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A mostrar mensagens de setembro, 2012

"Está tudo iluminado", Jonathan Safran Foer (Temas e Debates)

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    Um final de filme visto por acaso chegou para suscitar a minha curiosidade. O nome do autor na ficha técnica do filme avivou ainda mais a curiosidade, que a Nélia, de novo, esclareceu: era um filme baseado no primeiro livro do Jonathan Safran Foer " Está tudo iluminado ".     Um jovem americano decide viajar até à Ucrânia para procurar a mulher que salvou a vida do seu avô. Para o ajudar tem apenas uma fotografia e o que está escrito no verso. Para o auxiliar contrata uma empresa local, familiar, que envia para o acompanhar um jovem - Alexander Perchov - que servirá de tradutor e o seu avô, como motorista e guia. O avô é descrito como retardado, melancólico e cego. Embora o filho não acredite na cegueira arranjou-lhe uma cadela -Sammy Davis, Junior, Junior - , porque uma cadela Guia de Cegos não é só para pessoas cegas mas para pessoas que anseiam pelo negativo da solidão, que também os acompanhará.     Nessa viagem o passado e presente dos três viajantes ir-se-ão cruz

A Leitora Real, Alan Bennett (ASA)

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    A Leitora Real, embora um pequeno livro, é uma imensa declaração de amor aos livros e à leitura. Aos livros e à leitura pelo impacte subversivo que têm na vida das pessoas:" Ler é desordenado, discursivo e permanentemente atraente. Receber instruções encerra um assunto, ler revela-o".     O que aconteceria se a Rainha de Inglaterra, por um acaso (à procura dos seus cães e depois de atravessar a cozinha do Palácio Buckingham) encontrasse uma pequena biblioteca itinerante e um auxiliar de cozinha entretido na leitura de um livro?     E se depois de descobrir as delícias da leitura tivesse vontade de as divulgar, falando com as pessoas que a rodeiam, permanentemente ou circunstancialmente, sobre livros e escritores?     Se por um lado nos deliciamos com o crescente entusiasmo pela leitura e pelo impacte que vai tendo na vida da rainha e de quem a  rodeia, por outro é quase impressionante apercebermo-nos como pode ser intimidante falar de livros com quem não lê (seja

Escritos Secretos, Sebastian Barry (Bertrand)

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    Desde o momento em que comecei a ler este livro que só me apetecia apregoar o quão bem escrito está. Não é um livro para devorar; é um livro para saborear.    Tinha algumas reservas de início pois uma amiga minha já o tinha lido e descreveu-o como "muito estranho". Eu adorei-o e sem dúvida que o recomendo.     Roseanne McNulty, ou Roseanne Clear (nome de solteira) tem cerca de cem anos e encontra-se há mais de cinquenta num hospital psiquiátrico. O Dr. Grene, psiquiatra, é encarregue de avaliar os vários pacientes da instituição para determinar quais deles estão aptos para serem reintegrados na sociedade, contexto da iminente demolição do edifício que está praticamente em ruínas. Apenas os pacientes que, após avaliação, forem considerados inaptos serão transferidos para novas instalações.     Ainda que compreendendo, apenas pelo olhar, o quanto Roseanne sofreu ao longo da sua vida, antes de ser internada, o Dr. Grene nunca antes tentara apurar os motivos do seu i

O Circo dos Sonhos, Erin Morgenstern (Civilização)

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    Mais uma vez o livro chamou-me a atenção pelo título e pela capa. Presumi que fosse algum tipo de romance assim mais negro. E fiquei interessada.     Tenho de admitir que comecei por fica um pouco desiludida quando percebi que tinha o seu misticismo, pois estava à espera de um romance mais para o real.     De qualquer modo, rapidamente fiquei presa. É, sem dúvida, uma história original e está muito bem escrita. Além disso tem uma estética e uma organização diferentes, que também gostei muito.     No início do romance, dois homens (cuja relação não se entende) estabelecem um acordo para começarem um desafio entre duas crianças, cada uma treinada por um deles. Celia é filha de Prospero, um ilusionista (que, na verdade, tem mesmo alguns poderes) de renome, que nasceu já com certas aptidões. Marco é escolhido num orfanato pelo "homem de fato cinzento" e treinado de um modo totalmente distinto, mais académico.     Durante toda a sua juventude são treinado pelos seus

A Dança das Borboletas, Poppy Adams (Porto Editora)

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    Comprei o livro na Feira do Livro de Lisboa deste ano: tanto a capa como o título e chamaram a atenção. Como de costume, li a contracapa, o que aguçou o meu interesse - diz ser uma história entre duas irmão. Separadas durante cerca de quarenta anos, a história começa com Ginny (a irmã mais velha) a espreitar pela janela da mansão da família, aguardando a chegada de Vivien (Vivi).     «Narrada pela voz inesquecível de Ginny, este brilhante romance de estreia descreve-nos o que as famílias são capazes de fazer - especialmente em nome do amor».     O livro está bem escrito mas esta não é a sua essência. Rapidamente percebemos que a narradora sofre de algum tipo de perturbação, ainda que não consigamos imediatamente decifrar se é algo que nasceu com ela ou o resultado de tantos anos em isolamento.     Se nos momentos em que vamos conhecendo a história conturbada da família o romance acaba por nos absorver, grande parte do volume do livro consiste numa descrição exaustiva dos e

O teu rosto será o último, João Ricardo Pedro (LeYa)

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    " Sei por experiência, que quando um livro causa sensação convém esperar um ano antes de tomar conhecimento dele. É surpreendente a quantidade de livros que, ao cabo, nos dispensamos de ler ". Somerset Maugham     Esta frase, lida num livro de contos do Somerset, reforçou a minha convicção de que deveria deixar os livros envelhecer nas prateleiras das livrarias, desaparecer das críticas literárias, para então decidir se os leria ou não.     Mas a minha convicção esboroou-se rapidamente com a leitura das primeiras páginas de "O teu rosto será o último", como já antes vacilara face ao título e à capa, ambos lindíssimos.    Li-o quase obsessivamente, acompanhando o desfile de personagens que acompanham as duas gerações (avô e pai) que antecedem Duarte, o protagonista principal, tendo como cenário a nossa história, desde o Estado Novo até aos nossos dias.      A escrita é fluente e, no geral, quase poética:     "No rosto de Duarte, pensou Luísa,

Um Refúgio para a Vida, Nicholas Sparks (Editorial Presença)

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    Não sou particularmente fã dos livros de Nicholas Sparks, ainda que os considere ótimas receitas para filmes; na verdade, dos poucos livros que li do autor (3 ou 4) este é o único que aconselho.     Por conhecer o estilo e saber que a base dos romances deste autor é um casal jovem que se apaixona e que é atormentado por alguma tragédia do passado, decidi pegar no livro, já há uns anos na miha estante, porque queria uma leitura leve e que falasse de amor.     No entanto, após os primeiros capítulos, o livro consumiu-me totalmente, pelo que me vi forçada a "tirar um dia" do meu estudo para os exames para o ler de fio a pavio.     Ainda que a base se mantenha a mesma, consegui sentir densidade nas personagens e até credibilidade nas suas histórias. Sem querer desvendar o segredo da personagem principal, Katie, vou apenas mencionar que se trata de uma história bastante atual e cujo tema sempre me chamou a atenção.     Além do amor que se vai desenrolando, somos con

O Quarto de Jack, Emma Donoghue (Porto Editora)

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    Este livro tocou-me muito. Não deixo de admirar a autora pela sua capacidade de criar um livro desta dimensão mantendo uma narrativa constante na voz de uma criança de cinco anos.     Não me lembro minimamente dos meus pensamentos quando tinha cinco anos pelo que não posso avaliar a acuidade dos pensamentos de Jack - ainda que, em determinadas alturas, me pareça difícil que uma criança consiga desenvolver alguns dos raciocínios que Jack desenvolve. Independentemente disso, trata-se de uma história comovente sobre o amor de uma mãe pelo seu filho.     Jack e a Mamã estão encarcerados num quarto fechado, à prova de som, apenas com uma pequena clarabóia para permitir a entrada de luz natural. No quarto têm uma cama (que partilham nas noites em que não há visitas do Nick Mafarrico; quando as há, Jack tem de dormir no guarda-fatos), uma mesa, um fogão, um frigorífico, uma televisão, uma sanita, uma banheira...     A história começa quando Jack faz cinco anos e todo o seu mundo é a