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A mostrar mensagens de julho, 2012

No tempo das borboletas, Julia Alvarez (Bertrand Editora)

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    Há mais de dez anos fui a um congresso à República Dominicana. Tive oportunidade de conhecer apenas a capital. O povo dominicano, nos contatos que tive, pareceu-me afável e simpático. Sempre que me identificava como portuguesa invocavam o nome de Luís Figo e de outros jogadores de futebol. Um dia fomos surpreendidos por um indivíduo de uma certa idade, e com ar de sem abrigo, que quando nos identificou como portugueses, gritou Camões. Continuou a andar e passado um pouco, voltou-se para nós e gritou Pessoa. Fernando Pessoa.     Senti-me intimidada. Se a minha incapacidade de citar nomes de jogadores dominicanos era compreensível, já me impressionava o total desconhecimento da literatura e da história daquele país. Esta noção foi corroborada quando, num restaurante, no final da refeição e a propósito de uma moeda, me falaram das irmãs Mirabal, as mariposas, e me perguntaram se não conhecia a história delas. Era uma história tão marcante que Hollywood estava a fazer um filme s

Qualquer coisa de bom, Sveva Casati Modignani (Ed. Asa)

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    A minha filha Sofia ofereceu-me este livro há anos e resolveu lê-lo agora. Após lê-lo recriminou-me por não o ter lido, o que confesso, não me recordo. Também após a leitura resolveu concretizar algumas das receitas que a protagonista vai cozinhando.     Li-o. Não sei se por causa da recriminação se por causa das receitas que tive oportunidade de provar.     É um livro de leitura fácil. Uma história da Cinderela actual, só que o dinheiro não vem do princípe, que traz apenas o estatuto (é um veterinário muito conceituado), mas de uma herança.     Os capítulos são sempre acompanhados da descrição de pratos  e sobretudo de sobremesas que a protagonista vai cozinhando.     Por todo o livro passa a ideia que o dinheiro não só não traz felicidade, como pelo contrário, vem acompanhado de tristeza, doença... em suma, de infelicidade.     Como será que se concluiria a história da protagonista que no final do livro é uma mulher casada e rica?     Não sabemos porque, como acont

E se Obama fosse africano? e outras interinvenções, Mia Couto (Editorial Caminho)o)

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   Mais um livro do Mia Couto, desta feita uma compilação de intervenções com o curioso título de uma delas " e se Obama fosse africano? ".     Não direi o que aconteceria se Obama fosse africano, mas quer esta intervenção, que dá o nome ao livro, quer as outras, são reflexões atuais e espantosas sobre o mundo de hoje, particularmente centradas em África, Moçambique e os moçambicanos. Espantosa a crónica " Os sete sapatos sujos" .    E se de facto a maioria das crónicas nos fazem reflectir sobre a pobreza, a cultura, a língua, a violência contra as mulheres, outras, ou partes de outras, são absolutamente hilariantes, como " o sim do não ". Segundo o autor, em determinadas zonas rurais, perante uma questão que solicite uma resposta dicotómica sim/não, é sempre dito sim. E assim a resposta dada a um inquérito conduzido pela televisão moçambicana que perguntava " Sente que a sua vida está a melhorar?" um cidadão respondeu " Está a melh

Extremamente alto e incrivelmente perto, Jonathan Safran Foer (Quetzal Editores)

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    Li há uns anos este livro, que, segundo me lembro, também me foi recomendado pela Nélia.     Quando saiu o filme fiquei sobretudo curiosa: como seria possível transformar este livro num filme? Receei que o realizador utilizasse os elementos óbvios da narrativa, numa forma demasiado linear: a morte do pai no 11 de Setembro, o isolamento do filho, a dificuldade de comunicação entre mãe e filho...    Mas o filme é um deslumbramento, respeita a narrativa mas recria-a e reconta-a através da magia da imagem. Tenho pena de ter perdido o filme num grande écran e no silêncio de uma sala de cinema (ainda há algumas salas silenciosas, sem pipocas...) mas mesmo no écran reduzido do televisor é um deslumbramento. A procura da fechadura onde caberá a chave que Oskar pensa que o pai lhe deixou, leva-nos numa viagem pelas pessoas e pelas ruas de Nova Iorque ao encontro da familia que lhe resta. Fica aqui o trailer : *** Quero ler este livro!

Os Buddenbrook, Thomas Mann (D. Quixote)

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    No posfácio da edição portuguesa, Gilda Lopes Encarnação, que traduziu o livro e assina o posfácio, pergunta “ Que razões poderão levar um leitor do século XXI a interessar-se por os Buddenbrook, cento e dez anos decorridos sobre a data da sua primeira publicação? Que razões poderão levar um leitor português a interessar-se pela história de uma família burguesa do Norte da Alemanha, pela ascensão e declínio de uma casa comercial fundada numa antiga cidade hanseática, pelas venturas e desventuras de quatro gerações ao longo de quase meio século? ”     Feitas estas perguntas, o posfácio não avança qualquer resposta, limitando-se a sintetizar o livro. Mas estas perguntas impõem-se naturalmente.      A minha primeira resposta é a da qualidade da narrativa e da forma como ciclicamente o autor prende o leitor anunciando e antecipando rupturas ou mudanças significativa na vida dos protagonistas (“ Aproximava-se o ano de 1859 do seu fim, quando algo de terrível aconteceu… ”).