Inês de Portugal, João Aguiar (Leya BIS)

    Fiquei alguns dias sem ler, ou por outra, sem me apetecer pegar num livro e ler, pelo que substitui livros por jornais, revistas, rótulos, bulas... Mas quando acabamos um livro excecional como Stoner, precisamos de um minuto de silêncio que se pode estender por horas, dias ou mesmo semanas. Os livros que me aguardam desarrumados em cima da arca no meu quarto ou na minha mesinha de cabeceira não me suscitavam a menor curiosidade. Foi neste estado de espírito que encontrei, por acaso, este livro à venda numa estação de correios e resolvi comprá-lo. 
    Lembro-me que há já alguns anos participei numa reunião - penso que em Copenhaga - e ao fazer conversa de ocasião com a pessoa que ficou ao meu lado, no transporte entre o local da reunião e o hotel, ao saber que eu era portuguesa, perguntou-me que personagem tínhamos dado ao mundo e exemplificou com Robin Hood, D. Quixote, Joan of Arc, Romeu e Julieta, referindo que podiam ser personagens de ficção ou não, mas que quando as evocávamos a associávamos a um país e a determinados valores. Tentei desesperadamente lembrar-me de alguém ou de uma personagem que se enquadrasse na definição mas percebi que aqueles que eu poderia citar ser-lhe-iam desconhecidos e um dos casos óbvios é a história de amor de Pedro e Inês. Não se trata de termos ou não personagens para dar ao mundo, trata-se mais da nossa dificuldade de divulgar, de as levar para fora das nossas fronteiras. Mesmo cá dentro, já me aconteceu surpreender-me pela pouca divulgaçao feita (se bem me recordo, a legenda que encontrei junto dos dois túmulos, no Mosteiro de Alcobaça, era tão sintética que a decoração dos túmulos e a posição respetiva só era percebida por quem já conhecia a história).
    Por isso a minha curiosidade em ler este livrinho que embora relate esta história de amor, se desenrola no momento da vingança, em que Pedro aguarda pela chegada dos executores de Inês e se conclui com a coroação de Inês Rainha de Portugal. É sobretudo a descrição de um homem só, infeliz, e dotado de um poder total que lhe confere o direito de exigir o coração dos homens que mataram a mulher que ama e de a coroar rainha depois de morta. João Aguiar tem o cuidado de situar as personagens e citar as fontes. Não se trata de ficção mas de uma parte da nossa história. Nem  Shakespeare conseguia imaginar tal enredo.

***

Comentários

Enviar um comentário

Os mais lidos

O Sétimo Juramento, Paulina Chiziane (Sociedade Editorial Ndjira)

Niketche, Paulina Chiziane (Caminho)

Os Bem-Aventurados, Luísa Beltrão (Editorial Presença)