Imperatriz, Shan Sa (notícias editorial)

   
    O livro Imperatriz, emprestado pela Rita, que aprecia muitíssimo a escritora e este livro dela em particular (e o tradutor, Gonçalo Praça, pela tradução e por muitas outras razões) seduziu-me mas não me apaixonou. Não sei como explicar, mas determinadas passagens pareceram-me demasiado longas, os nomes de muitas das personagens sucediam-se e nalguns casos tinha dificuldade em me recordar se se tratava de um filho, um sobrinho, um general, um eunuco... (se calhar uma árvore genealógica teria facilitado a leitura) e depois incomodou-me não saber o que era verdade (provavelmente pouco para além da própria personagem) e o que era ficção. 
    Feitos estes apartes, o livro é fascinante. Poderíamos ser levados a acreditar que no século VII, na China, as mulheres disputavam e exerciam o poder, mas no livro é lembrada a afirmação de Confúcio "Uma mulher envolver-se na política é tão escandaloso como uma galinha pôr-se a cantar no lugar do galo". E de facto, o caminho até ao poder é longo e doloroso, marcado por traições e abandonos, num percurso discreto mas determinado. O exercício do poder inicia-se sentada atrás do trono, cercada por cortinas de gaze malva.   
    Há questões que evidenciam um avanço notável para a época - e que os imperadores que a precederam dificilmente empreenderiam - como o concurso para mandarins ("Os indivíduos, já funcionários ou gente sem distinção, nobres ou plebeus, chineses ou estrangeiros, dotados de competências nos domínios da cultura, economia, defesa, educação, justiça, grandes obras de construção, devem apresentar.se aos oficiais de recrutamento...") ou a Urna da Verdade.
    A facilidade com que se condenava à morte ou se determinava que alguém - que poderia ser filho, irmão ou sobrinho - se deveria suicidar, choca-nos mas não diferirá muito do que se vivia noutras cortes, alguns séculos depois.
    Surpreende o esforço feito para se manter e parecer jovem, os tratamentos estéticos e medicinais a que se sujeita e que pela descrição a deveriam esgotar mais que revigorar (o couro cabeludo, puxado ao máximo, alisava-me a cara, as têmporas, as faces). Mas a Imperatriz é e permanece humana, apesar de todos os esforços, e as reflexões que faz sobre o envelhecimento e a morte são porventura o melhor deste livro (Porque definha o corpo, enquanto a alma, essa voz profunda, essa verdade infalível, chama ainda a floração?)
    Resta-me a dúvida se o título do livro deveria ser Imperador ou Imperatriz. Admito que este último seja mais apelativo, mas remete para a mulher do Imperador. Na parte final há aliás uma referência a esta questão quando é referido que Futuro destruiu o epitáfio e decidiu substitui-lo por um texto comemorativo destinado a uma imperatriz em vez de a um imperador.

Comentários

Os mais lidos

O Sétimo Juramento, Paulina Chiziane (Sociedade Editorial Ndjira)

Niketche, Paulina Chiziane (Caminho)

Os Bem-Aventurados, Luísa Beltrão (Editorial Presença)