tag:blogger.com,1999:blog-85179528723474323382024-03-27T23:55:20.682+00:00Clube de LeiturasEntrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria.Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.comBlogger537125tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-54338390841308995932024-03-13T22:41:00.003+00:002024-03-17T21:13:07.290+00:00A Família Netanyahu, Joshua Cohen (D. Quixote)<div class="separator"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqF0e2XxMCwYSrq0OUfmcD9mzwZW3dbeSTCsfLdTyQXYY3XslvoR_N-lTWDCv2wXm7gvGAxgt4aFaKOgN_m2sv_zPc3hWjn-p973y9nWqrwGmwuxkMcN6acJs0z9TUcBmhheNeAuV1KyP2GIHsQFGbWLCK5ZK7w3C9htZa2WGSD-TwWdu8qeI2OEuNG1s/s3959/A%20Fam%C3%ADlia%20Netanyahu.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="A Família Netanyahu" border="0" data-original-height="3959" data-original-width="2937" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqF0e2XxMCwYSrq0OUfmcD9mzwZW3dbeSTCsfLdTyQXYY3XslvoR_N-lTWDCv2wXm7gvGAxgt4aFaKOgN_m2sv_zPc3hWjn-p973y9nWqrwGmwuxkMcN6acJs0z9TUcBmhheNeAuV1KyP2GIHsQFGbWLCK5ZK7w3C9htZa2WGSD-TwWdu8qeI2OEuNG1s/w237-h320/A%20Fam%C3%ADlia%20Netanyahu.jpg" title="Joshua Cohen" width="237" /></a></div><div style="text-align: justify;"> <span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O meu
irmão, que habitualmente acerta nos livros que escolhe para me oferecer, deu-me
A Família Netanyahu no Natal. Na altura a situação que se vivia em Gaza já era
absolutamente chocante, mas ainda estava distante do horror dos números atuais.
Hoje ficou-se a saber que nos quatro primeiros meses do conflito em Gaza foram
mortas 12 300 crianças, mais do que as crianças mortas em todas as guerras
combinadas de 2019 a 2022. E hoje também vimos na televisão o primeiro-ministro
Benjamim Natanyahu recusar todos os apelos da comunidade internacional
reafirmando que não parará.</span></div>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> Hesitei antes de começar a ler o
livro e depois de o ler demorei vários dias antes de me decidir a sentar e a
escrever sobre ele. O facto de ter ganhado o Prémio Nacional do Livro Judaico,
para além do Prémio Pulitzer, ainda aumentou a minha hesitação. Porque
razão o Prémio Nacional do Livro Judaico seria atribuído a um livro que não fizesse
os leitores simpatizar com esta família ou pelo menos com o seu filho mais
conhecido, Benjamim, que é há já vários anos o primeiro-ministro de Israel? O
livro é apresentado como o «Relato de um episódio menor e no fundo
insignificante da história de uma família muito famosa» deixando perceber
antecipadamente que por pior que seja o episódio é, na realidade, pouco
importante. A máxima «Falem bem ou falem mal o que importa é que falem»
aplica-se neste caso. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A
história pode resumir-se em poucas linhas: Um professor judeu de história da
universidade de Corbin é encarregado de receber em sua casa Benzion Netanyahu, um
académico israelita exilado especialista na inquisição da Península Ibérica,
que irá dar uma aula e ser entrevistado para um lugar de professor. Benzion
chega acompanhado pela família, a mulher e os três filhos. A família é descrita
como sendo absolutamente disfuncional e os filhos como mal-educados. Se a
família do professor que os acolhe está em crise, a família Netanyahu desafia
todos os códigos e regras de relacionamento, tanto a nível familiar como
profissional. O tom verdadeiramente obcecado do pai, que chega a referir depois
de manifestar desprezo por todos os outros professores, que «só um judeu pode
julgar um judeu», pode explicar, mas não justificar, o trajeto dos filhos. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A
história termina por surpreender, o tom da escrita é irónico e mordaz, contudo,
há partes excessivas ou demasiado longas, como a carta que recebe de um outro
professor sobre o pai Netanyahu e a aula e a entrevista na universidade.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Admito
que não tenha conseguido apreciar o livro pelas suas personagens.</span></p></div>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-83044720366054962482024-02-20T15:35:00.002+00:002024-02-20T15:35:11.260+00:00Le viel incendie, Elisa Shua Dusapin (ZOE)<p style="text-align: justify;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZ-24dya3Tu5hjAt5HiV2vynA5FC4lYsnsJtl3kD_tcGbrMqi2hAzuGZF9wp52Fk10PLNFb1zED_ioXY1koHMKXg5i1RVeL1qyXqtkOUbWSiM6JDrhRafO0HUzz5zzoNhI2e2AObTZGXIE_uE2MHIa9ucdeaYohnarQoqsRlP_TPiMHN9F4ITkSL2TWhc/s443/levieilincendie.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="443" data-original-width="300" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZ-24dya3Tu5hjAt5HiV2vynA5FC4lYsnsJtl3kD_tcGbrMqi2hAzuGZF9wp52Fk10PLNFb1zED_ioXY1koHMKXg5i1RVeL1qyXqtkOUbWSiM6JDrhRafO0HUzz5zzoNhI2e2AObTZGXIE_uE2MHIa9ucdeaYohnarQoqsRlP_TPiMHN9F4ITkSL2TWhc/s320/levieilincendie.jpg" width="217" /></a> <span style="font-family: "Calibri",sans-serif; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não conhecia este livro,
nem a Autora, Elisa Shua Dusapin. Filha de pai francês e mãe sul-coreana,
nasceu em Paris, em 1992, onde viveu durante alguns anos. Atualmente reside
numa pequena cidade na Suíça. Como ela própria refere, esta diversidade
linguística e cultural ajuda a perceber a sua obra, em particular este último
livro, «Le viel incendie». Tanto quanto consegui apurar, embora seja uma Autora
premiada, nenhum dos seus livros foi traduzido para português, o que é de
lamentar. </span></p>
<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>«Le viel incendie»
recebeu o Prémio Wepler, da Fundação La Poste, e o Prémio Fénéon 2023. Como é
dito na contracapa, depois de 15 anos de afastamento, Ágata, guionista em Nova
Iorque, regressa à sua terra natal, Périgord, França, para, juntamente com a
sua irmã mais nova, Vera, desmanchar a casa dos pais. Têm apenas 9 dias para o
fazer, de 6 a 14 de novembro. As pedras da casa servirão para restaurar o pombal
centenário de um vizinho, destruído por um incêndio antigo.</span></p>
<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">
Até aos 15 anos, Ágata viveu com o pai e a irmã, afásica desde os 6 anos. Não
há qualquer explicação para a afasia da Vera, mas Ágata acha que desta forma a
irmã lhe vedou o acesso ao seu interior, à sua intimidade. Pouco tempo depois,
a mãe abandona a família e refaz a sua vida, encontrando-se espaçadamente com
as filhas até cortarem definitivamente. À distância, Ágata mantém uma relação
cada vez mais distante com o pai, que nos poucos telefonemas que faz, lhe conta
a evolução da irmã e depois se limita a falar da casa. Como adultas, as irmãs
só se encontraram uma vez, no funeral do pai, contudo tinham uma ligação muito
forte durante a infância, dormiam juntas quando os pais discutiam, ambas eram muito
tímidas e Ágata defendia a irmã sempre que a importunavam por não falar.
Tinha-lhe prometido que sempre estaria lá para a proteger, o que não aconteceu</span></p>
<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"> O
livro é narrado na primeira pessoa, por Ágata. Neste regresso não é apenas o
encontro com a irmã que a perturba, embora se surpreenda por a encontrar
autónoma, desenvolta e comunicativa, através de mensagens escritas no
telemóvel, mas também o regresso à casa e à terra onde cresceu, apesar de ser
vista como uma estranha. Percebe que sabe muito pouco sobre a irmã, que a acusa
de ter vergonha dela quando eram miúdas e agora ter pena. Ela também acusa a
irmã de nada saber sobre a vida dela.</span></p>
<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">
Ao longo da leitura senti que eram dadas várias pistas ao leitor que depois não
eram explicitadas: o abandono da mãe, a afasia da irmã, a ida de Ágata para os
EUA. Até o título do livro: o velho incêndio que ocorreu há um século e que
destruiu o pombal. A relação com Octávio, o dono do pombal e que a dada altura
lhe pergunta: «Se tu tivesses de escolher preferias ser desejada toda a vida
sem emoção ou amar platonicamente?»</span></p>
<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">
As emoções do reencontro entre as duas irmãs esfumam-se ao nono dia, quando as
duas irmãs dão as mãos e sabem que têm de partir, cada uma em sua direção, para
as vidas respetivas, fechando definitivamente a casa onde cresceram e os
fantasmas que nela habitam. A casa onde cresceram nunca se tornará uma ruína. «As
suas pedras continuarão a ser o que sempre foram: um abrigo».</span></p><p></p>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-8705205897337758642024-02-05T23:02:00.008+00:002024-02-17T21:23:11.913+00:00Almas que não foram fardadas, Rogério Pereira (ed. Espaço e Memória - Associação Cultural de Oeiras)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwdVTAm5v9kqxmsXs2fOHrD_E3AkYmYzemNFLPsK2IPWZIB5mYOcVwJfmV-OUamwgJTVJfZe2V8HBjQ_uUKjxF8O4HGHjEKSXz05bXWqjZEJGP5rQ6Cb7pvcq2kHbLNaoFZJ_Z-gsdszH0v-8jQ_qCMHJm7cJ96zUaDYwJB4XyRwUhivMqn9Tx_KUp-8Q/s4032/IMG-5636.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwdVTAm5v9kqxmsXs2fOHrD_E3AkYmYzemNFLPsK2IPWZIB5mYOcVwJfmV-OUamwgJTVJfZe2V8HBjQ_uUKjxF8O4HGHjEKSXz05bXWqjZEJGP5rQ6Cb7pvcq2kHbLNaoFZJ_Z-gsdszH0v-8jQ_qCMHJm7cJ96zUaDYwJB4XyRwUhivMqn9Tx_KUp-8Q/s320/IMG-5636.jpg" width="240" /></a></div> <!--[if gte mso 9]><xml>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves/>
<w:TrackFormatting/>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:DoNotPromoteQF/>
<w:LidThemeOther>PT</w:LidThemeOther>
<w:LidThemeAsian>X-NONE</w:LidThemeAsian>
<w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:SplitPgBreakAndParaMark/>
<w:EnableOpenTypeKerning/>
<w:DontFlipMirrorIndents/>
<w:OverrideTableStyleHps/>
</w:Compatibility>
<m:mathPr>
<m:mathFont m:val="Cambria Math"/>
<m:brkBin m:val="before"/>
<m:brkBinSub m:val="--"/>
<m:smallFrac m:val="off"/>
<m:dispDef/>
<m:lMargin m:val="0"/>
<m:rMargin m:val="0"/>
<m:defJc m:val="centerGroup"/>
<m:wrapIndent m:val="1440"/>
<m:intLim m:val="subSup"/>
<m:naryLim m:val="undOvr"/>
</m:mathPr></w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="false"
DefSemiHidden="false" DefQFormat="false" DefPriority="99"
LatentStyleCount="376">
<w:LsdException Locked="false" Priority="0" QFormat="true" Name="Normal"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" QFormat="true" Name="heading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" QFormat="true" Name="heading 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" QFormat="true" Name="heading 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" QFormat="true" Name="heading 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" QFormat="true" Name="heading 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" QFormat="true" Name="heading 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" QFormat="true" Name="heading 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" QFormat="true" Name="heading 9"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="index 1"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="index 2"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="index 3"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="index 4"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="index 5"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="index 6"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="index 7"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="index 8"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="index 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" Name="toc 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" Name="toc 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" Name="toc 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" Name="toc 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" Name="toc 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" Name="toc 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" Name="toc 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" Name="toc 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" Name="toc 9"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Normal Indent"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="footnote text"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="annotation text"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="header"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="footer"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="index heading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="35" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" QFormat="true" Name="caption"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="table of figures"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="envelope address"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="envelope return"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="footnote reference"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="annotation reference"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="line number"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="page number"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="endnote reference"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="endnote text"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="table of authorities"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="macro"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="toa heading"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List Bullet"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List Number"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List 3"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List 4"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List 5"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List Bullet 2"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List Bullet 3"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List Bullet 4"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List Bullet 5"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List Number 2"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List Number 3"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List Number 4"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List Number 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="10" QFormat="true" Name="Title"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Closing"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Signature"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" Name="Default Paragraph Font"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Body Text"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Body Text Indent"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List Continue"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List Continue 2"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List Continue 3"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List Continue 4"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="List Continue 5"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Message Header"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="11" QFormat="true" Name="Subtitle"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Salutation"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Date"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Body Text First Indent"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Body Text First Indent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Note Heading"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Body Text 2"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Body Text 3"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Body Text Indent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Body Text Indent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Block Text"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Hyperlink"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="FollowedHyperlink"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="22" QFormat="true" Name="Strong"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="20" QFormat="true" Name="Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Document Map"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Plain Text"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="E-mail Signature"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="HTML Top of Form"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="HTML Bottom of Form"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Normal (Web)"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="HTML Acronym"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="HTML Address"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="HTML Cite"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="HTML Code"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="HTML Definition"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="HTML Keyboard"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="HTML Preformatted"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="HTML Sample"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="HTML Typewriter"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="HTML Variable"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Normal Table"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="annotation subject"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="No List"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Outline List 1"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Outline List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Outline List 3"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Simple 1"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Simple 2"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Simple 3"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Classic 1"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Classic 2"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Classic 3"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Classic 4"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Colorful 1"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Colorful 2"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Colorful 3"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Columns 1"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Columns 2"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Columns 3"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Columns 4"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Columns 5"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Grid 1"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Grid 2"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Grid 3"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Grid 4"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Grid 5"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Grid 6"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Grid 7"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Grid 8"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table List 1"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table List 3"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table List 4"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table List 5"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table List 6"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table List 7"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table List 8"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table 3D effects 1"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table 3D effects 2"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table 3D effects 3"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Contemporary"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Elegant"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Professional"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Subtle 1"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Subtle 2"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Web 1"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Web 2"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Web 3"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Balloon Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="Table Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Table Theme"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" Name="Placeholder Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" QFormat="true" Name="No Spacing"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" Name="Light Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" Name="Light List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" Name="Light Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" Name="Medium Shading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" Name="Medium Shading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" Name="Medium List 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" Name="Medium List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" Name="Medium Grid 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" Name="Medium Grid 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" Name="Medium Grid 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" Name="Dark List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" Name="Colorful Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" Name="Colorful List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" Name="Colorful Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" Name="Light Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" Name="Light List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" Name="Light Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" Name="Medium Shading 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" Name="Medium Shading 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" Name="Medium List 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" Name="Revision"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="34" QFormat="true"
Name="List Paragraph"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="29" QFormat="true" Name="Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="30" QFormat="true"
Name="Intense Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" Name="Medium List 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" Name="Medium Grid 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" Name="Medium Grid 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" Name="Medium Grid 3 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" Name="Dark List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" Name="Colorful Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" Name="Colorful List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" Name="Colorful Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" Name="Light Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" Name="Light List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" Name="Light Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" Name="Medium Shading 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" Name="Medium Shading 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" Name="Medium List 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" Name="Medium List 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" Name="Medium Grid 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" Name="Medium Grid 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" Name="Medium Grid 3 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" Name="Dark List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" Name="Colorful Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" Name="Colorful List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" Name="Colorful Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" Name="Light Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" Name="Light List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" Name="Light Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" Name="Medium Shading 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" Name="Medium Shading 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" Name="Medium List 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" Name="Medium List 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" Name="Medium Grid 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" Name="Medium Grid 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" Name="Medium Grid 3 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" Name="Dark List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" Name="Colorful Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" Name="Colorful List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" Name="Colorful Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" Name="Light Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" Name="Light List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" Name="Light Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" Name="Medium Shading 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" Name="Medium Shading 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" Name="Medium List 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" Name="Medium List 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" Name="Medium Grid 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" Name="Medium Grid 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" Name="Medium Grid 3 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" Name="Dark List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" Name="Colorful Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" Name="Colorful List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" Name="Colorful Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" Name="Light Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" Name="Light List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" Name="Light Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" Name="Medium Shading 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" Name="Medium Shading 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" Name="Medium List 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" Name="Medium List 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" Name="Medium Grid 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" Name="Medium Grid 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" Name="Medium Grid 3 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" Name="Dark List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" Name="Colorful Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" Name="Colorful List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" Name="Colorful Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" Name="Light Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" Name="Light List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" Name="Light Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" Name="Medium Shading 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" Name="Medium Shading 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" Name="Medium List 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" Name="Medium List 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" Name="Medium Grid 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" Name="Medium Grid 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" Name="Medium Grid 3 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" Name="Dark List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" Name="Colorful Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" Name="Colorful List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" Name="Colorful Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="19" QFormat="true"
Name="Subtle Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="21" QFormat="true"
Name="Intense Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="31" QFormat="true"
Name="Subtle Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="32" QFormat="true"
Name="Intense Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="33" QFormat="true" Name="Book Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="37" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" Name="Bibliography"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" SemiHidden="true"
UnhideWhenUsed="true" QFormat="true" Name="TOC Heading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="41" Name="Plain Table 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="42" Name="Plain Table 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="43" Name="Plain Table 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="44" Name="Plain Table 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="45" Name="Plain Table 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="40" Name="Grid Table Light"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="46" Name="Grid Table 1 Light"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="47" Name="Grid Table 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="48" Name="Grid Table 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="49" Name="Grid Table 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="50" Name="Grid Table 5 Dark"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="51" Name="Grid Table 6 Colorful"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="52" Name="Grid Table 7 Colorful"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="46"
Name="Grid Table 1 Light Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="47" Name="Grid Table 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="48" Name="Grid Table 3 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="49" Name="Grid Table 4 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="50" Name="Grid Table 5 Dark Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="51"
Name="Grid Table 6 Colorful Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="52"
Name="Grid Table 7 Colorful Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="46"
Name="Grid Table 1 Light Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="47" Name="Grid Table 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="48" Name="Grid Table 3 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="49" Name="Grid Table 4 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="50" Name="Grid Table 5 Dark Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="51"
Name="Grid Table 6 Colorful Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="52"
Name="Grid Table 7 Colorful Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="46"
Name="Grid Table 1 Light Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="47" Name="Grid Table 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="48" Name="Grid Table 3 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="49" Name="Grid Table 4 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="50" Name="Grid Table 5 Dark Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="51"
Name="Grid Table 6 Colorful Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="52"
Name="Grid Table 7 Colorful Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="46"
Name="Grid Table 1 Light Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="47" Name="Grid Table 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="48" Name="Grid Table 3 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="49" Name="Grid Table 4 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="50" Name="Grid Table 5 Dark Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="51"
Name="Grid Table 6 Colorful Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="52"
Name="Grid Table 7 Colorful Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="46"
Name="Grid Table 1 Light Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="47" Name="Grid Table 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="48" Name="Grid Table 3 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="49" Name="Grid Table 4 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="50" Name="Grid Table 5 Dark Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="51"
Name="Grid Table 6 Colorful Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="52"
Name="Grid Table 7 Colorful Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="46"
Name="Grid Table 1 Light Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="47" Name="Grid Table 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="48" Name="Grid Table 3 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="49" Name="Grid Table 4 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="50" Name="Grid Table 5 Dark Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="51"
Name="Grid Table 6 Colorful Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="52"
Name="Grid Table 7 Colorful Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="46" Name="List Table 1 Light"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="47" Name="List Table 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="48" Name="List Table 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="49" Name="List Table 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="50" Name="List Table 5 Dark"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="51" Name="List Table 6 Colorful"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="52" Name="List Table 7 Colorful"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="46"
Name="List Table 1 Light Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="47" Name="List Table 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="48" Name="List Table 3 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="49" Name="List Table 4 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="50" Name="List Table 5 Dark Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="51"
Name="List Table 6 Colorful Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="52"
Name="List Table 7 Colorful Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="46"
Name="List Table 1 Light Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="47" Name="List Table 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="48" Name="List Table 3 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="49" Name="List Table 4 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="50" Name="List Table 5 Dark Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="51"
Name="List Table 6 Colorful Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="52"
Name="List Table 7 Colorful Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="46"
Name="List Table 1 Light Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="47" Name="List Table 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="48" Name="List Table 3 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="49" Name="List Table 4 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="50" Name="List Table 5 Dark Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="51"
Name="List Table 6 Colorful Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="52"
Name="List Table 7 Colorful Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="46"
Name="List Table 1 Light Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="47" Name="List Table 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="48" Name="List Table 3 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="49" Name="List Table 4 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="50" Name="List Table 5 Dark Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="51"
Name="List Table 6 Colorful Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="52"
Name="List Table 7 Colorful Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="46"
Name="List Table 1 Light Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="47" Name="List Table 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="48" Name="List Table 3 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="49" Name="List Table 4 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="50" Name="List Table 5 Dark Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="51"
Name="List Table 6 Colorful Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="52"
Name="List Table 7 Colorful Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="46"
Name="List Table 1 Light Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="47" Name="List Table 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="48" Name="List Table 3 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="49" Name="List Table 4 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="50" Name="List Table 5 Dark Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="51"
Name="List Table 6 Colorful Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="52"
Name="List Table 7 Colorful Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Mention"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Smart Hyperlink"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Hashtag"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Unresolved Mention"/>
<w:LsdException Locked="false" SemiHidden="true" UnhideWhenUsed="true"
Name="Smart Link"/>
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin-top:0cm;
mso-para-margin-right:0cm;
mso-para-margin-bottom:8.0pt;
mso-para-margin-left:0cm;
line-height:107%;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri",sans-serif;
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-font-kerning:1.0pt;
mso-ligatures:standardcontextual;
mso-fareast-language:EN-US;}
</style>
<![endif]-->
<p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> A procura da correspondência
entre pais e filhos durante o período em que os primeiros estavam em comissão
na guerra colonial tem-me permitido conhecer muitas pessoas e partilhar com elas
histórias e memórias. Nalguns casos, parte dessa memória já foi transposta para
as páginas de um livro, como é o caso de «Almas que não foram fardadas», de
Rogério Pereira. Como o Autor explica na contracapa, ele, a sua Alma e o seu
Contrário nasceram no mesmo dia, cresceram e fizeram juntos o serviço militar.
O livro, dedicado à mulher, filhas, netos e «aos filhos de todas as almas que
não se fardaram nem se deixam fardar» relata a vivência como enfermeiro
militar, em Angola, entre 1969 e 1971.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Logo a abrir o livro, no momento da
partida, percebemos o papel que cada um desempenha: o próprio decide ir
«aceitando a imposição que empurrava para a guerra tantos da minha geração», o Contrário contra-argumenta, considerando-o incoerente e recordando que sempre
condenara a guerra. A Alma modera os debates entre os dois, embora neste caso se
tenha abstido de o fazer.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> A narrativa é interessante porque ao mesmo tempo que relata o que se vai passando na companhia, as saídas, os combates, os mortos, os doentes que recebe na enfermaria, dá conta do debate que havia entre os soldados, entre os que defendiam a utilização da força e da intimidação e os outros que falavam na injustiça da opressão e contra a exploração dos fazendeiros brancos. E como ficam perturbados com a leitura de um texto de Mário de Andrade sobre os acontecimentos de 4 de fevereiro de 1961.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Num pequeno capítulo intitulado «O que eu fiquei a saber sobre a guerra» Rogério Pereira consegue transmitir na perfeição o medo que os acompanhava:</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> «(...) fiquei a saber que a guerrilha atuava também à noite. Que os tiros dos guerrilheiros mais certeiros eram os primeiros e os seguintes apenas serviam para amedrontar. Que os locais menos prováveis para a emboscada era onde ela mais acontecia, de noite ou de dia. Que os soldados mais inexperientes disparavam por tudo e por nada. Que os pirilampos eram alvos luminosos furiosamente metralhados pelos mais medrosos, julgando que a guerrilha atravessava a mata a fumar, como se andassem em calmo passeio. Que os trilhos seguidos para ir a qualquer lugar não devem ser repetidos para regressar.»</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Depois de Maquela do Zombo, a companhia segue para Nharea, no planalto do Bié, com uma curta paragem por Luanda.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> A família, a mulher e as duas filhas, ocupam um espaço importante no livro, desde a despedida, à correspondência, às fotografias que guarda e recebe, até à licença e regresso definitivo. Há um momento particularmente tocante, quando revela um filme que a mulher lhe tinha enviado:«No fundo da tina, sobre o branco papel, a pouco e pouco, ia aparecendo um corpo. Minha filha aparecia. Era como se estivesse nascendo.»</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> O livro começa com um excerto de José Saramago, que acaba com a seguinte frase: «Somos a memória que temos, e essa é a história que contamos.» Não pude deixar de me lembrar do livro «<a href="https://leiturasemclube.blogspot.com/2016/07/somos-o-esquecimento-que-seremos-hector.html">Somos o esquecimento que seremos</a>» de Héctor Abad Faciolince, que é uma homenagem ao pai e como o Autor repete, é um livro contra o esquecimento. Só aparentemente são afirmações contrárias.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Rogério Pereira, face à incerteza da reedição de «Almas que não foram fardadas», disponibilizou para os leitores interessados, o link para o seu <a href="https://drive.google.com/file/d/1YjQJAOWVdeHeL1Tr5JrydoEocy7eU2HL/view?usp=share_link">livro em formato pdf</a>.</p>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-62108747079609538012024-01-23T21:56:00.002+00:002024-01-23T21:56:28.702+00:00Viajar na Maionese, João Pedro George (Edições 70)<p> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSwDIq7xsC3ObQc1JPaTo5gIGZ5UYtX1t9ierU8QufbQhfq9m3pj4W2RB5WPO9POurpJ5ArX735SG_-DQKgOXDFm2AYAR-ToLT099roJB7b17_wHPwGhaowZq8i-ba24AxRDg1wPtImG_Hpt8pdJY5OZ_nQfWrM-imUnw73bRP5gTmD-w4Iy1Qxnap0Ok/s454/Viajar%20na%20Maionese.webp" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="454" data-original-width="300" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSwDIq7xsC3ObQc1JPaTo5gIGZ5UYtX1t9ierU8QufbQhfq9m3pj4W2RB5WPO9POurpJ5ArX735SG_-DQKgOXDFm2AYAR-ToLT099roJB7b17_wHPwGhaowZq8i-ba24AxRDg1wPtImG_Hpt8pdJY5OZ_nQfWrM-imUnw73bRP5gTmD-w4Iy1Qxnap0Ok/s320/Viajar%20na%20Maionese.webp" width="211" /></a> Gosto de ler crónicas, com o ritmo
próprio de cada uma e o capricho dos temas, desde as crónicas diárias do Miguel
Esteves Cardoso, às crónicas quinzenais ou mensais, publicadas em revistas, do
António Lobo Antunes (que desdenhava dos seus leitores), do Mia Couto ou do
Agualusa. Gosto também de crónicas radiofónicas e fui uma ouvinte atenta dos
Sinais, de Fernando Alves. Deliciei-me há uns tempos a ler as crónicas de Luiz
Pacheco, juntas em <a href="https://leiturasemclube.blogspot.com/2018/09/textos-de-guerrilha-luiz-pacheco-ler.html">Textos
de Guerrilha</a>, e de Maria Judite Carvalho, reunidas em <a href="https://leiturasemclube.blogspot.com/2018/11/este-tempo-cronicas-maria-judite-de.html">Este
tempo</a>.</p>
<p style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Foi por
isso uma boa surpresa descobrir este Autor – dir-se-á croniqueiro? – e a enorme
variedade dos seus temas, que vão do calão, que considera o santuário das palavras
javardas, à gordofobia, à importância dos parêntesis, à sociologia do cabelo e
da barba, à pandemia ou à presença do bidé na literatura portuguesa (antecedida
de outra crónica com o título Glória ao bidé). Enquanto lia as crónicas sobre o
bidé descubro que deixou de ser obrigatório nos novos projetos urbanísticos e
penso nas repercussões que esta alteração terá na literatura…</p>
<p style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ao ler
estas crónicas, ri-me, diverti-me, mas também aprendi. Nalguns casos, a leitura
acabava comigo a ler excertos a amigos ou familiares, como aconteceu no caso da
crónica «Ao serviço da maldade» sobre as notas de rodapé. Como exemplo de uma
nota de rodapé ao serviço da maldade, cita as «As Cartas Particulares a
Marcello Caetano», com prefácio e organização de José Freire Antunes. Na página
354 do segundo volume, para justificar uma frase do atual Presidente da
República, refere uma carta da sua mãe, que acaba da seguinte forma:</p>
<p style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>«Sei
bem que o Marcelo, mercê de muitas e variadas circunstâncias, não tem agido de
uma forma coerente com o seu pensamento, mas a verdade é que tem sido quase um
fracasso toda a sua vida na universidade.»</p>
<p style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No
mínimo surpreendente.</p>
<p style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As
crónicas sobre as primeiras e últimas frases de um livro são fantásticas e penso
que a partir de agora darei uma especial atenção à forma como um livro começa e
acaba. Como escreve a acabar a crónica «Como uma corrente que nos puxa para
dentro do mar»:</p>
<p style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>«Se a
primeira frase é o lugar genesíaco de um romance, a última carrega-o todo às
costas. Terminar um livro com palavras certeiras é também uma arte. A arte da
fuga.» <br /></p>
Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-26556163368309332232024-01-06T17:37:00.009+00:002024-01-07T09:32:18.246+00:00Não saí da minha noite, Annie Ernaux (Livros do Brasil)<div><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGal7QiZEEMO3Su0Q8lVq6Z9oAK5bx1C1pN7WlyKUpW45ngZT-OTZGKAe7oEf_-Ae0i1di0y6ejOnmfIb0l7WswcGfulJ4VuNkDrzHAoZnLvV67vRK2vjSPxXUfgSaKR0e0HPKX_twofmevyGYV9nkcw6I4DDD0JcFfX_rEbQDzI5Fh53lAantZ8RQLMw/s463/N%C3%A3o%20sa%C3%AD%20da%20minha%20noite.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Não saí da minha noite" border="0" data-original-height="463" data-original-width="300" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGal7QiZEEMO3Su0Q8lVq6Z9oAK5bx1C1pN7WlyKUpW45ngZT-OTZGKAe7oEf_-Ae0i1di0y6ejOnmfIb0l7WswcGfulJ4VuNkDrzHAoZnLvV67vRK2vjSPxXUfgSaKR0e0HPKX_twofmevyGYV9nkcw6I4DDD0JcFfX_rEbQDzI5Fh53lAantZ8RQLMw/w207-h320/N%C3%A3o%20sa%C3%AD%20da%20minha%20noite.jpg" title="Annie Ernaux" width="207" /></a></div><div style="text-align: justify;"> Durante anos procurei livros sobre a velhice (e a demência) e a morte da mãe e confrontei-me com o seu reduzido número, ao contrário dos livros sobre a morte do pai. Li agora dois, excecionais, publicados recentemente sobre este tema: <a href="https://leiturasemclube.blogspot.com/2023/12/misericordia-lidia-jorge-d-quixote.html">Misericórdia</a>, de Lídia Jorge, e Não saí da minha noite. Ambos escritos por mulheres. Escritoras. Interrogo-me se os escritores, homens, escreverão mais sobre a morte do pai e as escritoras sobre a morte da mãe. Ultrapassando questões de afetos e ligações, tratar-se-á de uma questão de identificação? Numa entrevista – que li algures – sobre este livro (que me recuso a catalogar porque não consigo fazê-lo, nem me parece que importe), Annie Ernaux refere que tem consciência de que «a sua mãe representa “o tempo” e que de alguma maneira ela a “empurra” a ela, a sua filha, para a “morte”». <br /></div></div><div><br /> Surpreendeu-me a questão da noite, presente neste livro e em Misericórdia:<br /><br /> «Aqui onde me encontro, mesmo em tempo de Primavera, quando os dias costumam ser do tamanho das noites, a noite é sempre mais longa que o dia. Sabendo disso, é precisamente a meio da noite que a noite vem ter comigo, dirigindo-me perguntas inimagináveis como se fosse aquele gato pardo, muito antigo, que se chamava esfinge.» <br /><br /> «Não saí da minha noite» foi a última frase que a mãe de Annie Ernaux escreveu. <br /><br /></div><div style="text-align: justify;"> O livro, que li numa tarde, decorre entre dezembro de 1983 e abril de 1986. Durante uma vaga de calor, a mãe sente-se mal e é hospitalizada. Depois de recuperar fisicamente, como tinha falhas de memória, a filha leva-a para sua casa, convicta que a companhia dela e dos netos lhe permitiria recuperar a memória e a normalidade, mas não é isso que acontece. Algum tempo depois, o médico «menciona» a doença de Alzheimer e dada a sua prostração é de novo hospitalizada no serviço de geriatria. Virá a sair brevemente para um lar, mas regressará ao hospital onde morrerá de uma embolia.<br /></div><div style="text-align: justify;"> «Não saí da minha noite» é escrito sob a forma de pequenos retalhos, compostos de memórias que nos confrontam com a velhice, a demência e a perda. Apesar de a Autora referir que quer que estas páginas sejam lidas «apenas como o resíduo de uma dor» e que não sejam vistas como um testemunho sobre a estadia num lar da terceira idade e muito menos como uma denúncia, há partes muito chocantes e que nos interpelam sobre a vida dos velhos nestes lares. E que também a levam a questionar sobre a longevidade das pessoas idosas, dementes e dependentes: «Digo-me bruscamente que, pelo rumo que o mundo está a levar, daqui a vinte anos, ou cinquenta, não manteremos vivos seres como a minha mãe. Não sei avaliar tal eventualidade, se é legítima ou não.» <br /><br /></div><div style="text-align: justify;"> Identifiquei-me muito com a Autora, enquanto filha que assiste, impotente, à perda sucessiva das capacidades da mãe, à sua demência, incapacidade e dependência. E que depois sof<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">re
terrivelmente com a perda da mãe. <br /></span></div>
<p></p>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-6183822881328008352024-01-02T15:06:00.005+00:002024-01-02T15:26:31.912+00:00Livros lidos em 2023<p style="text-align: justify;"> Todos os anos, entre as resoluções que tomo entre passas de uvas, está a de ler mais livros, mais livros escritos por mulheres e livros com alguma idade. Todos os anos, como todas as resoluções que tomamos para o ano novo que estreamos, falho, pelo menos parcialmente, estas resoluções. Se este ano não foram mais os livros lidos, foram seguramente mais os livros lidos escritos por mulheres, de geografias distintas e também com alguns anos. Descobri novos autores como Adania Shibli (onde estará agora?), Abdulai Sila e, mais próximas, autoras como Susana Moreira Marques e Adraina Lisboa.</p><p style="text-align: justify;"> Contudo, tive a sorte de ler muitos livros de que gostei. Optei por exibir as capas das minhas leituras preferidas de 2023. Boas leituras para 2024!</p><p style="text-align: justify;"><img alt="Amor" border="0" data-original-height="3919" data-original-width="2730" height="181" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOPgf8EC4aFYjqpNjV3XhorFHo29BFiXWrROWFVDzy00Vg4k5YOLz1v4G3CNAwbzSfIFc1inJLpsDrjndVxJLky76aBxN3cxUGZNE7kXmhgRQym15VAfOuzsKp36MsvjCQhoprsM4kgzNaOgcsxcJRScK6xn4B8wsf5ZNBZ__Q0qOYjotmCznNOqFL/w126-h181/amor.jpg" title="Jorge de Sena" width="126" /><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="182" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUTv5N5oS9Kzfwf-yzUusoOxtVRIPBQxN5ryN4UQ4Os1ALeEckiulK5GU9Me7LkH5xFys8FJlsAesHkNNVf-YDeJJwEtG1nwH8w8JgA8R9bCz07qE4HVVUjbGaeEYW5m1TIdTDo6bJK674euypWZjvcIXjGTulLF0RQUh4WtoKYxBViFLAXdGQ9Bpw/w137-h182/IMG-4680.jpg" width="137" /><span style="font-size: small;"> </span><img border="0" data-original-height="462" data-original-width="300" height="184" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRwWZD5rO7W7k46VnBGSFnW1w8hOXPNzV87eRUt6DCHAEPi78FLHACnwkPwtl5Ym6FFz19KYnXOcYNXiFZ7VU-Xt6Bo0kQD2pedHw6swimaJYNahx1rejKEfiGIyj5qr7X3pmOyo8UIyVFtHokAzJuw6lcKsIuQWt7JeE1Ti2hJNepX2sHDtV1wF8OheY/w120-h184/Ventos%20do%20Apocalipse.webp" width="120" /><img alt="Como poeira ao vento" border="0" data-original-height="464" data-original-width="300" height="184" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqW7qPUWhIFbPYJwfCCCoOgvf_F7hUq3bNu6FC-T5Bp_6ySA-agmEnzm6zgW7-fNoXFviOHYUyF66lNr_CRT2lyb0S8IxNCOa3fs5QbbxyBQ_TxP4z1Co6MLBb-aHm16oy4AnRXvTbnpvME1biHdYNNszVnzXc3FatWNiCW5cxttz9xZbWYZsbOamfbLw/w119-h184/Como%20poeira%20ao%20vento.jpg" title="Leonardo Padura" width="119" /></p><p><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg04Mote-U7r5VGeHn2GxCCepIiWqHJdE01uO0M0VxzW4WrEClxdIkMQvOCarMCW_0erL4CI1PF-GbFhYXIaliCsEHqbGNJn6H9_bvcjy-JbPC5FjJAFeNYEVUQ478z_DBs-jdVMleVsocqeaOvDptwPFafqVxSZCNfccF_A_osIYjR0UL_klzxvjWbBTo/w131-h175/Aimez%20vous%20Brahms.jpg" width="131" /><span style="font-size: small;"> </span><span style="font-size: small;"></span><img alt="Imagem" height="176" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZFDe4Ar71NRkXbOCT4WaKBstTGrtOxW7BxCTjYjaTu28AGxJJ-14tKQgWwsqQ742DuZC-iucKqcywoDJhxkBexzR0FMZ4Xy56g0QMm4yQlknWRpmB3Rj5-IBw7cYQB6-v-5kA0tvLtjn8MgLq5OXN3CFQib8vMkM0-WMXG74-URw0G1_ewQABRP6lu_s/w117-h176/UmDetalheMenor(1).jpg" width="117" /><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUKrBirnt9UGzD9ArqSkiNED9pIQsdMHYykcg2OSZ2ujHPQ4AuX2o992yoa1m7LPUwqVGT-jmZLAmjWlS54OcLrjPiP65Isrk9W_s29_TpPer0iXs5qAy8N_tyOE34Npbn2CwBRC9QPLXBvdmMS_C29WB2tX-ZazQS-yMsBsSyCwyEhE_rAYUbgyS4XlU/w134-h178/Len%C3%A7os%20pretos,%20chap%C3%A9s%20de%20palha%20e%20brincos%20de%20ouro.jpg" width="134" /><img alt="Narciso e Goldmund" border="0" data-original-height="704" data-original-width="465" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJN5WWO1Fok1W-RQPQIpDFXXKc8gut_YOe41ph6P6Lt8KlB7hbLt3TRXAHN21YZd-qYM23bt3mkxFllvv20NwYDIwVnWHq_s3nMgijCZM8YAQ-PR0LTPgWmWoY0L8emX3HgQbxE2vQRfgBU3sAq54E4RgmGBhP6Ycgapum26pMsCNxksJJtsV9Ndr3HaI/w119-h180/Narciso%20e%20Goldmund.jpg" title="Herman Hesse" width="119" /><img border="0" data-original-height="299" data-original-width="220" height="182" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga0L82K3a3jM4PuekSo8gXZAuv9-rZhsovqvRipcALejwlK6zWKR1lytlJCjUBApHRg33P-PWP8eK_ErjYW_mnx13C9wSwxI__7xpjHTw0iHwMhSxE0i2w_Y03UNfyZVVM1iR_xsgjprSzJWlDh1iJ_lvsUPMLdAR9-8HloF-81bgAdF5ZYAu7cSTM/w134-h182/capa-mistida-2edicao.jpg" width="134" /><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="812" height="204" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhk3sPzetAOJVy6juzC6NMf572NFcIZXR_ZkE5udDNHx-2MW-so9VxtxkBiGVQA9bTQuRMsUYBN6pCIGV0hGOq53l-Eon9ESTo1byxB614-USNuCLJpxZnKQkqHQSmbIVa62Qgq83OTKDwC4MnkV1w5wJb6C7EE3N6QwIZgx_ReqjqTAM-MlXHA6C1K/w154-h204/Soror1.jpg" width="154" /><img alt="Sinfonia em Branco" border="0" data-original-height="432" data-original-width="275" height="208" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjesmXMm7pt7yICtYB0o6OEa7-uyd3hzXBuxp35MHzH0G5nevH3Xey7kB859TQRMI_gkBWMb-IE92qMpQlJZches4LyScb1Teo3Gi5vFLB0u8fhDqCTY5eXfH0dvnBjtdCJxOarboYC6kkaMgjSamLCjmtxlh8v8OWVTdQZ-AxYyNLGzeDlMaPy0CHS/w133-h208/sinfoniaembranco.jpg" title="Adriana Lisboa" width="133" /><img border="0" data-original-height="470" data-original-width="300" height="209" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPSU9Gg-PNuK2U4QYqHtHitn6dt_jQ7pKcOvlybhGMZLZICS7qKMCd7npuqhDvduL1qdTY_rGCHRgEmec7OFgi_0PGPQOeGi8UJnGdARclDhzzJ5-iOk_n4LW5EWf6mY9Hm3gOvJzRw-d0XUTO9QjqXGhs6wQKbNcy32gO1vofx_773ZgLBhiSyf2m/w134-h209/Morrem%20Mais%20de%20M%C3%A1goa.jpg" width="134" /></p><p></p><p></p><br /><p></p><p><br /></p>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-85481316897138607712023-12-20T22:15:00.008+00:002024-01-06T16:05:31.601+00:00Misericórdia, Lídia Jorge (D. Quixote)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiJ5aCE8GPew_Gp8PMbCjgubn6dqQmpp1aAydItC3UTzkb8QrbL8s3o4NwC8H1cFr8_kNqaF3UHbGCJAlhzp_ibtyDEdj9QIVXQgVQdfS3DBsAbGZfQbO9PfVry_kcRZxrIcIvubBIvTR0MkSgm6v7Ihu01by9gg-3xKRVUqCmbh-RFaBoS5LoXczcnnM/s4032/IMG-5540(2).jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiJ5aCE8GPew_Gp8PMbCjgubn6dqQmpp1aAydItC3UTzkb8QrbL8s3o4NwC8H1cFr8_kNqaF3UHbGCJAlhzp_ibtyDEdj9QIVXQgVQdfS3DBsAbGZfQbO9PfVry_kcRZxrIcIvubBIvTR0MkSgm6v7Ihu01by9gg-3xKRVUqCmbh-RFaBoS5LoXczcnnM/s320/IMG-5540(2).jpg" width="240" /></a></div><div style="text-align: justify;"> <span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">Ao contrário do que é habitual, não escrevi sobre
este romance quando acabei de o ler. Não o fiz por ter, entretanto, ido de
férias ou começado a ler outros livros, mas porque precisava de o digerir. </span></div>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Misericórdia,
para além da qualidade da escrita, confronta-nos com as nossas opções, a nossa
realidade, os nossos medos. Ao lê-lo lembrei-me das mãos da minha avó, agarradas
às minhas, enquanto me pedia que não permitisse que um dia a pusessem num lar. Morreu em casa, e gosto de
pensar que todos os dias a sentavam no sofá, na sala, junto à janela, a apanhar
um pouco de sol e a ver quem passava na rua. Um direito que devia assistir a todos, mas
que a poucos é permitido.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">
Depois de ter lido Misericórdia, ouvi a Autora, Lídia Jorge,
explicar o sucesso do livro pelo tema tratado, que definiu como os «marginais
da idade que não têm lugar no mundo (…) e que são vítimas do nosso sistema
neoliberal económico (…) não encontrámos uma forma mais humana de tratar os
idosos».</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> Misericórdia conta-nos o dia a dia
num lar, pela voz de uma idosa, Maria Alberta, que não cabe nos lugares comuns ou certos em
que habitualmente encaixamos os residentes nos lares. Oscila entre perdas de
memória, conselhos à filha, preocupações com os cuidadores e as amigas e o medo
da noite. O seu universo é constituído pelos cuidadores e responsáveis do lar,
pela filha e pelo genro, e, sobretudo, pelos outros residentes, amigos a prazo,
que a qualquer momento desaparecem numa maca e são rapidamente substituídos por
outros idosos. Curioso é o facto de em pequena escala se verificarem no seu
interior e nas vivências dos residentes, situações e problemas idênticos aos
registadas no exterior, como atos discriminatórios, paixões, coscuvilhice… <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Enquanto lia, interrogava-me se a Autora
teria imaginado tudo isto ou teria conhecido estas histórias através da sua
mãe, a quem dedica o livro, por ter sido ela, Maria dos Remédios, que lhe pediu
que escrevesse esta história. Dedica-o também a Luís Sepúlveda, pois apesar de
não se terem conhecido «estão unidos no tempo das estrelas e cruzam-se no
interior destas páginas».</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">
A relação com os cuidadores, na sua maioria cuidadoras, de
diversas nacionalidades, é determinante no quotidiano dos residentes. E há os
indiferentes, mas também há – e são a maioria – os cuidadores excecionais.
Aqueles que substituem, pela presença e dedicação, os filhos e outros
familiares. E se a vida no lar tem as suas
idiossincrasias e dificuldades, tudo se agrava com a chegada da pandemia. A
descrição deste período é quase arrepiante.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não
resisto a roubar alguns parágrafos dos pensamentos e reflexões de Maria Alberta:<br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> «Eu sei que a felicidade é um
bem muito escasso. Devemos guardá-la sobre o peito quando nos toca por perto,
encher com ela todas as algibeiras da alma, para servir de escudo quando o seu
oposto acontece, por isso não me incomodavam por aí além, estava preparada. As
raparigas alojaram-me na mesa, empurraram-me a cadeira de modo a que o meu peito
ficasse rente à toalha, pariram, não chegaram a dizer-me bom dia. Mas eu
levantei os olhos e senti por perto uma boa fonte de felicidade – a sala estava
repleta, pelas paredes havia enfeites de Páscoa e as minhas companheiras de
mesa saudaram-me. Entreguei todo o meu contentamento a elas.» (pg. 24)</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> «Não é possível dispor de um
objeto secreto onde tudo é visto e revisto, pesquisado e inventariado pelos
olhos dos outros, pois aqui onde me encontro nenhum canto é meu, nenhum objeto
me pertence, até mesmo o meu corpo não é mais um recanto privado da minha alma
como antes era. Só os meus pensamentos me pertencem, só esses não são vigiados,
e ainda assim, há quem tente adivinhar os motivos por que falo ou por que estou
calada.» (pg. 70).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Uma
leitura obrigatória.</span> <br /></p>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-68777995288757861172023-12-12T23:10:00.002+00:002023-12-12T23:10:21.685+00:00A Breve Vida das Flores, Valérie Perrin (Editorial Presença)<p style="text-align: justify;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivce3yUrVKjtvyjhYYhJYeWMMzhp9kAvc4fgfLZbV2SCmocdRS99p-h-OJf2iYXgiyIo9n2390PVRJcobpokfzzzAA4zznV6RDdOudVCgmD63yzixQs-nVWDQbjoIc6tUTSkmA_favzI0gBqb_9cizNiTRwboKWQOXJGCuKOjO57y2NVNOcm-4Xhemv5U/s800/A%20Breve%20Vida%20das%20Flores.webp" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img alt="A Breve Vida das Flores" border="0" data-original-height="800" data-original-width="521" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivce3yUrVKjtvyjhYYhJYeWMMzhp9kAvc4fgfLZbV2SCmocdRS99p-h-OJf2iYXgiyIo9n2390PVRJcobpokfzzzAA4zznV6RDdOudVCgmD63yzixQs-nVWDQbjoIc6tUTSkmA_favzI0gBqb_9cizNiTRwboKWQOXJGCuKOjO57y2NVNOcm-4Xhemv5U/w208-h320/A%20Breve%20Vida%20das%20Flores.webp" title="Valérie Perrin" width="208" /></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;"> Não sei
porque associo férias a leituras mais ligeiras quando deveria ser exatamente o
oposto. Mais tempo livre deveria permitir-me ler livros que a corrida do dia a
dia quase sempre impede. Mas, em regra, estendo a preguiça dos dias de férias aos
livros que leio, exceção feita aos livros cuja ação decorre no local para onde
vou passear. </span>
</p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">
Nestas férias, quando embarquei para Cuba, não levava muitos livros porque para
além de não ter espaço na bagagem, não pensava ter muito tempo para ler. Como
tinha acabado de ler o último livro de Leonardo Padura, <a href="https://www.blogger.com/u/1/"><span style="color: blue;">Como Poeira ao
Vento</span></a>, passado justamente em Havana, levei comigo «A Breve Vida das
Flores», de Valérie Perrin, que me emprestaram.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">
Já tinha ouvido falar dele e tinha alguma curiosidade. Como é referido na
contracapa, a protagonista, Violette Toussaint, é guarda de um cemitério, numa
pequena vila e divide a vida entre a venda das flores, a anotação cuidadosa dos
diferentes funerais e discursos fúnebres, o cuidado com os túmulos e as plantas
do cemitério e a conversa com os coveiros, agentes funerários e um padre.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">
Até que - como era expectável - aparece um homem no cemitério que quer perceber
porque é que a sua mãe pediu para as cinzas serem deixadas na campa de um homem
que ele desconhecia. Conhecer a história desta mulher - através da leitura do
seu diário – leva Violette a também tentar compreender o que aconteceu com a
sua vida e as perdas que sofreu. E não é difícil imaginar como acaba.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">
Não sabia (não sei) se existem guardas de cemitério, cuja função seja manter o
cemitério seguro e conservar os túmulos, porque pensei que essa função seria
dos coveiros. Mesmo nos agradecimentos, a Autora fala no coveiro e no agente
funerário e não menciona nenhum/a guarda de cemitério. Se existe ou existiu
tenho dificuldade em imaginar como uma profissão que, quer no caso de Violette,
quer no caso do seu antecessor, era exercida por pessoas que tinham tido perdas
dramáticas nas suas vidas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">
Surpreendeu-me (e irritou-me um pouco até, confesso) a referência recorrente a ofertas
de bonecas com trajes típicos portugueses, trazidos anualmente por uma
portuguesa. As bonecas são sempre descritas como «horrorosas», com olhos que
abrem e fecham e que Violette tenta esconder a todo o tempo. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">
Quer no caso da Violette, quer no caso da mulher que queria as cinzas
espalhadas no túmulo de um desconhecido do filho, as cores assumem um papel
determinante nas respetivas vidas, tornando-as simétricas. A primeira usa roupa
colorida sob robes ou casacos sem cores, a segunda passa a usar cores quando se
apaixona. No caso de Violette, a descrição das cores na casa chega a lembrar a
casa da Barbie: «Viu o quarto pintado de novo, o tapete azul celeste, uma
colcha rosa-pálido, um verde-amêndoa nos cortinados e nas cortinas. Um creme
para as mãos sobre a mesa de cabeceira branca.»</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT; mso-font-kerning: 0pt; mso-ligatures: none;">
A Breve Vida das Flores passa-se em épocas distintas, com personagens diferentes
como se fosse um puzzle cujas peças fossemos encaixando até vermos a imagem
completa. E nesse aspeto está conseguido, cruzando as diversas vidas e
histórias das diferentes personagens. </span></p>
Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-7970562909514828142023-11-14T23:30:00.001+00:002023-11-14T23:30:36.686+00:00Aimez-vous Brahms.., Françoise Sagan (Le Livre de Poche)<p style="text-align: justify;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg04Mote-U7r5VGeHn2GxCCepIiWqHJdE01uO0M0VxzW4WrEClxdIkMQvOCarMCW_0erL4CI1PF-GbFhYXIaliCsEHqbGNJn6H9_bvcjy-JbPC5FjJAFeNYEVUQ478z_DBs-jdVMleVsocqeaOvDptwPFafqVxSZCNfccF_A_osIYjR0UL_klzxvjWbBTo/s4032/Aimez%20vous%20Brahms.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg04Mote-U7r5VGeHn2GxCCepIiWqHJdE01uO0M0VxzW4WrEClxdIkMQvOCarMCW_0erL4CI1PF-GbFhYXIaliCsEHqbGNJn6H9_bvcjy-JbPC5FjJAFeNYEVUQ478z_DBs-jdVMleVsocqeaOvDptwPFafqVxSZCNfccF_A_osIYjR0UL_klzxvjWbBTo/s320/Aimez%20vous%20Brahms.jpg" width="240" /></a> Há um cheiro característico dos livros novos e dos
livros velhos. Não são cheiros iguais os de uns e de outros, mas só nessas épocas da vida é
que os livros rescendem. O cheiro dos livros velhos acompanha as folhas
amarelecidas, a pose arqueada e a capa fraturada
ou mesmo rasgada nas pontas. </p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Gosto de ler livros velhos, com capas cuidadas, como a deste romance Aimez-vous Brahms..Gosto de pensar em quem o leu antes de mim. Veio da casa dos meus sogros e passou um período no
congelador, embrulhado em sacos de plástico. Foi esta a receita que me
foi indicada para eliminar traças dos livros, por isso, durante semanas,
em vez de comida tivemos livros no congelador.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Aimez-vous Brahms? é a pergunta que um homem jovem, Simon, faz a Paule, uma mulher mais velha que ele e envolvida numa relação insatisfatória com Roger. Um triângulo amoroso ou um retângulo amoroso, porque Roger mantém também ele uma relação com uma jovem mulher. </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Mas essa pergunta leva Paule a pensar em tudo o que tinha esquecido, todas as questões que tinha deliberadamente evitado. «Amaria ainda outra coisa para além dela própria e da sua existência?»</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Paule divide-se entre os dois homens, um que lhe é completamente dedicado, manifestando a sua paixão de forma quase obsessiva, e o outro, mais velho, com quem mantém um relacionamento há anos, mas que a engana repetidamente, deixando-a com frequência só. Paule termina por escolher ficar com Roger por quem continua apaixonada, embora ele não esteja disposto a alterar o seu comportamento. Se a questão da escolha de uma ou outra relação se mantém atual, bem como o preconceito associado à relação de uma mulher com um homem mais jovem, há partes do romance que evidenciam a passagem do tempo, como a referência ao trabalho das mulheres, quando Paule explica que «mergulhou no mundo complicado e tão dificil, humilhante, das profissões femininas.» </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Há também um tom desolador, resignado, quanto ao direito das mulheres a partir de uma certa idade procurarem a felicidade, do direito a serem felizes. Paule não procurava encontrar a felicidade, mas apenas guardar o que tinha, uma profissão e um homem, embora com trinta e nove anos não estivesse segura de nenhum.</p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Descobri entretanto - mas ainda não tive oportunidade de ver- que Aimez-vous Brahms foi adaptado ao cinema, com realização de Anatole Litvak, e interpretação de Ingrid Bergman, Yves Montand e Anthony Perkins. O título original do filme é <a href="https://www.youtube.com/watch?v=iebrectLv9M">Goodbye Again</a>. </p>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-7469131674532234902023-11-05T21:09:00.000+00:002023-11-05T21:09:06.678+00:00Um detalhe menor, Adania Shibli (D. Quixote)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZFDe4Ar71NRkXbOCT4WaKBstTGrtOxW7BxCTjYjaTu28AGxJJ-14tKQgWwsqQ742DuZC-iucKqcywoDJhxkBexzR0FMZ4Xy56g0QMm4yQlknWRpmB3Rj5-IBw7cYQB6-v-5kA0tvLtjn8MgLq5OXN3CFQib8vMkM0-WMXG74-URw0G1_ewQABRP6lu_s/s1320/UmDetalheMenor(1).jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1320" data-original-width="884" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZFDe4Ar71NRkXbOCT4WaKBstTGrtOxW7BxCTjYjaTu28AGxJJ-14tKQgWwsqQ742DuZC-iucKqcywoDJhxkBexzR0FMZ4Xy56g0QMm4yQlknWRpmB3Rj5-IBw7cYQB6-v-5kA0tvLtjn8MgLq5OXN3CFQib8vMkM0-WMXG74-URw0G1_ewQABRP6lu_s/s320/UmDetalheMenor(1).jpg" width="214" /></a></div> <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Um
blogue sobre livros não é o espaço certo para debater política e falar sobre
guerras, mas quando os efeitos chegam aos livros e aos autores, a situação é
distinta. Não conhecia esta Autora, Adania Shibli. Ouvi falar dela pela
primeira vez quando li a notícia que a Feira do Livro de Frankfurt tinha
decidido cancelar e adiar indefinidamente a entrega do prémio LiBeraturpreis,
prémio destinado a homenagear escritoras do<i> </i>Sul Global por uma obra
recém-publicada em alemão.<p></p>
<p style="text-align: justify;"> Na sequência deste
adiamento/cancelamento, mais de 350 autores, incluindo alguns que muito aprecio
e respeito, subscreveram uma carta na qual lamentam o sucedido considerando que
a Feira do Livro de Frankfurt tem «responsabilidade de criar espaços para
escritores palestinos compartilharem seus pensamentos, sentimentos e reflexões
sobre literatura nestes tempos terríveis e cruéis, e não de silenciá-los». Eu
diria que esse é o papel da literatura: compartilhar pensamentos, sentimentos e
reflexões. Não podendo deixar de manifestar a minha simpatia com a causa palestina,
sobretudo depois do que se tem passado nestes últimos dias, discordaria do
cancelamento da atribuição do mesmo prémio a autor(a) israelita, pelas
mesmíssimas razões.</p>
<p style="text-align: justify;"> Contudo, e esse será um efeito
não ponderado por quem decidiu cancelar a entrega do prémio, admito que, tal
como aconteceu noutros casos - o mais conhecido dos quais foi o julgamento de
Gustave Flaubert, por causa do seu romance Madame Bovary - o cancelamento tenha
atraído mais interesse e curiosidade sobre a obra de Adania Shibli
Provavelmente os ecos deste Prémio não chegariam a muitos leitores fora da
Alemanha se tivesse sido entregue, mas, tendo sido cancelado, teve um efeito multiplicador.
</p>
<p style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A
história está resumida na contracapa:</p>
<p style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>«No
verão de 1949 – um ano depois da Nabka, a catástrofe que expulsou mais de 700
mil palestinianos das suas terras, e que os israelitas celebram como a Guerra
da Independência -, uma unidade de soldados israelitas, destacada para
patrulhar a fronteira do recém-criado Estado de Israel com o vizinho Egito,
ataca um grupo de beduínos no deserto de Negueve, dizimando-o. Entre as vítimas
encontra-se uma adolescente que sobrevive ao massacre. É capturada e violada e
depois assassinada e enterrada na areia. É a manhã de 13 de agosto de 1949.</p>
<p style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Muitos
anos mais tarde, quase na atualidade, uma jovem mulher em Ramallah descobre
acidentalmente uma breve menção a esse crime brutal. Obcecada com o assunto,
não só devido à natureza macabra do caso, mas também devido ao «detalhe menor»
de ter acontecido precisamente vinte e cinco anos antes de ela nascer, irá
embarcar numa viagem para tentar desvendar alguns dos detalhes que envolvem o
crime.»</p>
<p style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Um
Detalhe Menor está dividido em duas partes, a primeira descreve o que se passou
em 1949, a segunda acompanha a procura da verdade relativa àquele episódio
por uma jovem mulher (escrito na primeira pessoa). Mas se a história nos choca,
o que verdadeiramente nos apanha de surpresa é o sufoco dos habitantes da faixa
de Gaza. Apesar de tudo o que ouvimos, vemos e lemos não conseguimos imaginar:
as zonas A, B, C e D, a necessidade de autorizações para circular, as barreiras
frequentes «É a barreira do medo, cuja origem é o medo da barreira do posto de
controlo.» (pg. 89). E a par disso, a progressiva supressão da presença
palestiniana:</p>
<p style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>«Apesar
disso, não paro de olhar para o mapa israelita aberto sobre o banco ao meu lado,
com medo de me perder nos meandros desta paisagem que incute em mim um forte
sentimento de estranheza depois de uma longa ausência, com todas as mudanças
que ocorreram nesse período e que persistem em confirmar a supressão de toda e
qualquer presença palestiniana: nos nomes de cidades e aldeias escritos nas
placas de indicação, nos edifícios recentes, nos cartazes publicitários
escritos em hebraico, e até nos vastos campos que delimitam o horizonte à minha
direita e à minha esquerda». (pg. 103)</p>
<p style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Como se
pode viver assim?</p>
Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-45591156705065942742023-10-22T11:20:00.002+01:002023-10-22T11:20:07.213+01:00Ventos do Apocalipse, Paulina Chiziane (Caminho)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRwWZD5rO7W7k46VnBGSFnW1w8hOXPNzV87eRUt6DCHAEPi78FLHACnwkPwtl5Ym6FFz19KYnXOcYNXiFZ7VU-Xt6Bo0kQD2pedHw6swimaJYNahx1rejKEfiGIyj5qr7X3pmOyo8UIyVFtHokAzJuw6lcKsIuQWt7JeE1Ti2hJNepX2sHDtV1wF8OheY/s462/Ventos%20do%20Apocalipse.webp" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="462" data-original-width="300" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRwWZD5rO7W7k46VnBGSFnW1w8hOXPNzV87eRUt6DCHAEPi78FLHACnwkPwtl5Ym6FFz19KYnXOcYNXiFZ7VU-Xt6Bo0kQD2pedHw6swimaJYNahx1rejKEfiGIyj5qr7X3pmOyo8UIyVFtHokAzJuw6lcKsIuQWt7JeE1Ti2hJNepX2sHDtV1wF8OheY/s320/Ventos%20do%20Apocalipse.webp" width="208" /></a></div><p style="text-align: justify;"> Li Ventos do Apocalipse numa edição recente que ostenta na capa a indicação que a Autora foi Prémio Camões 2021, mas a 1.ª edição é de 1993, um ano depois do fim da guerra civil de Moçambique, e é fruto dessa vivência terrível. Transmite bem o horror que representa a guerra, sobretudo a civil, na vida das pessoas.</p><p style="text-align: justify;"> Ventos do Apocalipse começa com um prólogo seguindo-se três pequenas histórias. Terríveis todas. «O marido cruel», «Mata que amanhã faremos outro» e «A ambição de Massupai». Histórias de fome, medo, morte, crueldade e ambição. Mas isto são histórias contadas à volta da fogueira, por um avô, a quem pedem histórias bonitas. Porque «<span class="x193iq5w xeuugli x13faqbe x1vvkbs x1xmvt09 x1lliihq x1s928wv xhkezso x1gmr53x x1cpjm7i x1fgarty x1943h6x xudqn12 x3x7a5m x6prxxf xvq8zen xo1l8bm xzsf02u x1yc453h" dir="auto">O povo não tem biblioteca e nem escreve. A sua história, os seus segredos residem na massa cinzenta dos antigos, cada <span><a tabindex="-1"></a></span>cabeça é um capítulo, um livro, uma enciclopédia, uma biblioteca.»</span></p><p style="text-align: justify;"></p><p style="text-align: justify;"> KARINGANA WA KARINGANA (expressão que não consta do glossário e que significa Era uma vez) é então que começa a história, que, como é dito, se repete. «A terra gira e gira, a vida é uma onda, chegou a hora, a história repete-se....</p><p style="text-align: justify;"> Os quatro cavaleiros do Apocalipse descem dos céus - helicópteros? - mas enquanto as forças de combate estão alertas, o povo tem medo e tem fome - «Quem escapa da fome não escapa da guerra; quem escapa da guerra é ameaçado pela fome.» (pg. 61) Mas o povo tem sobretudo sede, porque não chove. Para encontrar água decidem fazer o mbelele (cerimónia da chuva) e purificar a terra e a gente e para isso constituem um tribunal que se estreia com o julgamento das mulheres: «a mulher é a causa de todos os males do mundo; é do seu ventre que nascem os feiticeiros, as prostitutas. É por elas que os homens perdem a razão.» (pg 97)</p><p style="text-align: justify;"> Até que a guerra chega à aldeia, guerra entre irmãos, mais terrível por isso. Mas «com mais violência ou menos violência, uma guerra é sempre uma guerra.». Os sobreviventes partem. Fogem. Na viagem «a noção do tempo e do espaço dilui-se nas trevas, perdeu-se o sentido da distância.» (pg 176) Mas também na viagem se confrontam com o horror, o indizível. </p><p style="text-align: justify;"> Confesso que me custou muito ler partes de Ventos de Apocalipse, ainda para mais coincidindo com as imagens terríveis que são diariamente transmitidas da guerra Israel - Palestina. As populações a fugir, sem acesso a água e comida. E como a dada altura é dito «Nas guerras antigas não se matavam mulheres nem crianças, muito menos os velhos. Os homens de ontem eram mais sérios.» (pg. 145).</p><p style="text-align: justify;"> Mas como refere, a morte do homem é sempre inútil...<br /></p><p style="text-align: justify;"> «Dos veados aproveitou-se a pele e a carne. Da leoa tirou-se a pele. O homem foi simplesmente enterrado, a morte do homem é sempre inútil» (pg. 187) <br /></p> E se no final já não há guerra, continua a fome e o povo da aldeia onde
agora vivem aguarda pela ajuda, que sabem que virá de vários cantos do
mundo. Mas de que desconfia e sabe as consequências em quem dá e em
quem recebe.<br /><p style="text-align: justify;">
«No passado, os grandes homens da Europa em sessões magnas, festins e
banhos de champanhe dividiram o continente negro em grandes e boas
fatias, escravizaram, torturaram, massacraram e deportaram as almas
destas terras. Hoje, gente oriunda das antigas potências colonizadoras
diz que dá a sua mão desinteressada para ajudar os que sofrem.É preciso
acreditar na mudança dos homens, eles sabem disso, mas a sabedoria
popular ensina que filho de peixe é peixe e filho de cobra cobra é. Toda
a gente sabe que, neste mundo cruel, ninguém dá nada em troca de nada.»
(pg. 249) <br /></p><p></p>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-83009864108098655882023-10-03T21:32:00.002+01:002023-10-03T22:11:02.823+01:00Um pais para lá do azul do céu, Susanna Tamaro (Editorial Presença)<div class="separator"><span style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img alt="" height="438" id="id_2c84_2a0e_d49c_a7b9" src="https://lh3.googleusercontent.com/drive-viewer/AK7aPaB8-zViU7HuHccXFsWI4kT36Ns6GSnJ_A7tXKKd7HZvxChqQzzKBf3mXPxYYcy-H8bPSHwAwOoyxOE961vc6aYGRjs-4w=w328-h438" style="height: auto; text-align: left; width: 353px;" title="" tooltip="" width="328" /></span></div><div><span style="text-align: justify;"> Não gostei deste livro.</span><br /><div style="text-align: justify;"> Começo assim esta recensão porque acabo de o pousar e não gosto da sensação de acabar um livro e não sentir já nem que seja um pouquinho de falta dele, das personagens, do universo em que decorre, da escrita...</div><div style="text-align: justify;"> Quando era mais nova, li <i>Tobias e o Anjo</i>, da Susanna Tamaro. Adorei. É um livro lindíssimo, apesar de triste. Reli-o anos mais tarde, nos meus tempos de <i>babysitting</i>: todas as semanas mais um capítulo. Não me recordo se li o mais conhecido da autora, Vai onde te leva o coração. Tenho ideia de ter começado e não ter terminado... assim como aconteceu com este.</div><div style="text-align: justify;"> Foi por <i>Tobias e o Anjo</i>, e pela sinopse apresentada, que, quando uma amiga me enviou o <i>link</i> das promoções da Editorial Presença, há umas semanas, escolhi este como um dos livros a encomendar. Além disso, são quatro contos, por isso podia ir lendo e saboreando cada um deles, nos curtos momentos em que os meus filhotes permitissem.</div><div style="text-align: justify;"> Promete-nos a sinopse que vamos ler quatro contos sobre sofrimento, «<i>num olhar agudo e incisivo sobre comportamentos de xenofobia, desenraizamento social e exclusão a todos os níveis</i>», num livro em que «<i>Tamaro levanta o véu aos problemas da emigração ilegal.</i>»</div><div style="text-align: justify;"> Não foi isso que encontrei.</div><div style="text-align: justify;"> Li, completos, o primeiro e o terceiro contos, <i>«E eu ralado!...»</i> e <i>Salvacion</i>. As coisas acontecem e escalam rapidamente, por vezes sem uma total compreensão do que está de facto a passar-se. Senti, em ambos, que faltava profundidade às personagens e acontecimentos, perguntando-me se seria por serem contos e eu estar mais habituada a romances.</div><div style="text-align: justify;"> Não senti o mesmo nos outros dois, <i>O que diz o vento?</i> e <i>Do céu</i>. Porém não os terminei. Ambos envolvem situações extremas com crianças e deixaram-me angustiada. Fiz algo que é muito raro em mim: folheei até ao fim do conto, para perceber se havia algum sinal de melhoria. Não o encontrei e optei por não me sujeitar ao sofrimento.</div><div style="text-align: justify;"> Dito isto, não posso deixar de louvar a capacidade de escrita da autora: não teria sofrido se não estivesse a sentir-me na história. Será esse o ponto forte. Porém, reitero a abertura desta opinião: não gostei. Não me sinto mais enriquecida por este livro, não pretendo relê-lo e, na realidade, não tenho interesse em mantê-lo na estante.</div><div><br /></div><div style="text-align: center;"><b>***</b></div><div style="text-align: center;"><b><br /></b></div><div style="text-align: center;"><b><a href="https://www.wook.pt/livro/um-pais-para-la-do-azul-do-ceu-susanna-tamaro/47145?a_aid=5ab6572bcf7cf" target="_blank">Quero ler este livro!</a></b></div></div><div style="text-align: center;">(link afiliado)</div>SofiaVargashttp://www.blogger.com/profile/07251316962162518414noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-26689844659385881242023-09-30T22:32:00.004+01:002023-10-01T11:20:16.676+01:00Como poeira ao vento, Leonardo Padura (Porto Editora)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqW7qPUWhIFbPYJwfCCCoOgvf_F7hUq3bNu6FC-T5Bp_6ySA-agmEnzm6zgW7-fNoXFviOHYUyF66lNr_CRT2lyb0S8IxNCOa3fs5QbbxyBQ_TxP4z1Co6MLBb-aHm16oy4AnRXvTbnpvME1biHdYNNszVnzXc3FatWNiCW5cxttz9xZbWYZsbOamfbLw/s464/Como%20poeira%20ao%20vento.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Como poeira ao vento" border="0" data-original-height="464" data-original-width="300" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqW7qPUWhIFbPYJwfCCCoOgvf_F7hUq3bNu6FC-T5Bp_6ySA-agmEnzm6zgW7-fNoXFviOHYUyF66lNr_CRT2lyb0S8IxNCOa3fs5QbbxyBQ_TxP4z1Co6MLBb-aHm16oy4AnRXvTbnpvME1biHdYNNszVnzXc3FatWNiCW5cxttz9xZbWYZsbOamfbLw/w207-h320/Como%20poeira%20ao%20vento.jpg" title="Leonardo Padura" width="207" /></a></div><div style="text-align: justify;"> Um amigo emprestou-me este livro. Depois de insistir que tinha de o
devolver (insistência que compreendo muito bem, porque também a faço
quando empresto um livro de que gosto), disse que depois falaríamos sobre
ele. São pouco mais de 600 páginas que li num ápice, entre Lisboa e
Maputo, porque não conseguia parar de ler.</div><div style="text-align: justify;"> Do Autor, Leonardo Padura, já li outros livros: <a href="https://leiturasemclube.blogspot.com/2015/08/um-passado-perfeito-leonardo-padura.html"><i>Um passado perfeito</i></a>, <a href="https://leiturasemclube.blogspot.com/2019/09/a-transparencia-do-tempo-leonardo.html"><i>A transparência do tempo</i></a> e <a href="https://leiturasemclube.blogspot.com/2016/01/o-homem-que-gostava-de-caes-leonardo_17.html"><i>O homem que gostava de cães</i></a>.
Os dois primeiros são policiais, e em ambos pontifica a figura de Mario
Conde. Mas como escrevi na recensão de <i><a href="https://leiturasemclube.blogspot.com/2019/09/a-transparencia-do-tempo-leonardo.html">A transparência do tempo</a></i>: «<i>é a complexidade das personagens, a atualidade dos temas ainda
que mesclados com temas históricos, a partilha de reflexões e de
algumas perplexidades que justificam o interesse das obras deste autor,
sejam policiais, como </i><a href="https://leiturasemclube.blogspot.com/2015/08/um-passado-perfeito-leonardo-padura.html" target="_blank">Um passado perfeito</a><i> ou romances como </i><a href="https://leiturasemclube.blogspot.com/2016/01/o-homem-que-gostava-de-caes-leonardo_17.html" target="_blank">O homem que gostava de cães</a><a href="https://leiturasemclube.blogspot.com/2016/01/o-homem-que-gostava-de-caes-leonardo_17.html" style="font-style: italic;" target="_blank">.</a>» A estas obras podia acrescentar <i>Como poeira ao vento</i>. Não é apenas por a geografia das suas histórias passar sempre por Cuba que reconhecemos as obras de Leonardo Padura.</div><div style="text-align: justify;"> Apesar disso, a sensação que tive enquanto lia <i>Como poeira ao vento</i> é que estava
perante uma outra versão de <i>Os amigos de Alex</i> (filme de Lawrence Kasdan,
de 1983). Neste romance, a morte de um elemento do grupo de amigos, o
Clã, como se designavam, desfaz o grupo que se volta a reencontrar - não na sua
totalidade - muitos anos depois, para se despedirem de outro amigo. Mas
dizer isto é reduzir de uma forma muito simplista a vertigem que nos
arrasta desde o início de <i>Como poeira ao vento</i> até às últimas páginas. É
também sobre Cuba e a escolha e as consequências de
ficar ou partir, sobre o amor, sobre crime, sobre amizade e sobre uma geração que é também a minha. E que identificamos pela época que vivemos e pelas músicas que ouvimos, como <i>Dust in the wind.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> </i><i> </i>Leonardo Padura vive ainda e sempre em Cuba, onde é um escritor reconhecido e premiado, mas em <i>Como poeira ao vento</i> dá-nos um retrato dramático do dia a dia dos cubanos<i>:</i></div><div style="text-align: justify;"><i><br /></i></div><div style="text-align: justify;"><i> </i>«<i>(...) Esses que, como num filme de Bunuel, Clara via a lutarem por um pacote de bolachas de baixa qualidade mas a preços reduzidos, que contavam os tostões para acederem a um saco de pescoços e de patas de frango para conseguirem ingerir algumas proteínas, ou a uns cubos de caldo concentrados para darem algum sabor a arroz. Aqueles que levavam esparguete todo partido, feito com farinhas de baixa qualidade, tirado de um saco enorme e vendido aos punhados, esses esparguete que nos dias melhores cozinhavam com uma carne picada de cheiro e sabor indistintos. E mais abaixo, aqueles que viviam em barracas com telhados de zinco ou de lona, sem saneamento público, como os que vira em terrenos dos arredores da cidade, relativamente perto da sua caasa, e que lhe recordavam os sonhos e os discursos dos tempos do romantismo, dos anos de credulidade nos planos para o futuro, repetidos por pessoas como os seus pais arquitetos, com as promessas habituais de habitações dignas para todos como parte do inevitável futuro melhor, prometido ou em construção. Ou ela e todos eles teriam ouvido mal? Alguém via aquela realidade? Alguém reparava que entre os mais atingidos havia mais negros do que brancos? Não, rectificou, alguém podia dizer que não via?</i>» (pg. 545)</div><div style="text-align: justify;"><i><br /></i></div><div style="text-align: justify;"><i> </i> Um retrato duro, difícil, de um país e de uma geração. Ao mesmo tempo uma história de um crime e várias histórias de amores e desamores. Leonardo Padura no seu melhor.<br /></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: center;"><b>***</b></div><div style="text-align: center;"><b><br /></b></div><div style="text-align: center;"><b><a href="https://www.wook.pt/livro/como-poeira-ao-vento-leonardo-padura/25513998?a_aid=5ab6572bcf7cf">Quero ler este livro!</a></b></div><div style="text-align: center;">(link afiliado)</div><div><p></p></div>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-34028626625342634992023-09-21T09:51:00.001+01:002023-09-21T09:51:05.169+01:00Os livros que não comentei<div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3n0nRx2w4kOP3TRvM9ZhhImhCiFag5IumhR8hFMXcj87dcleguc58lWNdSy5ZEITm62LEtU4Dl03Zhjg5O2020BQk1SacVsca2XUoD8PL9-fKEXPG0hUokTLKv0YTBvvtM5EZbIs2pEFPRMJGdPbl-0Ngj7FTyvz6lGIrC3hZhn0MTjgKKoNGYmG7IGqW/s1280/Livros%20Blog.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="960" height="276" id="id_27e8_9a8b_b456_a74b" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3n0nRx2w4kOP3TRvM9ZhhImhCiFag5IumhR8hFMXcj87dcleguc58lWNdSy5ZEITm62LEtU4Dl03Zhjg5O2020BQk1SacVsca2XUoD8PL9-fKEXPG0hUokTLKv0YTBvvtM5EZbIs2pEFPRMJGdPbl-0Ngj7FTyvz6lGIrC3hZhn0MTjgKKoNGYmG7IGqW/w207-h276/Livros%20Blog.jpg" style="height: auto; width: 207px;" width="207" /></a></div> Nos últimos anos, tenho vindo a encontrar-me, a construir a minha família e a descobrir a minha vocação. Tem sido incrível! E tem exigido todo o meu tempo. A leitura vai ficando para segundo, terceiro, quarto planos. Mas continua cá. Já não devoro livros como antes, mas vou saboreando nos momentos de calmaria. </div><div style="text-align: justify;"> Entretanto, a pilha de livros por comentar vai aumentando. Alguns, aguardam crítica já há dois anos. E se me lembro de se gostei ou não, já não me sinto capaz de escrever fielmente sobre eles. </div><div style="text-align: justify;"> Por isso, aqui vai este post, com a foto e um breve comentário sobre os livros que compõem esta pilha, e que já merecem o seu devido repouso na estante (e não a apanhar pó na minha secretária!):</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> 1. <i><b>Pequenos fogos em todo o lado</b></i>, de Celeste Ng (Relógio d'Água) - <b><a href="https://www.wook.pt/livro/pequenos-fogos-em-todo-o-lado-celeste-ng/21892099?a_aid=5ab6572bcf7cf" target="_blank">Quero ler!</a></b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div><i> «Durante toda a vida, aprendera que a paixão, tal como o fogo, era uma coisa perigosa. Facilmente se descontrolava. (...) Era melhor controlar a sua centelha (...). </i></div><div><i> Esta filosofia guiara-a ao longo de toda a sua vida, e ela sempre sentira que a ajudara muito. Claro que tivera de abdicar de uma ou outra coisa. (...) As regras existiam por algum motivo: se as seguíssemos, as coisas corriam bem; caso contrário, podíamos incendiar o mundo.</i></div><div><i> Mas depois havia Mia (...). A interferir nas vidas das outras pessoas com as suas mãos sujas. A causar problemas. A espalhar centelhas inconscientemente. A Sra. Richardson fervia de raiva, e, dentro dela a partícula quente de fúria que guardara cuidadosamente começou a arder.» </i></div><div><br /></div></div><div style="text-align: justify;"> Li este livro no princípio do ano passado. </div><div style="text-align: justify;"> Já o queria ler há algum tempo - o título chamava-me, a capa chamava-me, o resumo na contracapa também.</div><div style="text-align: justify;"> Lembro-me, até, de que foi um pedido especial que fiz para me trazerem na primeira Feira do Livro de Lisboa, depois de o meu filho nascer!</div><div style="text-align: justify;"> Lê-se bem, mas não achei um livro espetacular, e o fim estragou-o, para mim. Foi um daqueles fins apressados, em total contraste com o restante livro, como se a autora se tivesse fartado de escrever.</div><div style="text-align: justify;"> Pior ainda é a serie, da Prime, em que as personagens são completamente diferentes (e muito mais desinteressantes) das do romance. É uma pena, porque são bons atores e o romance tinha um excelente potencial para ser passado para série. No entanto, a versão televisiva é muito mais aborrecida e cliché, e ao fim de dois episódios desisti de assistir.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> 2. <b><i>Antes que o café arrefeça,</i></b> de Toshikazu Kawaguchi (Editorial Presença) - <b><a href="https://www.wook.pt/livro/antes-que-o-cafe-arrefeca-toshikazu-kawaguchi/24704577?a_aid=5ab6572bcf7cf" target="_blank">Quero ler!</a></b></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><i> «- Como é que foi? - Ao ouvir estas palavras, Fumiko teve finalmente a certeza de ter viajado no tempo. Havia regressado àquele dia uma semana antes. Mas se o tivesse...</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Portanto, estou aqui a pensar...</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Sim?</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - O presente não muda, certo?</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Exato.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Mas então e as coisas que acontecem mais tarde? (...) Daqui em diante... então e quanto ao futuro?</i></div><div style="text-align: justify;"><i> (...)</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Bom, como o futuro ainda não aconteceu, acho que isso fica por sua conta.. - disse, sorrindo pela primeira vez.»</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> Este livro é mágico.</div><div style="text-align: justify;"> Um pequeno café onde é possível viajar no tempo, permite a diferentes personagens reviverem episódios do seu passado. Mas as regras são muitas, e dissuadem a maioria de se aventurar nessas viagens.</div><div style="text-align: justify;"> Cada história é um pequeno conto, mas todas estão interligadas.</div><div style="text-align: justify;"> Gostei imenso de o ler, e agora só me falta tempo para ler os dois que se lhe seguiram.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> 3. <i><b>Acusação</b></i>, de Caitlin Wahrer (Topseller) - <b><a href="https://www.wook.pt/livro/acusacao-caitlin-wahrer/26677174?a_aid=5ab6572bcf7cf" target="_blank">Quero ler!</a></b></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><i> «Por aquela altura, Rice já estava envolvido na investigação há umas 20 horas. Até esse momento, tinham sido 20 horas de fealdade. Nada mais além do mal que apenas o homem sabe fazer.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> Ele tinha visto a vítima no hospital, na noite anterior, um homem ainda jovem chamado Nick Hall. Hesitara em considerá-lo sequer um homem. Nick tinha 20 anos, é certo, mas devia estar ainda na parte final da sua adolescência. Em vez disso, o seu olhar era o de quem tinha despertado naquela manhã apenas para se encontrar ajoelhado num lugar que não reconhecia, arrancado à força da sua inocência.»</i></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"> Este romance policial trouxe-me de volta aquela sensação maravilhosa de não conseguir pousar. Mesmo com um filho pequeno e a mudar de casa, li-o em menos de 2 semanas - um recorde considerável para quem mal tem tempo de ler, no geral. </div><div style="text-align: justify;"> Cada capítulo traz-nos a continuação da história sob a perspetiva de uma personagem diferente (estrutura de que gosto bastante). </div><div style="text-align: justify;"> Trata-se de um caso de agressão sexual e das ramificações que a mesma enceta não só na vida de quem a sofre mas de todos aqueles que os rodeiam.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> 4. <b><i>Carta à minha filha</i></b>, de Maya Angelou (Lua de Papel) - <b><a href="https://www.wook.pt/livro/carta-a-minha-filha-maya-angelou/22791115?a_aid=5ab6572bcf7cf" target="_blank">Quero ler!</a></b></div><div style="text-align: justify;"><b><br /></b></div><div style="text-align: justify;"><i> «A minha vida já vai longa e, na minha convicção de que a vida ama quem a vive, atrevi-me a tentar muitas coisas, por vezes com receio, mas também com ousadia. Só incluí neste livro os acontecimentos e as lições que me pareceram úteis. Não te disse como utilizei as soluções, porque sei que és inteligente, criativa, expedita e que as utilizarás como achares melhor.»</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b> </b>O mais recente que terminei de ler.</div><div style="text-align: justify;"> Trata-se de uma coletânea de curtos episódios que marcaram a vida da escritora, dos quais ela tirou algum tipo de lição. Conta-nos (a todas as "suas" filhas) esses episódios, sublinhando as lições que nos deixa como mensagens para nos tornarmos melhores, assim como o mundo, à nossa passagem. Algumas delas, guardei-as comigo.</div><div style="text-align: justify;"> É um livro que se lê bem, um bocadinho de cada vez (ideal para estes tempos de pós-parto).</div></div>SofiaVargashttp://www.blogger.com/profile/07251316962162518414noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-38307897661548718582023-09-09T22:58:00.007+01:002023-09-19T11:06:06.744+01:00Narciso e Goldmund, Herman Hesse (D. Quixote)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJN5WWO1Fok1W-RQPQIpDFXXKc8gut_YOe41ph6P6Lt8KlB7hbLt3TRXAHN21YZd-qYM23bt3mkxFllvv20NwYDIwVnWHq_s3nMgijCZM8YAQ-PR0LTPgWmWoY0L8emX3HgQbxE2vQRfgBU3sAq54E4RgmGBhP6Ycgapum26pMsCNxksJJtsV9Ndr3HaI/s704/Narciso%20e%20Goldmund.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Narciso e Goldmund" border="0" data-original-height="704" data-original-width="465" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJN5WWO1Fok1W-RQPQIpDFXXKc8gut_YOe41ph6P6Lt8KlB7hbLt3TRXAHN21YZd-qYM23bt3mkxFllvv20NwYDIwVnWHq_s3nMgijCZM8YAQ-PR0LTPgWmWoY0L8emX3HgQbxE2vQRfgBU3sAq54E4RgmGBhP6Ycgapum26pMsCNxksJJtsV9Ndr3HaI/w211-h320/Narciso%20e%20Goldmund.jpg" title="Herman Hesse" width="211" /></a></div><div style="text-align: justify;"> Em vários momentos de Narciso e Goldmund, lembrei-me de Siddartha. Narciso e Goldmund foi publicado em 1930, 8 anos depois de Siddartha. Em ambos os romances, estão presentes a procura, o misticismo e a fé, mas sempre num registo dual, marcado logo pelas distintas opções de ficar e de partir. Ao contrário de Siddartha, em Narciso e Goldmund esta dualidade é assumida por cada um deles. O primeiro escolhe viver no mosteiro, uma vida mística dedicada ao espírito, enquanto Goldmund escolhe a errância, os caminhos sem destino, a procura do prazer.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> <i> «No fundo, toda a existência parecia basear-se na dicotomia, na oposição dos contrários: ou se era homem ou mulher, vagabundo ou pequeno-burguês, guiado pelo intelecto ou pelos sentidos - nunca e em lado algum o inspirar e o expirar, a masculinidade e a feminilidade, a liberdade e a ordem, o instinto e o espírito podiam ser experimentados em simultâneo; sempre se pagava um com a perda do outro e sempre o aspeto que se perdia era tão importante e desejável como o que se ganhava.»</i> (pg. 282)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> Goldmund entra ainda criança no convento. O pai leva-o e deixa-o lá para expiar os pecados da mãe, que os havia deixado. Uma noite é desafiado por outros estudantes a sair, à noite, e conhece uma rapariga. Sente-se atraído por ela o que o perturba. Um dia fala com Narciso e compara-se com ele e este explica-lhe que são diferentes:</div><p></p><p style="text-align: left;"></p><div style="text-align: justify;"><i> «Vou dizer-te hoje uma coisa em que hás de vir a pensar um dia. Digo-te isto: a nossa amizade não tem outro objetivo nem outro sentido que não seja mostrar-te até que ponto somos absolutamente diferentes um do outro!»</i> (pg. 42)</div><div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> E vai-lhe demonstrando a diferença entre os dois:</div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> <i>«A nossa missão não é identificarmo-nos um com o outro, mas sim conhecermo-nos e aprender a ver e respeitar um no outro aquilo que ele de facto é: o seu oposto e complemento.»</i> (pg. 52)<i> «Tu dormes no regaço da mãe, eu velo no deserto. Tu sonhas com raparigas, eu com rapazes.»</i> (pg. 94)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> A vida dos dois é de facto distinta, Narciso permanece no convento ao passo que Goldmund percorre caminhos sem destino, dorme com várias mulheres, sobrevive à peste e depois de ficar deslumbrado por uma escultura que vê numa igreja, decide tornar-se aprendiz do escultor. Algum tempo depois esculpe um S. João com a imagem que retinha do rosto de Narciso. Logo que acaba a peça, decide mais uma vez abandonar tudo e partir. Mas inquieta-se com a morte – a efemeridade da existência - e com o legado que deixará. Retorna depois ao convento de onde sairá mais uma vez, até regressar doente e definitivamente ao convento. Só então abandona a procura pela mãe, pelo rosto da mãe, esperando que ela o receba na morte. «Sem mãe não se pode amar. Sem mãe não se pode morrer.» </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> Narciso e Goldmund é um romance inquietante. </div><div style="text-align: justify;"> Quando fui ver o ano de edição surpreendi-me por ser anterior à II Guerra, porque há um diálogo entre Narciso e Goldmund sobre o assassínio de judeus: </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> <i> «- Podes imaginar que, em determinados casos, pudesses dar a ordem para o assassínio de judeus, ou pelo menos a tua anuência? (…) </i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Não, eu não daria uma tal ordem. Contudo, não é impensável que tivesse de assistir a tamanha crueldade sem intervir.</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Não a impedirias, então?</i></div><div style="text-align: justify;"><i> - Certamente que não, se não me tivesse sido dado o poder para intervir.»</i> (pg 302)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> Uma antevisão ou era já uma realidade?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><b>***</b></div><div style="text-align: center;"><b><br /></b></div><div style="text-align: center;"><b><a href="https://www.wook.pt/livro/narciso-e-goldmund-hermann-hesse/17651884?a_aid=5ab6572bcf7cf" target="_blank">Quero ler este livro!</a></b></div><p></p>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-11331645251988664592023-08-29T23:33:00.004+01:002023-09-19T11:02:57.448+01:00O Segredo da Livraria de Paris, Lily Graham (Topseller)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQSyxL-r38CRHpr4Euf9OZhmEqe_RoEesW9iutWCfaYTEkciiLr_sQ5SLi8thzFuunN9_lU6mT_HU21KZNT4NcECpkzjXoIaDHilsthK7w9jCp0tYnh6fbMV9NUE-f4Jy-MQ2U0ORM0p2dMX75s9j2qDpea-hMqbPpKqZJT16df1sVG_gz8PKsMiu3C-4/s601/O%20segredo%20da%20Livraria%20de%20Paris.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="O SEgredo da Livraria de Paris" border="0" data-original-height="601" data-original-width="400" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQSyxL-r38CRHpr4Euf9OZhmEqe_RoEesW9iutWCfaYTEkciiLr_sQ5SLi8thzFuunN9_lU6mT_HU21KZNT4NcECpkzjXoIaDHilsthK7w9jCp0tYnh6fbMV9NUE-f4Jy-MQ2U0ORM0p2dMX75s9j2qDpea-hMqbPpKqZJT16df1sVG_gz8PKsMiu3C-4/w213-h320/O%20segredo%20da%20Livraria%20de%20Paris.jpg" title="Lily Graham" width="213" /></a></div><p></p><div style="text-align: justify;"> Li há muitos anos o <i>Silêncio do Mar,</i> de Vercors. Tenho uma péssima memória mesmo para livros e autores, daí que tenha começado a escrever sobre as minhas leituras. Mais do que fazer uma recensão, quero garantir que os livros que li se conservarão de forma vincada na minha memória e, caso esta me falhe, possa resgatá-los do esquecimento pesquisando no blogue.</div><div style="text-align: justify;"> Mas o <i>Silêncio do Mar</i> - <i>Le Silence de la Mer</i>, porque o li nas aulas de francês - ficou gravado em mim, sem que sobre ele tenha escrito ou anotado o que quer que seja. Não me lembro da história detalhadamente, mas recordo que contava a história de um oficial nazi que se instala em casa de uma família francesa (um homem e a sua sobrinha) que manifestam a sua resistência ao invasor através do silêncio. O oficial alemão era um homem culto que justificava a invasão com a união dos povos franceses e alemães que, segundo ele, personificavam a literatura e a música, respetivamente. </div><div style="text-align: justify;"> Foi impossível não lembrar aqueleoutro romance quando comecei a ler <i>O Segredo da Livraria de Paris</i>. Neste caso também um oficial nazi se instala na casa de uma família francesa (pai e filha) que têm na parte da frente da casa uma livraria. Mas fá-lo para evitar que outro oficial alemão abuse da filha do livreiro. O livro começa com uma senhora já de alguma idade que, no comboio, de regresso a Paris, conta a sua história a uma jovem. Cerca de vinte anos depois do fim da guerra havia feito a mesma viagem para descobrir porque é que tinha sido criada por uma prima da mãe e lhe tinham dito que toda a sua família tinha morrido.</div><div style="text-align: justify;"> A estrutura do livro e o próprio título visam criar algum suspense que, parece-me, não foi conseguido porque se percebe logo desde o início quem são os pais da jovem e porque razão foi mandada para fora do país. Depois, ao contrário do Silêncio do Mar que nos confronta com a resistência silenciosa e com um oficial nazi que - segundo me recordo - consegue captar alguma simpatia do leitor, O Segredo da Livraria de Paris é mais simplista nas personagens e menos verosímil na ação. Não parece credível que um médico nazi determine que uma tipografia do exército alemão que se tinha instalado na livraria seja retirada porque estava a provocar algum stress à família...Também não se compreende porque é que decorridos tantos anos depois da guerra o avô não tenha tentado recuperar a neta, até porque esta se encontrava em casa de uma familiar e já não havia perigo de ser maltratada por ser filha de um oficial nazi e gerada durante a ocupação.</div><div style="text-align: justify;"> O tema é apaixonante. Como a autora explica, a história foi inspirada numa notícia que leu com o título "França reconhece finalmente os seus filhos da guerra", mas merecia uma outra história.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><b>***</b></div><div style="text-align: center;"><b><br /></b></div><div style="text-align: center;"><b><a href="https://www.wook.pt/livro/o-segredo-da-livraria-de-paris-lily-graham/27032279?a_aid=5ab6572bcf7cf" target="_blank">Quero ler este livro!</a></b></div>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-31926842761771038402023-08-11T23:03:00.005+01:002023-09-19T11:18:14.646+01:00Lenços pretos, chapéus de palha e brincos de ouro, Susana Moreira Marques (Companhia das Letras)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUKrBirnt9UGzD9ArqSkiNED9pIQsdMHYykcg2OSZ2ujHPQ4AuX2o992yoa1m7LPUwqVGT-jmZLAmjWlS54OcLrjPiP65Isrk9W_s29_TpPer0iXs5qAy8N_tyOE34Npbn2CwBRC9QPLXBvdmMS_C29WB2tX-ZazQS-yMsBsSyCwyEhE_rAYUbgyS4XlU/s4032/Len%C3%A7os%20pretos,%20chap%C3%A9s%20de%20palha%20e%20brincos%20de%20ouro.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUKrBirnt9UGzD9ArqSkiNED9pIQsdMHYykcg2OSZ2ujHPQ4AuX2o992yoa1m7LPUwqVGT-jmZLAmjWlS54OcLrjPiP65Isrk9W_s29_TpPer0iXs5qAy8N_tyOE34Npbn2CwBRC9QPLXBvdmMS_C29WB2tX-ZazQS-yMsBsSyCwyEhE_rAYUbgyS4XlU/s320/Len%C3%A7os%20pretos,%20chap%C3%A9s%20de%20palha%20e%20brincos%20de%20ouro.jpg" width="240" /></a></div><div style="text-align: justify;"> Tenho <i>As Mulheres do meu País</i>, numa edição<i> fac simile</i>, da Caminho, de 2002, que me foi oferecido pela minha mãe, mas lembro-me deste livro desde sempre, em casa dos meus pais.</div><div><div style="text-align: justify;"> Confesso que ainda acalento a esperança de um dia (quando me reformar?) fazer o mesmo percurso que levou Maria Lamas a percorrer o país para conhecer, «<i>em todos os seus aspetos, a vida da mulher portuguesa» </i>(nota inicial d'A<i>s Mulheres do meu País)</i>: a camponesa, a mulher do mar, a operária, a empregada e a doméstica. Foi isso que fez Susana Moreira Marques, juntamente com Marta Pessoa, que quis filmar o livro e fazer uma viagem semelhante. O filme - que não vi (onde o poderei encontrar?) - tem também um título lindíssimo: <i>Um nome para o que sou</i>. Desta viagem e da pesquisa que efetuou para fazer o texto para o filme nasceu também este livro.</div><div style="text-align: justify;"> Fico feliz por não o classificar. Em regra, não o sei fazer, mas este é um livro inclassificável, que não pode ser simplesmente catalogado e arrumado numa estante de um biblioteca. Penso que, ao contrário do que aparece na contracapa, não é um relato de viagem, nem um ensaio sobre os textos que as mulheres não escreveram e as vidas que elas não viveram, nem é uma narrativa autobiográfica. São reflexões, notas de leitura, apontamentos da viagem que a autora faz e que a leva não só em busca dos caminhos percorridos pela Maria Lamas e das mulheres - outras mulheres - com quem ela falou, mas também ao encontro da sua própria avó - que poderia ser uma das mulheres entrevistada -, das filhas e dela própria. Uma viagem no tempo através das mulheres que nos precedem e nos sucedem.</div><div style="text-align: justify;"> Segundo ela, as mulheres com quem agora fala já não precisam que se escrevam livros sobre elas, que possivelmente não vão ler, nem que façam filmes sobre elas, que possivelmente não vão ver ao cinema, (...) precisam apenas de um pouco mais de atenção.</div><div style="text-align: justify;"> Curiosa a forma como acaba:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><i> «A minha filha, como todas as crianças pergunta porquê.»</i></div><i><div style="text-align: justify;"><i> «Porque é que elas não têm sapatos?»</i></div><div style="text-align: justify;"><i> «Porque é que aquela menina tão pequena leva o irmão às costas?»</i></div><div style="text-align: justify;"><i> «Porque é que aquela criança veste roupa de mulher?»</i></div></i></div><div style="text-align: justify;"> «Dou respostas, mas ou são demasiado simplificadas ou pouco convincentes na sua complexidade. Mas não digo que não sei. Que ninguém sabe realmente porque era assim e porque durou tantos longos anos no meu país.»</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> Para além de contar a origem deste livro e roubar algumas partes, mais não consigo fazer. Não é possível escrever sobre Lenços pretos, chapéus de palha e brincos de ouro. Há que o ler. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div style="text-align: center;"><b>***</b></div><b><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;"><b><a href="https://www.wook.pt/livro/lencos-pretos-chapeus-de-palha-e-brincos-de-ouro-susana-moreira-marques/28413146?a_aid=5ab6572bcf7cf" target="_blank">Quero ler este livro!</a></b></div></b></div></div>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-17918945317447298892023-07-31T18:12:00.003+01:002023-09-19T11:32:44.039+01:00Em tudo havia beleza (Ordesa), Manuel Vilas (Alfaguara)<p align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgP8kDJkAGnGZw3cdSKAgciMI3hPA9gO_RWF9K0vyB37CDwqDE76EWDONFtgAQER-chp5rjXByblQn2t8xghZodlAtg2n5stKTdhRHKTtdRIrg5tIiO-IXaP11Fr9z4wkBJTrcWzJ7cT6ZkQyDOYUqaY51iTjMZxk7mxYNhksQX4Q5czxiyCX6BdpYlDm0/s4032/Emtudohaviabeleza.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Em tudo havia beleza" border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgP8kDJkAGnGZw3cdSKAgciMI3hPA9gO_RWF9K0vyB37CDwqDE76EWDONFtgAQER-chp5rjXByblQn2t8xghZodlAtg2n5stKTdhRHKTtdRIrg5tIiO-IXaP11Fr9z4wkBJTrcWzJ7cT6ZkQyDOYUqaY51iTjMZxk7mxYNhksQX4Q5czxiyCX6BdpYlDm0/w240-h320/Emtudohaviabeleza.jpg" title="Manuel Vilas" width="240" /></a></div><div style="text-align: justify;"> Em tudo havia beleza foi um dos poucos livros que comprei na Feira do Livro deste ano. Não conhecia o autor, Manuel Vilas, mas confesso que gostei do título, da capa e da dúvida que a palavra «Ordesa» entre parênteses introduzia. Li, ainda antes de o comprar - na fila para a caixa -, as folhas iniciais que reforçaram a minha vontade de o ler. <br /> É um livro autobiográfico, de balanço, particularmente tocante para quem, como ele, ultrapassou as cinco décadas de vida: <br /><br /> <i>«O passado de qualquer homem ou mulher com mais de cinquenta anos transforma-se num enigma. É impossível resolvê-lo. Resta apenas apaixonarmo-nos pelo enigma</i>.<i>»</i> (pg. 83) <br /><br /> É nessa altura da vida que, em regra, somos confrontados com a proximidade da morte, mas também com a solidão resultante de várias perdas. Como escreve logo na primeira página: <br /><br /> «<i>(...) Foi então que voltei a pensar no meu pai. Porque pensei que as conversas que tivera com o meu pai eram a única coisa que valia a pena. Regressei a essas conversas, à espera de alcançar um momento de descanso no meio do desvanecimento geral de todas as coisas.»</i><br /><br /> As conversas (memórias) não são apenas com o pai, mas também com a mãe e com todos os familiares que o antecederam e que já morreram, alguns dos quais nem chegou a conhecer. Com a morte dos pais, morrem um pouco os filhos, o passado que só eles testemunharam: </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> <i> «Todo o meu passado se desmoronou quando a minha mãe fez o mesmo que o meu pai: morrer». </i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> Mais à frente escreve: </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> <i>«A morte dos nossos pais é abjeta. É uma declaração de guerra que a realidade nos faz.</i>» (pg. 31) <br /><br /> E é esse passado que quer resgatar como forma de compreender os filhos e, de alguma forma, permitir o desfrutar do presente, apesar da consciência da proximidade da morte e do medo da decrepitude: <br /><br /> <i>«E ninguém quer morrer antes da hora. Pois morrer não tem graça nenhuma e é algo antigo. O desejo de morte é um anacronismo»</i>. (pg. 18) <br /><br /> <i>«Assustam-me os velhos. São o que serei.»</i> (pg. 69) <br /><br /> <i>«A decrepitude não pode ser perdoada. É detestabilidade e fracasso. A consciência da decrepitude, é disso que falo. Quanto maior a consciência que temos da nossa decrepitude, mais nos aproximamos da detestabilidade de Deus.»</i> (pg. 146) <br /><br /> Dizer se gostei ou não de ler este romance é como desfolhar um malmequer: houve partes que gostei muito – de que são testemunhas os vários sublinhados -, outras que gostei menos, sobretudo porque me pareceram redundantes, como se estivesse a ler em círculos. Ele próprio se define como herdeiro do caos narrativo: <br /><br /> <i>«A minha mãe era uma narradora caótica. Eu também o sou. Herdei da minha mãe o caos narrativo»</i> (pg. 23) <br /><br /> Houve até algumas partes que achei menos compreensíveis, como o facto de substituir o nome de todos os familiares pelo nome de um compositor clássico, não justificando porque o faz, nem sequer a escolha de cada um dos nomes, ou o capítulo em que narra o almoço com os reis e faz o elogio da monarquia. Uma irritação mais pessoal tem a ver com o esquecimento que na Península Ibérica existem dois países e não apenas Espanha: <br /><br /> <i>«(…) o espanhol quer que todos os espanhóis morram para ficar sozinho na Península Ibérica, para poder ir a Madrid e não haver lá ninguém, para poder ir a Sevilha e não haver lá ninguém, para poder ir a Barcelona e não haver lá ninguém.»</i> (pg. 208) <br /><br /> Não gostei particularmente do que designa de epílogo e que é composto por diversos poemas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><b>***</b></div><div style="text-align: center;"><b><br /></b></div><div style="text-align: center;"><a href="https://www.wook.pt/livro/em-tudo-havia-beleza-manuel-vilas/22817949?a_aid=5ab6572bcf7cf" target="_blank"><b>Quero ler este livro!</b></a></div><p><style type="text/css">p { line-height: 115%; margin-bottom: 0.25cm; background: transparent }a:link { color: #000080; so-language: zxx; text-decoration: underline }a:visited { color: #800000; so-language: zxx; text-decoration: underline }</style></p>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-89107652491623231242023-07-14T17:39:00.015+01:002023-09-25T12:49:52.577+01:00Satânia, Judith Teixeira (Livro B - E-Primatur)<div><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKu3jf6GahL3QVJKg_iW6I8-tVsmhHvLnLENym8bkzjA6uVRgJS1nGn24IQM71Yh3xDBlTGAHHf-thiRna3NM5h8G61gCwsUkw0MBfvWNUSfQ96Sv8Iecly_1VPzyWmPEAyBokiWnJ3k0LfFD_1Eceq_N_57kYT8yqjQwiajAGUTIj2_B2T0FT89Pswp0/s4032/satania.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img alt="Satânia" border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKu3jf6GahL3QVJKg_iW6I8-tVsmhHvLnLENym8bkzjA6uVRgJS1nGn24IQM71Yh3xDBlTGAHHf-thiRna3NM5h8G61gCwsUkw0MBfvWNUSfQ96Sv8Iecly_1VPzyWmPEAyBokiWnJ3k0LfFD_1Eceq_N_57kYT8yqjQwiajAGUTIj2_B2T0FT89Pswp0/w240-h320/satania.jpg" title="Judith Teixeira" width="240" /></a> Este ano comprei poucos livros na Feira do Livro. Confesso que o meu maior prazer nas edições anteriores era escolher livros já com alguns anos, guardados em caixotes e com preço único. Foi assim que comprei excelentes livros a preços muito acessíveis. Tenho ideia que nos últimos anos há mais editoras, mais grupos editoriais, mais comida, mais lançamentos, mais gente, mas eu sinto saudades da Feira do Livro mais tranquila, menos agitada e menos direcionada para as novidades. </div></div><div style="text-align: justify;"> Independentemente desta nostalgia, própria da idade, há sempre boas descobertas. Uma delas foram os Livros B, da <a href="https://e-primatur.com/">E-Primatur</a>, editora que já conhecia e admiro, pelos projetos que desenvolve e pela qualidade das edições. <br /></div><div><span style="text-align: justify;"> </span>Trouxe comigo estes dois livros, ambos escritos por mulheres. Lembro-me de ter visto há muitos anos o filme <a href="https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwjx98mmh4-AAxVWVqQEHTqTBdQQwqsBegQILRAG&url=https%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3DOa1qWCdSKHo&usg=AOvVaw3FmJHxAtGjqMQW2jiC1XHo&opi=89978449">Metrópolis</a>, de Fritz Lang, de 1927, e de ter ficado deslumbrada pela visão e pelo modernismo do filme, um precursor dos filmes e romances de ficção científica modernos. Não soube então que a autora do romance e do guião era uma mulher, Thea Von Harbou. Segundo a contracapa, o romance foi publicado em 1926 e deu «origem a um guião ao mesmo tempo que Lang ia testando a aplicação estética da história que ia sendo construída.»</div><div><span style="text-align: justify;"> Quanto a Satânia, de Judith Teixeira, surpreendeu-me pelo título e também pelo que li na contracapa da obra:</span></div><div><span style="text-align: justify;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><i> “Todos os livros de Judith Teixeira foram livros malditos. Malditos por uma crítica que considerava «desavergonhadas» as temáticas lésbicas e sensuais presentes na sua escrita, apreendidos, queimados e nunca defendidos pelos seus pares masculinos”.</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> O seu livro <i>Decadência</i>, de poesia, foi apreendido, juntamente com os livros <i>Canções </i>e <i>Sodoma Divinizada</i>, respetivamente, de António Botto e Raul Leal, mas sobre o livro de Judith Teixeira nenhuma voz se fez ouvir. <i>Satânia </i>é o único livro de prosa que a autora escreveu. E é sobre o desejo feminino que fala: <br /><br /><i> «(…) E a natureza, minha querida, sem todos os requintes, sem todos os recortes com que nós a aperfeiçoamos, todo o exotismo com que a nossa sensibilidade lhe vetou a crueza da sua nudez, é um monstro sensual a espreguiçar-se sem beleza e sem fim, numa continuidade reles – sempre igual! Mas é de Deus tudo!… Deus fez o monstro e as lentes da nossa sensibilidade para o olharmos!»</i></div><div style="text-align: justify;"><br /> A edição inclui duas novelas, <i>Satânia </i>e <i>Insaciada </i>e uma Conferência que ela proferiu sobre ela própria <i>«Em que se explicam as minhas razões sobre a VIDA, sobre a ESTÉTICA, sobre a MORAL»</i> e na qual refere:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i> «Ninguém me faz a vida! Sou eu que componho e distribuo aos meus nervos os motivos das suas vibrações. Procuro subir toda a escala do entendimento interrogando-me, vibrando, até que a minha inteligência me esclareça e a minha sensibilidade se estilize.»</i><br /><br /> Uma novela – uma temática – corajosa para a época. Gostei de ler <i>Satânia </i>sobretudo por sentir que participava na reparação de uma injustiça, que não tinha sido exclusiva dos censores, mas também dos autores masculinos seus contemporâneos. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><b>***</b></div><div style="text-align: center;"><b><br /></b></div><div style="text-align: center;"><b><a href="https://www.wook.pt/livro/satania-novelas-judith-teixeira/23083138?a_aid=5ab6572bcf7cf" target="_blank">Quero ler este livro!</a></b></div></div>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-69838532148626675022023-07-05T22:32:00.002+01:002023-09-25T12:57:44.303+01:00O cuco, Camilla Lackberg (Porto Editora)<div style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTm-qLve_1qUfktm8bUoQW3QUvv6NI0yyjgS7Hnv73GYT8sEpeAds6fC--7SvMmGhNoUJH74PEEtQ2DevUlDkWnTkzkvinLAHunxNVIEwz9e0MwKBTCpCnN3_SOLO4jDQVUlz6gK3EAmeafwLbKQUG5n7jpYyxXs3j7IhisowRlA69HqoRy2p1LOcmQgE/s464/O%20cuco.jpeg" style="clear: left; display: inline !important; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: left;"><img alt="O cuco" border="0" data-original-height="464" data-original-width="300" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTm-qLve_1qUfktm8bUoQW3QUvv6NI0yyjgS7Hnv73GYT8sEpeAds6fC--7SvMmGhNoUJH74PEEtQ2DevUlDkWnTkzkvinLAHunxNVIEwz9e0MwKBTCpCnN3_SOLO4jDQVUlz6gK3EAmeafwLbKQUG5n7jpYyxXs3j7IhisowRlA69HqoRy2p1LOcmQgE/w207-h320/O%20cuco.jpeg" title="Camilla Lackberg" width="207" /></a></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: left;"> Ofereceram-me este livro. Não há nada melhor que uma prenda inesperada. Por isso e pelas saudades que tinha de ler um policial, não resisti a começar a lê-lo de imediato.</div></div><div style="text-align: justify;"> Confesso que ficou muito aquém - não direi da minha expetativa - mas do que considero um bom policial, como os os escritos pela Ruth Rendell, que nos prendem logo nas primeiras palavras.</div><div style="text-align: justify;"> Já passaram praticamente 10 anos (tantos?) desde que li os primeiros livros da Camilla Lackberg. O que escrevi sobre <a href="https://www.blogger.com/#">A Sombra da Sereia</a> aplica-se ao que senti quando li este último livro:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i> «O efeito surpresa não existiu desta feita. A narrativa é muito simétrica à do outro livro: um crime acontece na tranquila vila de Fjallbacka, Patrik Hedstrom, inspetor, conduz a investigação e a mulher, a escritora Erica Falk, vai investigando por sua iniciativa e acrescentando peças ao puzzle. A narrativa desdobra-se em dois momentos distintos (...)»</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> Também neste romance policial acontece o mesmo: os crimes ocorridos no presente estão ligados - descobrirá a Camilla - ao homicídio, nos anos 80, de uma mulher trans e do que se crê ser a sua filha. Enquanto acompanhamos a vida quotidiana da sua família, marcada pelo afeto entre todos, em particular entre Erica e Patrik, somos confrontados com a violência das mortes e também da indiferença com que os crimes são perpetrados e, nalguns casos, sentidos.</div><div style="text-align: justify;"> Quando acabei de ler <i>O cuco</i> interroguei-me sobre o título escolhido, mas penso que é uma referência à vertente parasita deste pássaro, dado que é uma situação similar que espoleta a sequência de homicídios. Há nesta história o aproveitamento de um tema da atualidade, ao abordar a morte não investigada de uma mulher trans, que a autora apresenta como uma forma de lhe fazer justiça, mas parece-me pouco credível que mortes ocorridas nos anos 80, apesar das circunstâncias, se sobreponham ao horror do homicídio de duas crianças na atualidade.</div><div style="text-align: justify;"> Lembrei-me da frase de Nietzsche <i>«Beware that, when fighting monsters, you yourself do not become a monster»</i>, na versão de Bono em <a href="https://www.u2songs.com/songs/miss_sarajevo_live_from_milan_u218_singles_video_2005_07_21_701">Miss Sarajevo</a>:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><i> The prayer is that we don’t become a monster</i></div><div style="text-align: justify;"><i> In order to defeat a monster</i></div><div style="text-align: justify;"><i> That’s our prayer tonight</i></div><div style="text-align: justify;"><i><br /></i></div><div style="text-align: justify;"><i> (A prece é que não nos tornemos um monstro</i></div><div style="text-align: justify;"><i> Para derrotar um monstro</i></div><div style="text-align: justify;"><i> É essa a nossa prece esta noite)</i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> Mas n'<i>O cuco</i> há alguma complacência ou aceitação para com o monstro - mais corretamente, os monstros - e pouca reflexão.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><b>***</b></div><div style="text-align: center;"><b><br /></b></div><div style="text-align: center;"><b><a href="https://www.wook.pt/livro/o-cuco-camilla-lackberg/28497788?a_aid=5ab6572bcf7cf" target="_blank">Quero ler este livro!</a></b></div></div><p><style type="text/css">p { line-height: 115%; margin-bottom: 0.25cm; background: transparent }a:link { color: #000080; so-language: zxx; text-decoration: underline }a:visited { color: #800000; so-language: zxx; text-decoration: underline }</style></p>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-14018760170906991222023-06-15T22:58:00.005+01:002023-06-15T23:04:17.547+01:00Os Cães e os Lobos, Irène Némirovsky (Relógio d'Água)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-Gd4nu9bN1bR_B4R3XXxfJipBU0oq_Yy-tOJOPoOJ4WOSdZVQn0IGX24otQInW0wWYlX6iAXpiU-hXOUey8AQd9DjVt7bFzdg3t4NuYP7lU-kJt_cIPOTFYJnJ-TO5MXWjxexjHQSQiVaaR7EBZDct82q8c6Or1TJ6yuxJg7PHyNl5cE8kq4CQL35/s901/O%20C%C3%A3o%20e%20os%20Lobos.png" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Os Cães e os Lobos" border="0" data-original-height="901" data-original-width="571" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-Gd4nu9bN1bR_B4R3XXxfJipBU0oq_Yy-tOJOPoOJ4WOSdZVQn0IGX24otQInW0wWYlX6iAXpiU-hXOUey8AQd9DjVt7bFzdg3t4NuYP7lU-kJt_cIPOTFYJnJ-TO5MXWjxexjHQSQiVaaR7EBZDct82q8c6Or1TJ6yuxJg7PHyNl5cE8kq4CQL35/w203-h320/O%20C%C3%A3o%20e%20os%20Lobos.png" title="Irène Némirovsky" width="203" /></a></div><div style="text-align: justify;"> Antes de falar no romance, tenho de falar na capa de Os Cães e os Lobos, lindíssima, de Carlos César Vasconcelos sobre fotografia de Henri Cartier-Bresson. Da Autora, Irène Némirovsky, só li O Baile, há já muitos anos. Há tantos, que não encontro qualquer referência neste blogue, em que escrevo/descrevo todos os livros que leio desde 2010. Mas, tanto quanto me recordo, são romances próximos em termos dos ambientes e das personagens que os habitam. Ambos muito marcados pelas vivências da Autora, judia, nascida em Kiev, no início do século XX. Em 1917, a família, que vivia em São Petersburgo, foge para Paris, de onde voltará a fugir durante a II Guerra Mundial. Uma estrangeira sempre. Como escreve "(...) ah, eram estrangeiros! Sim, estava tudo dito. Seres errantes, sem raízes, emigrantes, suspeitos." (pg. 101)</div><div style="text-align: justify;"> Ou ainda "Era melhor ter esses laços, múltiplos e delicados ou fortes e sólidos, do que ficar como aquelas mulheres, como ela própria, um ser sem raízes batido pelo vento..." (pg. 184)<br /></div><div><br /></div><div><div style="text-align: justify;"> Ada, a protagonista de Os Cães e os Lobos, é uma judia pobre, órfã de mãe, que vive com o seu pai e avô, a que depois se vem juntar uma tia viúva com dois filhos. Quando foge de um pogrom com o primo, Ben, refugia-se em casa de uns parentes distantes, ricos, e apaixona-se por Harry, o único descendente. Esta paixão vai marcar a vida de ambos, bem como do primo, primeiro em Kiev e, anos mais tarde, em Paris. </div><p></p><p style="text-align: justify;"> Sendo os seres humanos moldados por um conjunto de fatores, de que a religião não é o menos relevante, há uma necessidade constante da Autora de explicar como eram (são?) os judeus. Confesso que em certas passagens, quase que conseguia imaginar o Woody Allen como narrador, como esta:</p><p style="text-align: justify;"> "O pai de Ada ia à Sinagoga de vez em quando, como quem se vai encontrar com um capitalista que, se quisesse, nos poderia ajudar nos negócios ou mesmo tirar-nos da pobreza para resto da vida. No entanto, como tem muitos protegidos, muito pedinchões, e apesar de ser realmente muito rico, muito grande, muito poderoso, não se pode interessar por nós, pobres e humildes criaturas... Contudo, podemos sempre bater-lhe à porta... Porque não? Pode ser que repare em nós..." (pg. 31)<br /></p><p style="text-align: justify;"> Para além da história de Ada, o romance é muito rico na descrição das personagens, das suas atitudes e motivações. Da forma como reagem:<br /></p><p style="text-align: justify;"> "Tinha tido uma educação esmerada e sabia que a dor e o despeito não se deviam exprimir com imprecações ou gritos; no entanto, pertencia a uma classe social inferior à das cunhadas, pois só era rica há duas gerações, e não há três como os Sinner. Ainda não tinha aprendido a revelar o sofrimento como elas o conseguiam fazer, apenas com um tremor dos lábios ou com um gesto altaneiro da cabeça. A cunhada mais velha era muito considerada na família por ter aceitado o golpe recebido pela morte de um irmão muito querido apenas com um único gesto: tinha inclinado a testa, como se estivesse a rezar e, em seguida, levantou os olhos para o céu, expressando assim, sem uma palavra, a sua resignação perante os desígnios da Providência Divina, o seu desgosto sincero e a sua esmerada educação." (pg. 89)</p><p style="text-align: justify;"> O título resulta do facto de Ben, o primo de Ada, e Harry, o familiar distante por quem ela se apaixona, serem muito parecidos fisicamente, mas diferentes em tudo mais: "Como se parecem o cão e o lobo."</p><p style="text-align: justify;"> Um romance inesquecível. <br /></p></div>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-77312103576491683882023-06-08T21:42:00.005+01:002023-06-08T21:46:06.088+01:00Sinfonia em Branco, Adriana Lisboa (Círculo de Lisboa)<p align="justify"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjesmXMm7pt7yICtYB0o6OEa7-uyd3hzXBuxp35MHzH0G5nevH3Xey7kB859TQRMI_gkBWMb-IE92qMpQlJZches4LyScb1Teo3Gi5vFLB0u8fhDqCTY5eXfH0dvnBjtdCJxOarboYC6kkaMgjSamLCjmtxlh8v8OWVTdQZ-AxYyNLGzeDlMaPy0CHS/s432/sinfoniaembranco.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Sinfonia em Branco" border="0" data-original-height="432" data-original-width="275" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjesmXMm7pt7yICtYB0o6OEa7-uyd3hzXBuxp35MHzH0G5nevH3Xey7kB859TQRMI_gkBWMb-IE92qMpQlJZches4LyScb1Teo3Gi5vFLB0u8fhDqCTY5eXfH0dvnBjtdCJxOarboYC6kkaMgjSamLCjmtxlh8v8OWVTdQZ-AxYyNLGzeDlMaPy0CHS/w204-h320/sinfoniaembranco.jpg" title="Adriana Lisboa" width="204" /></a></div> Sinfonia em Branco foi publicado em 2001 e dois anos depois venceu o Prémio Literário José Saramago. Provavelmente terá sido nessa altura que o adquiri. Sei que o comecei a ler mas interrompi a leitura que só retomei agora, vinte anos depois, nesta outra edição que me foi oferecida por uma amiga, leitora compulsiva e amante de livros do "sebo", expressão que aprendemos as duas depois de termos recebido livros "ensebados” de uma amiga comum.<br /><br /> Enquanto o lia tentava perceber porque o tinha abandonado a meio, mas sem sucesso. Desta vez, fiquei presa pela escrita, logo na primeira página: <br /><br /> “O amor era como uma marca pálida deixada por um quadro removido após anos de vida sobre uma mesma parede. O amor produzira um vago intervalo em seu espírito, na transparência dos seus olhos, na pintura envelhecida da sua existência. Um dia, o amor gritara dentro dele, inflamara suas vísceras. Não mais. Mesmo a memória era incerta, fragmentada, pedaços do esqueleto de um monstro pré-histórico enterrados e conservados pelo acaso, impossível recompor um todo íntegro. Trinta anos depois. Duzentos milhões de anos depois.” <br /><br /> Isto quando ainda não sabia de que amor se falava, nem quem eram as personagens em cujas vidas iria mergulhar. Nem que a história estava longe de ser, apenas uma história de amor. <br /><br /> As personagens principais são Clarice e Maria Inês, irmãs, filhas de um fazendeiro, de que pouco sabemos, exceto o que descobrimos através dos olhos ingénuos da filha mais nova. A mãe, Otacília, tenta resolver a situação, sem nunca falar sobre o que aconteceu. Não fala também sobre a desilusão que é o seu casamento, nem da doença que a vai minando por dentro. O silêncio é opressivo: <br /><br /> “E havia aquelas palavras em carne viva que Maria Inês e Clarice nunca trocavam. Seus pais lhes haviam ensinado o silêncio e o segredo. Determinadas realidades não eram dizíveis. Nem mesmo pensáveis. As coisas ali eram regidas por um mecanismo muito particular capaz de apanhar a infelicidade em seu percurso entre vísceras e artérias e fabricar-lhe uma máscara de pedra. Então Maria Inês continuava guardando aquelas palavras sangrentas e cuidando para que doessem o mínimo possível.” (pg. 103) <br /><br /> Com uma escrita poética e uma narrativa não cronológica, vamos acompanhando presente e passado das duas irmãs, até ao momento inicial/final em que ambas se encontram, na fazenda da família. Meninas outra vez, à espera do futuro. <br /><br /> O título Sinfonia em Branco é roubado da obra do pintor norte-americano Whistler, que pintou três Sinfonias em Branco (a capa reproduz a 3.ª), sempre com jovens raparigas pintadas de branco. Virginais. Era desta forma que Tomás, vizinho da tia-avó com quem as irmãs, à vez foram viver, via Maria Inês, ignorando o que tinha visto, ainda menina. <br /><br /> A parte boa de não o ter lido há 20 anos foi tê-lo lido agora.<p><style type="text/css">p { line-height: 115%; margin-bottom: 0.25cm; background: transparent }a:link { color: #000080; so-language: zxx; text-decoration: underline }a:visited { color: #800000; so-language: zxx; text-decoration: underline }</style></p>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-33679364201779599732023-05-21T22:32:00.181+01:002023-05-27T22:45:43.918+01:00Manhã Submersa, Vergílio Ferreira (Sociedade de Expansão Cultural)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLCEQTNHHhHJLeGsFfYyHIVJB0Q1IC3gfqp689dMGwXekZ5MX3mtrW_gMrVWW3E2ZyOA5fOZ-t8ZePA1TrlO9ceoNOyXjbkLdPMljj9KLvAAj4FAELyGWX7Z3ogkkHKqSngw9z16dRfqGdBBrUuCGeUBOPtcXffEwb4hMNuHuZguAn4oE2qW2ZClHR/s640/IMG_4888.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Manhã Submersa" border="0" data-original-height="640" data-original-width="480" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLCEQTNHHhHJLeGsFfYyHIVJB0Q1IC3gfqp689dMGwXekZ5MX3mtrW_gMrVWW3E2ZyOA5fOZ-t8ZePA1TrlO9ceoNOyXjbkLdPMljj9KLvAAj4FAELyGWX7Z3ogkkHKqSngw9z16dRfqGdBBrUuCGeUBOPtcXffEwb4hMNuHuZguAn4oE2qW2ZClHR/w240-h320/IMG_4888.jpg" title="Vergílio Ferreira" width="240" /></a></div><div style="text-align: justify;"> À medida que ia lendo Manhã Submersa ia-me recordando das personagens, dos cenários, do ambiente. Do
horror de um jovem (criança, ainda) estar encerrado num seminário sem
possibilidade de escolha. Do desejo ou sonho que acalentava de um dia ter uma mulher. Da consciência de que
apenas dele dependia a mãe e as irmãs terem uma vida melhor. Do fim da infância:<div style="text-align: justify;">
"Mas em quaisquer circunstâncias, havia sempre, nos meus olhos, um
adeus infeliz para os caminhos da serra, para o pobre cadáver da minha
infância." (pg. 96)</div><div style="text-align: justify;"> Relembrei também a solidão que o acompanhava, a perda do amigo e o acidente que o conduzirá à liberdade.</div> A história de António dos Santos Lopes não foi única ou rara, foi a história de muitos meninos nascidos e criados em meados do século passado, como o próprio Autor. Foi também a história do meu avô paterno, que desistiu de ser padre já homem feito, mas que tinha o seminário marcado nos gestos e nos hábitos. Na dificuldade de expressar afeto. </div><div style="text-align: justify;"> Mas não é apenas sobre a vida dos meninos no seminário que Manhã Submersa fala. Através deles conhecemos a vida nas aldeias do interior, a extrema pobreza, a fome, o analfabetismo, a total ausência de oportunidades. A dependência da Igreja e o servilismo para com as famílias ricas. As mulheres vestidas de negro. As cabeças sempre cobertas de lenços negros. <br /></div><div style="text-align: justify;"> Gostei muito de reler e de redescobrir este romance de Vergílio Ferreira, e a sua escrita expressiva:</div><div style="text-align: justify;"> "Então, abruptamente, precipitou-se sobre mim uma torrente de lama e fiquei submerso. Tinha as mãos cheias de cinza, um terror de vergonha no fundo do coração. E corei, e sorri de lástima e de infâmia. " (pg. 70)</div><div style="text-align: justify;"> Manhã Submersa, escrito durante o fascismo, pode ser lido também como um hino à liberdade ao retratar o seminário como um lugar de prisão e impeditivo da liberdade:</div><div style="text-align: justify;"> "Segue o teu caminho de liberdade a prumo. E que sofras e que roas as pedras do teu destino ruim. Mas é teu, amigo. Pertence-te como os ossos e os dentes. Aguenta de peito aberto, meu irmão. Aguenta e canta, porque valeu bem a pena."(pg. 120)</div><div style="text-align: justify;"> Manhã Submersa foi publicado pela primeira vez em 1954, nesta edição com as extraordinárias ilustrações de António Charrua.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> <a href="https://www.youtube.com/watch?v=CMqpjyBzntU">Manhã submersa </a>foi adaptado ao cinema por Lauro António, em 1980, e talvez seja por causa do filme que a minha memória deste romance é tão visual. O próprio Vergílio Ferreira participou no filme na figura do Reitor do Seminário.</div>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-59407504708831577862023-05-21T22:19:00.005+01:002024-01-02T14:42:02.636+00:00Morrem Mais de Mágoa, Saul Bellow (Quetzal)<p></p><p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPSU9Gg-PNuK2U4QYqHtHitn6dt_jQ7pKcOvlybhGMZLZICS7qKMCd7npuqhDvduL1qdTY_rGCHRgEmec7OFgi_0PGPQOeGi8UJnGdARclDhzzJ5-iOk_n4LW5EWf6mY9Hm3gOvJzRw-d0XUTO9QjqXGhs6wQKbNcy32gO1vofx_773ZgLBhiSyf2m/s470/Morrem%20Mais%20de%20M%C3%A1goa.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="470" data-original-width="300" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPSU9Gg-PNuK2U4QYqHtHitn6dt_jQ7pKcOvlybhGMZLZICS7qKMCd7npuqhDvduL1qdTY_rGCHRgEmec7OFgi_0PGPQOeGi8UJnGdARclDhzzJ5-iOk_n4LW5EWf6mY9Hm3gOvJzRw-d0XUTO9QjqXGhs6wQKbNcy32gO1vofx_773ZgLBhiSyf2m/s320/Morrem%20Mais%20de%20M%C3%A1goa.jpg" width="204" /></a></div><p>
</p><p align="justify"> Morrem Mais de Mágoa é o primeiro romance que li de Saul
Bellow. Na contracapa podemos ler: "As histórias amorosas de um
e de outro, as muitas facetas da relação entre tio e sobrinho, as
longas discussões que mantém sobre os desígnios do amor e do
desejo dão corpo a uma narrativa cheia de humor, inteligência e
sabedoria".</p>
<p align="justify"> Não sei se Saul Bellow nos outros romances
fala também sobre o amor e o desejo na perspetiva masculina, mas
confesso que me surpreendeu por ser incomum. Quanto muito, os autores
masculinos falam de relações amorosas pela voz de personagens
femininas, raramente colocam personagens masculinas a falar de desejo
e sobretudo de amor.</p>
<p align="justify"> Curiosamente, enquanto lia este belíssimo
romance, leio no Público de 12 de maio, na coluna de António
Rodrigues, 4 Esquinas, uma citação de Lúcia Lubarsky, diretora e
guionista do documentário "O silêncio dos homens" ao
diário argentino Página | 12:</p>
<p align="justify"> Acontecia-nos, como companheiras e amigas,
encontrarmo-nos para partilhar confidências, dúvidas, frustrações
sexuais, por exemplo, e perguntarmo-nos onde os homens falariam sobre
estas coisas, com quem; ou se era apenas matéria para a solidão de
uma terapia no melhor dos casos."</p>
<p align="justify"> Morrem Mais de Amor é uma longuissima
conversa de homens sobre amor, desejo e frustrações sexuais. É
narrado na primeira pessoa, por Kenneth Trachtenberg, especialista em
literatura russa que vai viver para os EUA para ficar próximo do
tio, Benn Crader, um botânico famoso, ambos com dificuldades nos
relacionamentos afetivos. O mote é logo dado no princípio quando o
tio fala na lista de sofrimentos que para o fim da vida temos de
preencher, e depois das causas físicas e das injustiças sofridas
aparece o amor: “Se o amor os aflige tanto e se veem devastação
por toda a parte, porque não são sensatos e desistem cedo?”</p>
<p align="justify"> Mas esta é uma questão recorrente: “Não
havia já à sua volta suficientes casamentos falhados, destroços de
amores que, como os <i>Boieng</i>, não foram capazes de ultrapassar
montanhas?” (pg. 63) Algumas explicações, sobre homens e
mulheres, são avançadas para justificar os desencontros e falhas de
amor:
</p>
<p align="justify"> "Quando um homem olha para uma mulher, tem
tendência para se esquecer de que também ele já não é criança.
Não consegue deixar de ter a visão dos dezoito anos” (pg. 99) e</p>
<p align="justify"> “E esta frustração e infelicidade feminina
vai recair duramente sobre os homens, que muitas vezes são
solicitados para lhes resolver a autoestima que eles perderam.”
(pg. 116)
</p>
<p align="justify"> As mais de 400 páginas de Morrem Mais de
Mágoa, que se leem com muito interesse, são as conversas entre tio
e sobrinho sobre as paixões e o casamento do primeiro e o fracasso
do segundo na tentativa de reatar a relação com a mãe da sua
filha. Ambos eruditos, universitários, são, porém, totalmente
incapazes de compreender as mulheres, sentindo-se em muitas situações
acossados por elas. Têm também alguma incapacidade para a gestão
diária das suas vidas, bem como a restante família, o que levou a
que tivessem sido enganados há muitos anos, na venda de um imóvel
onde foi depois construída o maior edifício da cidade.
</p>
<p align="justify"> Nas suas reflexões, autores e obras são
mencionados com frequência, sobretudo autores russos e Balzac, bem
como os riscos da leitura:</p>
<p align="justify"> “Enquanto lemos um livro, e sem darmos por
isso, podemos ser minados por uma febre secreta, envenenados por
detritos tóxicos, ou desconhecermos as tempestades de sentimentos
que existem dentro de nós próprios e que são veladas pelo livro.”
(pg. 59)</p>
<p align="justify"> O título, Morrem Mais de Mágoa, resulta de
uma afirmação feita por Benn Crader, o tio, numa entrevista sobre
os perigos da radioatividade proveniente de Three Mile Island e
Chernobyl:</p>
<p align="justify"> “A mágoa tem matado muitíssima gente.” E
pode seguramente calcular-se que morre mais gente de mágoa do que de
radiações atómicas, mas não existem movimentos de massas nem
manifestações de rua contra ela.” (pg. 251). E mais à frente,
Kenneth justificará esta afirmação dizendo à mãe da sua filha
que “se as pessoas o percebessem e conhecessem melhor os seus
sentimentos, verias então uma verdadeira marcha sobre Washington. A
capital não chegaria para conter tanto desgosto.” (pg. 405)</p>
<p align="justify"> Morrem Mais de Mágoa é um extenso diálogo
sobre o amor e as ilusões e desilusões que causa, e, como é
referido na contracapa, apesar de se tratar de duas pessoas
brilhantes, não se salvam dos erros que todos conhecemos e que
frequentemente cometemos.</p>
<p align="justify"> Saul Bellow recebeu o Prémio Nobel em 1976.
Morrem Mais de Mágoa foi editados em 1987.</p><p align="justify"> Uma belíssima edição e uma excelente tradução de Lucília Filipe. <br /></p>
<p><style type="text/css">p { line-height: 115%; margin-bottom: 0.25cm; background: transparent }a:link { color: #000080; so-language: zxx; text-decoration: underline }a:visited { color: #800000; so-language: zxx; text-decoration: underline }</style></p><p></p><p></p>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8517952872347432338.post-43602326818835289612023-04-22T22:55:00.004+01:002023-04-22T23:02:05.891+01:00Amor, Jorge de Sena (Guerra e Paz)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOPgf8EC4aFYjqpNjV3XhorFHo29BFiXWrROWFVDzy00Vg4k5YOLz1v4G3CNAwbzSfIFc1inJLpsDrjndVxJLky76aBxN3cxUGZNE7kXmhgRQym15VAfOuzsKp36MsvjCQhoprsM4kgzNaOgcsxcJRScK6xn4B8wsf5ZNBZ__Q0qOYjotmCznNOqFL/s3919/amor.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img alt="Amor" border="0" data-original-height="3919" data-original-width="2730" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOPgf8EC4aFYjqpNjV3XhorFHo29BFiXWrROWFVDzy00Vg4k5YOLz1v4G3CNAwbzSfIFc1inJLpsDrjndVxJLky76aBxN3cxUGZNE7kXmhgRQym15VAfOuzsKp36MsvjCQhoprsM4kgzNaOgcsxcJRScK6xn4B8wsf5ZNBZ__Q0qOYjotmCznNOqFL/w223-h320/amor.jpg" title="Jorge de Sena" width="223" /></a></p></div><p>
</p><p align="justify" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm;"> Amor foi-me oferecido por uma amiga, e
serviu para contrariar mais uma vez a ideia do Miguel Esteves
Cardoso, segundo a qual os leitores raramente gostam dos livros que
lhes são oferecidos (Confesso que quando li a crónica, concordei
com ele, e lembrei-me de livros que tenho empilhados na prateleira
mais baixa da estante, que me foram oferecidos, e que nunca passei
das primeiras páginas. Mas todas as regras têm exceções). </p>
<p align="justify" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm;">
Gostei muito de ler esta definição/análise de Amor, que, conforme
explica o Editor, foi escrita há 52 anos para integrar o Grande
Dicionário da Literatura Portuguesa e de Teoria Literária,
concebido por João José Cochofel em 1969. Surpreendeu-me o arrojo
da abordagem sobre o amor que Jorge de Sena divide em duas partes,
numa primeira escreve sobre o amor do ponto de vista antropológico,
filosófico, sociológico e também do ponto de vista das religiões
e, numa segunda parte, sobre o amor na literatura portuguesa:</p>
<p align="justify" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm;">
Começa assim por fazer uma “história” do amor. Refere os tabus
ligados sobretudo ao cristianismo para os quais o ato sexual só
seria legítimo e normal se dirigido para a propagação da espécie;
que interdita o incesto e protege a estabilidade da família (visando
a conservação da propriedade) para concluir que se há “pecado
original” da natureza, “está em ser possível, ou ter sido
possível, estigmatizar-se qualquer aspeto da vida sexual, e tal
estigma ter tido consequências profundas na psicologia individual ou
coletiva.”</p>
<p align="justify" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm;">
Escreve e reflete sobre a transição do matriarcado ao patriarcado e
a consequente ascendência do macho sobre a fêmea, a
consciência da ambiguidade sexual do masculino-feminino e sobre a
pornografia que distingue da obscenidade. Neste ponto, não resisto a
transcrever o que escreve sobre mulheres e pornografia:</p>
<p align="justify" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm;">
“O facto de habitualmente insistir-se em que a mulher é mais
recatada do que o homem nessas matérias não resiste a qualquer
franco relato de uma delas quanto ao que as outras dizem. E se tem
sido observado que à mulher, mais do que ao homem, a pornografia não
interessa, ou que muitas se envergonham de conversas «impróprias»
num grupo misto, isso em grande parte resultará de ela ter assumido
a imagem de um ideal de «pureza» ou de reticência perante o sexo,
que uma moral predominantemente de posse masculina lhe impôs nas
sociedades antigas e modernas, em que tais estruturas tenham
prevalecido.”</p>
<p align="justify" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm;">
Sobre o Amor na literatura portuguesa começa com os cancioneiros e
avança cronologicamente, analisando, a propósito de Bernadim
Ribeiro, a feminilidade da literatura portuguesa apesar da
masculinidade dos seus autores. Apresenta, penso, uma perspetiva
única sobre Camões, a quem reconhece “uma tolerância infinita, um
sentido da liberdade erótica, uma consciência da dignidade última
do prazer sensual qualquer que ele seja, que quase não tem par na
literatura portuguesa, e que raras vezes, no mais profundo sentido,
terá atingido a audácia que tem nele.”</p>
<p align="justify" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm;">
Também a análise que faz da personalidade e da escrita de Sá
Carneiro são (ou foram para mim) absolutamente surpreendentes: "um
menino bem nascido, criado sem mãe e com dinheiro, e que sucumbiu
adolescentemente ao drama burguês de dever dinheiro a prostitutas,
ou de não o ter para as mais caras que desejasse."</p>
<p align="justify" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm;">
Sobre as mulheres escritoras de finais do século XIX e século
XX, e exemplificando com Florbela Espanca, refere que a sociedade
portuguesa admitia que a mulher ascendesse a certa independência,
"mas não aceitava que a mulher fosse sexualmente igual ao
homem".</p>
<p align="justify" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm;"> A forma como termina o verbete sobre o Amor, que Jorge de Sena enviou para publicação em 1971, é uma análise tão certeira do modo de ser
português que não resisto a transcrever integralmente:</p>
<p align="justify" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0cm;"> “Mas sucede que, no amor e no sexo, como em tudo, se requer, menos
do que tempo, <i>espaço</i>, no sentido de dimensão psicossocial da
liberdade erótica – e isso é incompatível com as quatro paredes
da incestuosa aldeia mental que os portugueses transportam consigo
pelo mundo, ou erguem à sua volta no país, e em que a liberdade do
sexo (bem maior que a de outros povos) se reduz a uma espécie de
conivência clandestina. São as duas faces inevitáveis de uma moral
de senhores e de criados, que mutuamente se servem mas não são
servidos, e que ficaram criados, quando deixaram de ser senhores”.</p>
<p> Magistral. <br /></p>Ana Vargashttp://www.blogger.com/profile/09267670114722420123noreply@blogger.com0