O prisioneiro do céu, Carlos Ruiz Zafón (Planeta)

    Já li há algum tempo o livro A Sombra do Vento que, juntamente com O Jogo do Anjo e O Prisioneiro do Céu, fazem parte de um ciclo de romances que se enredam no universo literário do Cemitério dos Livros Esquecidos. Os romances que fazem parte deste ciclo, segundo o autor, podem ser lidos por qualquer ordem ou separadamente, mantendo, mesmo assim, um entendimento claro da obra.
     Revi agora o post que publiquei após a leitura de A Sombra do Vento e o encanto que senti pela sua leitura foi idêntico ao que me acompanhou logo nas primeiras páginas deste livro. Mas há um encadeamento lógico nestes volumes que me fazem arrepender de pelo meio não ter lido O Jogo do Anjo. Neste volume, Daniel regressa ao cemitério dos livros esquecidos mas não há uma explicação tão completa sobre o mesmo como a que aparece naquele outro livro. Continuamos em Barcelona e as personagens são as mesmas, apenas o tempo passou. Adensam-se os elementos e as dúvidas sobre a morte de Isabella, mãe de Daniel.
   No final, o autor cria intencionalmente uma expetativa quanto à próxima obra, pelo que nem parece razoável pensar em cada um destes romances de forma separada ou na sua leitura sem respeitar a sua ordem.

    Ao lado da vida de Daniel, da sua recente paternidade, da sobrevivência da livraria do pai e do casamento de Fermin, temos a história da morte de Isabella e o envolvimento de Martin, um escritor preso numa cela próxima da de Fermin. E nestas histórias subterrâneas e escondidas vamos descobrindo uma Espanha ainda mal refeita da guerra civil e em pleno franquismo. (O seu pai agiu como muita gente a quem lhes tocou viver aqueles anos e tudo engoliram e calaram. Porque não tiveram alternativa. De todas as facções e de todas as cores. Todos os dias se cruza com eles nas ruas e nem os vê. Apodreceram em vida, todos estes anos com essa dor dentro, para que o senhor e outros como você pudessem viver. Não se atreva a julgar o seu pai. Não tem esse direito.)
    Mas é também um livro sobre livros, desde logo quando conta a história de Martin, um escritor que se encontra preso (e que o único bom costume que defendia era o de ler), à mercê do director da prisão, que é um escritor falhado  e que o manda encarcerar  numa torre, sob vigilância vinte e quatro horas por dia para que reveja as suas obras de modo a aproximá-las do gosto deplorável dos leitores.
    Curiosamente, ao ler o posfácio de João Branco ao livro "Estrangeiras" de José Luís Peixoto verifiquei que conta a história do livro  "No Inferno", de Arménio Vieira, poeta caboverdiano, no qual um escritor vê-se numa situação inusitada: fechado num estranho castelo, tem acesso a uma gravação que anuncia que só lhe será permitida a saída em liberdade depois de escrever a sua obra-prima.
    Finalmente, a ideia do Cemitério dos Livros Esquecidos em que cada visitante tem de escolher um livro que quer salvar é absolutamente sedutora. Quase que apetece pô-la em prática

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