Deus não mora em Havana, Yasmina Khadra (Bizâncio)

   
    Mais um livro de Yasmina Khadra, desta feita passado em Havana, Cuba. Embora num cenário e num contexto distintos, encontro várias similitudes com o livro anterior que li deste autor: Os Anjos Morrem das Nossas Feridas. 
    Em ambos os livros, as personagens principais apesar de terem carreiras distintas dependem do público. Neste último encontramos Dom Fuego, um cantor de muito sucesso mas que, apesar do virtuosismo, nunca conseguiu interessar um letrista ou compositor a criar uma canção para ele. Naquele outro, a personagem central é Turambo, um boxeur. Também de comum nas duas histórias, uma paixão imensa por uma mulher. 
    O livro inicia-se com uma apresentação de Dom Fuego que depois de atuar mais uma vez no Buena Vista Café é informado que este foi comprado por uma gaja de Miami no âmbito de uma privatização decidida pelo Partido.
    Dom Fuego esforça-se por encontrar alternativas para atuar mas sem sucesso durante os primeiros tempos e é então que vamos conhecendo o mosaico de pessoas que o rodeiam, em particular a família e o amigo Panchito. 
(...) Sem música, não sou mais que um eco anónimo lançado ao vento. Já não tenho veias, nem, portanto, sangue; já não tenho ossos que me mantenham de pé, nem rosto para esconder.

    À noite Don Fuego passeia-se e não lhe apetece regressar a casa pois receia acordar o cunhado, Javier, que, com frequência ameaçava expulsar todos de casa pelo que opta por se estender no banco de fundo de um eléctrico abandonado. Mas um dia descobre que uma rapariga deslumbrante se encontra lá escondida porque, como ela lhe explica, não tem para onde ir. A pouco e pouco vai-se criando uma relação de confiança entre ambos, até que um dia a descobre ferida depois de ter sido atacada e provavelmente violada. Leva-a para casa da irmã que a recebe e cuida dela, mas quer ele, muitos anos mais velho, quer o seu sobrinho se apaixonam por ela
    A paixão de Don Fuego por Mayensi leva-o a deixar a casa da irmã e a arranjar uma casa onde vivem os dois, recomeçando ele a atuar, mas este período idílico dura pouco tempo.
    Se há traços comuns nos dois livros, como referi, a diferença é que neste a relação entre Don Fuego e Mayensi é redentora para ambos. Don Fuego integra um grupo musical que tem um enorme sucesso com a canção Don Fuego, cuja letra fora escrita por Mayensi e como ele não desiste de a procurar, termina por a encontrar e perceber que ela abandonou os fantasmas do passado.
    Apesar de gostar da história, há uma densidade nos outros livros que li deste autor, em particular nas personagens, que não encontro neste. Sobretudo a personagem feminina Mayensi, cuja história adivinhamos mais que sabemos mas  sentimos que muito fica por dizer.
    

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