A jogadora de Go, Shan Sa (Notícias Editorial)


    Depois de ter descoberto esta autora, li quase de seguida três livros dela. Este último, A jogadora de Go, foi aquele que mais gostei. Pode não ter o fôlego do livro A Imperatriz ou o suspense constante de Os conspiradores mas é o mais sentido.
   O livro é narrado a duas vozes, a de uma jovem chinesa, residente na Manchúria e a de um soldado japonês, destacado para aquela região. A ação decorre durante a invasão da Manchúria pelo exército japonês.
    Os capítulos pertencem-lhes alternadamente. Os dois encontram-se diariamente na Praça dos Mil Ventos para jogarem Go. Um jogo que os acompanha ao longo das páginas e que vai tecendo uma relação entre eles feita praticamente sem palavras. Ela ignora a nacionalidade dele, até porque ele se faz passar por chinês para espiar os jogadores, missão de que foi encarregue por um capitão do exército japonês convencido que o Go é apenas um disfarce: é nesta praça que os nossos inimigos combinam os seus golpes delirantes, a pretexto de um jogo de guerra.
    Desconhecem mesmo os nomes um do outro. É só no fim que ela lhe diz o nome (Chamo-me Canto da Noite.)
    Ela não é uma rapariga chinesa comum. Os pais viveram alguns anos em Inglaterra e depois em Pequim e dedicam-se a trabalhar numa antologia de poesia inglesa. O Primo Lu, que lhe ensinou a jogar Go, apaixona-se por ela. Em resposta, ela propõe-lhe jogarem Go, se ele ganhar ela aceita as propostas dele, se ele perder não se voltarão a ver. Ele perde.
    O colégio aborrece-a. Ao mesmo tempo vai convivendo com o casamento infeliz da irmã, ainda por cima celebrado por amor mas que lhe trouxe uma enorme infelicidade. Por acaso conhece dois jovens, resistentes, por quem se encanta, percebendo depois que nunca os amara.
    E percebemos que tudo se encaminha para uma tragédia, em que a prisão, tortura e morte dos jovens resistentes, representam apenas mais um prenúncio.
     Os capítulos curtos, alternados, a vertigem da história, narrada a duas vozes e com perspetivas diferentes, arrasta-nos na sua leitura. Até ao final. E sabemos então que era este o fim que esperávamos (receávamos).

    Ao mesmo tempo vamos tomando conhecimento daquelas duas culturas, tão distintas entre si, mas que à distância tendemos a tomar como próximas. A autora dá-nos um retrato cruel dos japoneses, humanizando apenas aquele por quem se apaixona. A honra é um valor omnipresente e que aparece nos dois lados da contenda, sendo mais valorizado que a própria vida e a vida dos filhos, o que mesmo visto à distância do tempo, não deixa de nos surpreender.

    Uma belíssima história de amor a não perder.  
    
    
    
   

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