Au revoir là-haut, Pierre Lemaitre (Albin Michel)

     O que tomei como um desafio, ler um livro em francês com quase 600 páginas, tornou-se uma obsessão. Cada dia era mais difícil interromper a leitura. 
    O livro divide-se em três partes: novembro 1918,  novembro 1919 e março 1920 e acaba com um curto epílogo.
    A primeira parte desenrola-se nos últimos dias da 1ª guerra mundial, a dias do armistício em que poucos soldados acreditam. Aliás o livro começa com a seguinte afirmação: Todos os que pensavam que esta guerra acabaria em breve estavam mortos há muito tempo. Mas se a expetativa do armistício pode conduzir à inércia e paralisar as partes em presença é também o momento em que os chefes querem ganhar o maior terreno possível de forma a apresentarem-se em posição de força à mesa das negociações.
    E é nesse ambiente que os soldados do 113, comandados por um ambicioso oficial - d'Aulnay-Pradelle - aristocrata, pobre mas ambicioso, atacam. O que acontece nesse combate, que se desenrola contra os alemães, mas na retaguarda, entre o Tenente d'Aulnay-Pradelle e alguns dos seus homens, entre os quais Albert Maillard, um soldado tímido e discreto, que é salvo de uma morte horrível por outro soldado, Édouard Péricourt, vai condicionar a vida destes homens de forma irreversível no pós-guerra.
    De forma distinta, os três sobrevivem vigarizando no pós-guerra, quer com a trasladação e enterro dos mortos,  quer na apresentação de projetos de monumentos de homenagem aos mortos que nunca serão construídos, numa atitude que evidencia o clima que se vivia então em França (e provavelmente nos restantes países que participaram na guerra), dividida entre o reconhecimento aos soldados e o esquecimento. 
    No epílogo o autor desvenda-nos o fim da história das diversas personagens, mesmo daqueles de que já nos tínhamos esquecido (e sobre este esquecimento, o autor tranquiliza-nos dizendo para não nos inquietarmos porque na vida desta personagem, isto era uma constante).
    O livro acaba com os inevitáveis agradecimentos e com o esclarecimento que se a questão da fraude dos projetos de monumentos aos mortos que não passarão do papel é  ficção, a parte do escândalo da trasladação dos mortos se baseia em factos reais.
      
    A meio do livro senti-me curiosa sobre o autor e percebi que era escritor de livros policiais o que explica a trama e o suspense em diversas partes do livro, durante a guerra, mas sobretudo no pós-guerra, quando Albert e Édouard se lançam na divulgação e venda de projetos de estátuas e monumentos por toda a França e planeiam a fuga a 14 de julho antes que a fraude seja descoberta.
    O livro, para além do suspense que acompanha toda a leitura, é um livro cheio de imagens. Em vários momentos, as descrições são tão vivas que é como se as víssemos: o cavalo cujo expiração final salva Albert, as máscaras com que Édouard esconde a face, a cara de cavalo que faz para Albert, a saída de Édouard do hotel....pelo que não me surpreendeu que o livro já tenha sido adaptado a BD e esteja também ser adaptado a cinema. A não perder!
    Li depois na revista Lire de abril, que este livro é o primeiro volume de uma triologia que irá até aos anos 40. Vai-me custar esperar para os ler!

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