O meu amante de domingo, Alexandra Lucas Coelho (Tinta da China)

    Depois de fazer um curso de escrita, entre janeiro e fevereiro, juntei-me com as minhas companheiras de curso para continuarmos a escrever e integrarmos também na nossa partilha a discussão de livros. Curiosamente somos só o mulheres, o que nos permite assumir uma posição particular quanto aos temas que vamos abordar - tanto na leitura como na escrita.
    O primeiro livro que combinámos ler foi este, de Alexandra Lucas Coelho que, claro, vinha com muito boas recomendações. O excerto que foi apresentado no nosso encontro estava bem escrito mas surpreendeu-me pela... terminologia, vá. Confesso que sou conservadora quanto ao estilo de escrita e faz-me uma certa confusão ler asneiras - não é que não as diga, mas na escrita (e leitura) prefiro a suavidade. Ainda assim, uma vez que a autora nos apresenta uma personagem que fala assim, o tom é estabelecido de princípio, e sustentado durante todo o romance, pelo que acabei por me habituar - e ri-me muito.
    Está muito bem escrito, de forma irónica e inteligente, com inúmeras referências a outros autores e obras, o que me agradou muito. Mas é isso. A história em si é fraca e se a lemos é porque é uma leitura leve e descontraída.
    No fundo, trata de uma mulher de meia idade que descobre que foi usada pelo companheiro com qual pensava manter uma relação e, quando ele a larga, ao fim de um mês, fica perdida e começa a pensar em como o pode matar:
    Lá fui para a Bobadela à hora a que já estaria no centro de Lisboa a nadar, apurando a cada braçada o sofrimento mais adequado a um filho da puta criativo. Roda? Garrote? Esmagamento por pata de elefante? A vingança é muito subestimada até se manifestar, hoje sei que somos todos portadores, como um vírus à espera de oportunidade.
    A narradora mora no Alentejo mas todos os domingos vai a Lisboa, alimentar a gata de uma amiga e nadar para fortalecer a cervical. E, ao contrário do que o título sugere, não mantém um amante de domingo, mas vai tendo alguns amantes ao domingo.
    Uma pessoa no meu estado não fode um mecânico ou um futuro Nobel porque se esqueceu de um cabrão, ou para o esquecer. Uma pessoa no meu estado fode um mecânico ou um futuro Nobel por se lembrar de um cabrão, e lembrando-o.
    Uma boa leitura para o fim de semana, se procuram uma leitura leve mas espirituosa.

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