislumbrar a razão para qualquer um de nós.
     Os argumentos a favor do livro são muitos: o autor, o facto de o livro  ter recebido três prémios - Médicis, Literário W.H. Smith e o Pen/Faulkner - as críticas... do meu lado não tenho nenhum, a não ser encontrar-me a divagar depois de alguns parágrafos.
    Este livro faz parte de uma trilogia sobre a vida americana no pós-guerra e, no caso vertente, coincide com o período em que a América debate a impugnação do presidente Clinton, num processo quase impossível de perceber noutras longitudes.Um professor universitário demite-se depois de ter proferido uma palavra que pode ter uma leitura racista. A vida dele a da sua familia mudam abruptamente e é testemunhada por um escritor que, embora tenha recusado o pedido que lhe é feito de contar a verdade, se torna o seu narrador, descobrindo o segredo oculto da vida daquele professor. Um segredo tão bem guardado que nem a mulher, nem os filhos conheciam. Apenas Faunia, a companheira dos últimos dias, o descobre.
    É um livro sobre a solidão mas também sobre a profunda necessidade que temos dos outros, para viver e para serem testemunhas da nossa vida. É também um livro sobre o fingimento, como podemos ser outras pessoas, reconstruirmo-nos ou destruirmo-nos, ignorarmos quem somos, de onde viemos ou o que sabemos.
    É sobretudo uma visão desencantada da vida atual e em especial da sociedade americana. A mancha humana. Diz Faunia, a dado momento " nós deixamos uma mancha, deixamos um rasto, deixamos a nossa marca. Impureza, crueldade, mau trato, erro, excremento, sémen (...) as criaturas inevitavelmente manchadas que nós somos".

Comentários

  1. Gostei muito...

    http://numadeletra.com/a-mancha-humana-de-philip-roth-70489

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