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A mostrar mensagens de dezembro, 2012

O pintor debaixo do lava-loiças, Afonso Cruz (Caminho)

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    Existiu mesmo um pintor debaixo do lava-loiças, na casa dos avós do escritor e foi esse o ponto de partida para esta história ficcionada e deslumbrante. Quando comecei a ler, veio-me à ideia Gonçalo M. Tavares, pela escolha da localização da história, mas à medida que fui lendo, tornou-se incontornável a associação ao Principezinho de Saint-Exupery. É-lhe aliás feita referência no título Em 1940 um aviador que pousou em Lisboa haveria de escrever: o essencial não se vê e, de alguma maneira, a descrição que faz da cidade quando o protagonista chega a Lisboa é coincidente com a constante de textos deste autor.    Ao contrário do principezinho, o protagonista desta história está atado à terra e vive os momentos dramáticos da 1ª Guerra Mundial nas tricheiras e o início da 2ª Guerra Mundial, passando por Bratislava, EUA e Portugal.    As personagens, descritas com traços largos, prendem-nos à leitura: a deslumbrante Frantiska, que enuncia regras que mudam todos os dias, o coronel c

Teresa Desqueyroux, François Mauriac (Estúdios Cor)

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   Já tinha lido este livro há muitos anos, nesta edição de 1958 trazida de casa dos meus avós. Lembrava-me vagamente da história: Teresa (o primeiro nome aparece traduzido) regressa a casa depois de ter sido ilibada da tentativa de matar o marido. Foi o testemunho do marido, mais desesperado por recuperar a sua dignidade e não afetar o bom nome da família, que a ilibou do crime que ambos sabem que cometeu.    Mesmo sabendo a história, não deixamos de nos impressionar pela total indiferença e frieza de Teresa por todos, especialmente pela sua pequena filha, de quem o marido a separa após a sua libertação. Compreendemos o desencato de Teresa pelo marido, boçal e materialista, mas não percebemos o que ambiciona, o que deseja, quais são os seus sonhos, com exceção de viver na cidade e ser adulada e admirada.    Mas foi este retrato impiedoso que François Mauriac quis transmitir: Muitos se admirarão de que eu tenha podido imaginar uma criatura ainda mais odiosa que todos os meus outros

Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia, J. Rentes de Carvalho (Quetzal)

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   Andava cheia de vontade de ler um livro deste autor cujo nome entrevi pela primeira vez espreitando a capa do livro que um passageiro do comboio lia, alheado de tudo o resto. Depois li várias referências à sua vida e obra o que aumentou a curiosidade e quando encontrei este livro numa livraria, confesso que não resisti ao  titulo "Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia".    É um livro que reúne um conjunto de contos. E já agora, quando é que os nossos editores começam a incluir a indicação que se trata de um livro de contos, seja na capa, na contracapa ou nas badanas dos livros?    Tenho de confessar que tenho alguma ambiguidade quanto aos livros de contos, por um lado é bom no dia a dia termos pequenos contos para ler, mas por outro lado, há sempre algum desapontamento quando ao fim de algumas páginas somos obrigados a abandonar precocemente as suas personagens.     O facto de desconhecer que se tratava de um livro de contos levou-me a ler os dois primeiros - Um amo