Homens sem mulheres, Haruki Murakami (Casa das Letras)

Haruki Murakami @ Clube de Leituras
    Se os dois últimos livros que li fizessem parte de uma ementa, este seria a sobremesa. Uma sobremesa ligeira, agradável, simples, com um toque exótico. Já o anterior, A guerra do fim do mundo, seria o prato principal. Um prato cheio, bem temperado e com acompanhamento. Nem melhor, nem pior, diferentes os dois. E nada me podia saber melhor depois da leitura de A guerra do fim do mundo, cheia de personagens, narradores distintos, histórias dentro da história, que a simplicidade deste livro Homens sem mulheres. 
    O livro tem 7 contos todos sobre homens sós e a sofrerem com a solidão:

    «Todavia, ao recordar a época em que eu tinha vinte anos, o que vem à tona é a minha solidão. Não tinha namorada para me aquecer o corpo e o coração, nem um amigo no qual pudesse confiar. Não sabia o que fazer dos meus dias, era incapaz de imaginar o que o futuro me reservava. Estava sempre fechado na minha concha, ao ponto de passar uma semana sem falar com ninguém. Essa fase durou um ano. Foi um longo ano.»
    Apesar do fascínio exercido pelas mulheres e do desejo omnipresente, é evidente alguma misoginia nas diversas histórias: «Estava convencido de que todas as mulheres nascem com um órgão independente, concebido para mentir. Quanto ao tipo de mentiras, em que circunstâncias mentem e como o fazem, varia de mulher para mulher.»
    Mas se as histórias são todas diferentes, e em todas ser uma constante a procura, a espera ou a perda da mulher, o que ressalta é a imensa, enorme solidão dos homens protagonistas de cada uma delas:

    «Um belo dia, quando menos esperar, o leitor vai ser um dos homens sem mulheres. Esse dia chegará de repente, sem apelo nem agravo, sem premonições nem pressentimentos, sem um toque na porta nem uma tossidela de aviso. Ao virar da esquina, vai descobrir que já está ali, mas não poderá fazer marcha-atrás. Mal dobrar a esquina, aquele passa a ser o seu mundo. Nesse mundo, encontrar-se-á no meio dos "homens sem mulheres". Num plural infinitamente gélido.»

    Gostei de descobrir este autor e estas histórias.

  Curiosamente, quando lia este livro, ouvi a reportagem da TSF sobre o Japão, o país mais envelhecido do mundo. A reportagem Casa comigo, de Dora Pires, falava do número crescente de homens no Japão que preferem viver sós, da diminuição do número de casamentos e de filhos, falando até num fenómeno - ainda raro - de casamentos sem noivo.

Comentários

Os mais lidos

O Sétimo Juramento, Paulina Chiziane (Sociedade Editorial Ndjira)

Niketche, Paulina Chiziane (Caminho)

Os Bem-Aventurados, Luísa Beltrão (Editorial Presença)