Os Anjos Morrem das Nossas Feridas, Yasmina Khadra (Bizâncio)


    Comprei este livro de Yasmina Khadra na Feira do Livro, pouco tempo depois de ter acabado de ler O que o dia deve à noite. No stand o vendedor conhecia bem este autor e aconselhou-me a trazer mais livros dele, o que não fiz e já estou arrependida. Yasmina é um excelente contador de histórias a que alia uma escrita realista mas poética.
    O cenário é mais uma vez a Argélia, no período entre as duas guerras e o livro inicia-se com os últimos momentos de um condenado à morte. Chama-se Turambo e tem 27 anos. Não sabemos porque foi condenado. Que crime o conduziu até ali. Neste monólogo inicial praticamente não há espaço para o passado, apenas vislumbramos alguns nomes ou locais. E o medo.
    Depois desta curta abertura inicial, o livro divide-se em três partes: Nora, Aida e Iréne, as mulheres que Turambo amou. Turambo deve o seu nome à aldeia onde nasceu e que foi destruída por trombas de água. Turambo e a família partem para Graba, sem o pai que crêem morto. Mekki, o tio, embora um jovem pouco mais velho que Turambo, passa a chefe de família, que inclui para além dele e sua mãe, Rokaya, irmã da mãe e a filha Nora. 
    É quando Nora se casa que Turambo aceita a proposta que insistentemente lhe era feita e entra no clube de boxe. No auge da carreira, Turambo decide desistir e essa decisão tem consequências violentas e inesperadas que estão na origem da sua condenação. 
    O livro acaba com um curto capítulo, a prisão é pior que a pena de morte e depois a liberdade é pior que a prisão. Sobrevivera apenas para aprender, à minha custa, que uma vida arruinada jamais se recupera.
     (...)
    Quando refletimos sobre as nossas vidas, apercebemo-nos de que não somos os heróis das nossas histórias pessoais. Por muito que lamentemos a nossa sorte ou gozemos de uma notoriedade que não raro empresta talento àqueles que não o merecem, haverá sempre alguém mais desgraçado ou mais afortunado do que nós.

    Uma palavra final para o nome do autor que inicialmente pensei tratar-se de uma mulher. Yasmina Khadra é o pseudónimo de Mohamed Moulessehoul que utiliza o nome da mulher como prova de amor e respeito. Mas a escolha de um nome feminino também visou exprimir a admiração profunda do autor pelas mulheres argelinas. Mais duas razões para gostar de Yasmina Khadra.

     

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