Mensagens

A mostrar mensagens de 2013

O Fiel Jardineiro, John Le Carré (Publicações Dom Quixote)

Imagem
    Um livro magnífico. Li algures que John Le Carré é um excelente contador de histórias e não posso estar mais de acordo, no que toca a esta história em particular.      O romance inicia-se com o assassinato brutal de Tessa Quayle e do seu guia, além do desaparecimento do seu companheiro de viagem e presumível amante, o Dr. Arnold Bluhm. Tessa é casada com Justin Quayle, Primeiro Secretário da Embaixada Britânica no Quénia. O desaparecimento de Bluhm leva a que se assuma ter sido um crime passional, versão em que nem o marido, nem os agentes destacados para o caso acreditam. Justin toma como sua a missão de descobrir os assassinos da mulher, desencadeando todo um processo de descoberta dos trabalhos humanitários de Tessa , dos quais sempre se manteve afastado. A viagem começa na casa de família de Tessa, em Itália, passando pela Alemanha, Suíça e Canadá, e de volta ao Quénia.     Nunca na sua vida Justin fora tão ávido de saber. (...) Preparara-se dia e noite desde que ela m

O pintor de batalhas, Arturo Pérez-Reverte (Edições Asa)

Imagem
    É um livro perturbador, mas que nos impele à leitura (e como eu precisava de um, depois de começar e abandonar vários livros....).      Andrés Faulques, espanhol, fotógrafo de guerra retirado, vive numa torre isolada onde pinta um mural sobre a guerra que não estava destinado a outro público além dele próprio. Pintura de batalhas, fruto das suas memórias impressas nas fotografias que tirou durante trinta anos, mas também das visitas a museus e do estudo a que se dedicou durante anos para se dedicar à pintura daquele mural.     Leva uma vida feita de rotinas e em completo isolamento até ao dia em que se aproxima da torre Ivo Markovic, ex-combatente croata, que ele fotografou ( Você tirou uma fotografia a um soldado com quem se cruzou durante alguns segundos. Um soldado acerca do qual ignorava até o nome. E essa fotografia deu a volta ao mundo. Depois esqueceu-se do soldado anónimo e tirou outras fotografias. ) A fotografia teve repercussões terríveis para o soldado, pelo que,

O Grande Gatsby, F. Scott Fitzgerald (Abril/Controljornal)

Imagem
   Passei por uma crise de leituras em que nenhuma livro me agarrou; quando, numa noite, agarrei num outro e, já deitada, ao fim de duas páginas também o fechei, levantei-me da cama e fiquei parada em frente da minha estante a avaliar os livros que ainda nao tinha lido. Lá, num cantinho, vi dois livros da coleção Novis, biblioteca Visão: O Grande Gatsby e Madame Bovary , dois clássicos que nunca tinha lido. Peguei n' O Grande Gatsby , satisfeita, e comecei a ler. Constraste imediato entre a qualidade de escrita de F. Scott Fitzgerald com a de Marisa de los Santos ("O Amor não espera à Porta"), cujo livro tinha fechado havia cinco minutos, precisamente porque achei que estava tão maravilhosamente escrito como os da Margarida Rebelo Pinto.     Apesar do remake recente do filme, que até já tinha uma certa curiosidade de ver, não conhecia minimamente a história. E apesar de a personagem de Gatsby apenas aparecer no terceiro capítulo, desde logo o livro me prendeu. Está

Barroco Tropical, José Eduardo Agualusa (Dom Quixote)

Imagem
   Barroco tropical, o nome do livro, é o título de uma canção sonhada pelos dois protagonistas/narradores, Kianda e Bartolomeu.O espaço narrativo de cada um, dentro de cada capítulo, é identificado no início, pelo símbolo masculino ( de Marte) e pelo símbolo feminino (de Vénus) o que nos permite ir conhecendo a história através de duas perspetivas distintas.     Dizer que é uma história de amor, tendo como pano de fundo Angola num futuro não muito distante, é redutor. Há um mosaico de personagens que acompanham, convivem com os dois protagonistas principais e que constituem a paisagem da história e lhe conferem densidade. São apresentadas no capítulo 3, depois da apresentação no capítulo anterior das personagens principais. Há ainda o quase diálogo com o leitor, composto por pequenas explicações ou divagações.     E depois há um olhar desiludido pelas várias geografias ( Hoje os europeus têm muita saúde, mas sentem-se mortos. São mortos muitissimo saudáveis. Nós, pelo contrário,

Chocolate, Joanne Harris (Edições Asa)

Imagem
    Decidi reler o livro para poder depois ler a continuação. Fiquei um pouco desapontada. Não me lembro do que achei na altura em que o li pela primeira vez, mas lembro-me de pensar que o filme era uma história distinta e mais pobre. De qualquer forma, agora achei um livro fraquinho, sem passagens espetaculares, com ideias que, mais bem desenvolvidas poderiam ter enriquecido bastante a história A evolução temporal é confusa e pouco realista.         Quando Vianne Rocher e a filha Anouk chegam a Lansquenet-sous-Tannes, a mãe decide fixar-se, finalmente, depois de uma vida a mudar constantemente de cidade e país - hábito que adquiriu da sua mãe, que a viajava, procurando fugir da morte. Na aldeia pequena, decide instalar uma Chocolaterie, e a sua vinda e a sua "estranheza" começam a perturbar as vidas monótonas e estabelecidas, criando tantos amigos como inimigos. Entre os amigos, no entanto, Vianne é querida e muda as suas vidas, oferecendo-lhes sempre um ombro amigo e

A Varanda das Gardénias, Sandra Sabanero (Difel)

Imagem
    É tão bom apaixonarmo-nos por um livro; aquela paixão que nos faz ler em qualquer lugar, sempre que podemos, ao mesmo tempo que vamos medindo o volume de folhas que falta, com receio de nos estarmos a aproximar do fim.     Foi o que me aconteceu ao ler A Varanda das Gardénia. Adorei as personagens, as suas histórias, a narrativa e a sua construção. Ri-me, chorei, indignei-me, ou fiquei apenas embevecida em determinadas passagens. Que mais se pode pedir? É uma história de amores, diversos amores, amores verdadeiros. Amores apaixonados e amores familiares.     Começa com o amor de Magdalena e Juan e a forma como ela fez perder a cabeça a um homem que nunca pensou casar-se. Casam e têm uma filha e, mais tarde, apadrinham um menino - Rebeca e Ezequiel, respetivamente.     Ao fim de alguns anos, Juan é acusado de um crime que não cometeu e após um ano em fuga, acaba por morrer. Magdalena perde temporariamente o juízo com a dor; a filha, Rebeca, vai formar-se para Lugarana, fica

O Herói Discreto, Mario Vargas Llosa (Quetzal)

Imagem
         O Herói Discreto não é seguramente o melhor livro deste autor, mas, como os restantes, está magistralmente escrito.     A ação decorre entre Piura, onde reside o herói discreto, Felicito Yanaqué, e Lima, onde residem Ismael Carrera e Rigoberto, dedicando capitulos alternativos a um e a outros. Felicito é proprietário de uma empresa de transportes, honrando assim a memória do pai que trabalhou incansavelmente para que o filho pudesse estudar e tivesse as oportunidades que ele não teve. Ismael é proprietário de uma companhia de seguros, onde trabalha dedicadamente Rigoberto. Três homens de gerações distintas, mas cuja vida é marcada pelo trabalho e os prazeres adiados ou ignorados ou parcimoniosamente saboreados.      Felicito é casado com uma mulher com quem dormiu esporadicamente quando se encontrava hospedado na casa onde ela trabalhava e cuja mãe, a mandona, acusa de ter engravidado a filha. Para além da mulher, tem uma amante jovem, que ama, e mantém uma relação de

Granta Portugal - 1 (2)

    Outros textos que li e que gostei neste número foram:     "Jazz, rosas e andorinhas" - Afonso Cruz, um conto inteligente e muito bem escrito. Apesar de ter lido apenas um livro deste autor, consegue-se identificar a escrita e certas passagens remetem-nos para aqueleoutro livro ( A música é uma janela, e se nos debruçamos muito caímos lá para dentro e só paramos quando batemos no chão .).     O conto, uma história de amor, tem jazz e rosas e só numa breve passagem andorinhas: Nesta profissão temos uma liberdade diferente do resto das pessoas, não estamos confinados a um "eu". Somos umas macieiras capazes de dar andorinhas. Ou leões...     "Diário de um fumador" - Simon Gray. Gostei deste texto escrito ao ritmo de um diário, por um fumador, em férias, que está à beira de celebrar os 65 anos e com pretextos diversos descreve o que vai vendo ou vivendo ou nos arrasta até ao seu passado. Com subtítulos como O que leio nas férias ou Livros , perco

Granta Portugal - 1 (1)

Imagem
    Só em setembro assinei e recebi o primeiro número da Granta. Gostei muito da edição, da capa, da paginação, dos separadores, das fotografias - de Daniel Blaufuks - e da maioria dos textos. A vantagem de se tratar de uma revista é que, quando não nos apetece ler um texto, basta-nos virar algumas páginas. Sem culpa.     A minha única dúvida foi se o nível se manteria nos próximos númeross. Já recebi a Granta Portugal 2 e esse receio dissipou-se. Algumas notas sobre os textos que li:   "Em busca d'eus desconhecidos" - Dulce Maria Cardoso, sob esse título equívoco, divaga sobre a identidade, a loucura, o coração. Uma sensação cúmplice a abrir, também quando criança desejava - imaginava-me - a fumar. O gesto seduzia-me ou, pensava, seduzia quem o via.     Outra ideia que partilho: adoecer fecha-nos mais sobre nós próprios, tornamo-nos menos capazes de compor as máscaras com que nos escondemos.         "À medida que fomos recuperando a mãe" - Valé

Prémio Nobel da Literatura

Foi hoje anunciada a vencedora do Prémio Nobel da Literatura: Alice Munro, canadiana.  Alice Munro já recebera, em 2009, o Man Booker International Prize, e, segundo li, era há muito uma candidata recorrente ao Nobel da Literatura. Nunca li nada dela, pior ainda, não tenho ideia de ter lido qualquer crítica ou recensão aos seus livros, pelo que foi com surpresa que descobri a quantidade de livros já editados entre nós, pela editora relógio D’Água:  Amada Vida ( Dear Life , 2012), O Progresso do Amor ( The Progress of Love , 1986), O Amor de Uma Boa Mulher ( The Love of a Good Woman , 1998), Fugas ( Runaway , 2004), A Vista de Castle Rock ( The View from Castle Rock , 2006) e Demasiada Felicidade ( Too Much Happiness ). Uma autora a descobrir rapidamente.

A cabana dos peixes que voam, Chiew-Siah Tei (Publicações Europa-América)

Imagem
    Já tinha tentado começar a ler este livro várias vezes, mas nunca tinha passado da primeira folha. Desta vez, li logo várias de seguida, e achei que tinha chegado a altura certa para o ler. Ainda assim demorei bastante tempo. A escrita é simples, um tanto melancólica, mas uma melancolia quase expectável atendendo a que o personagem principal, Mighzi, é obrigado a seguir toda vida as ordens do avô, cuja principal obsessão é não ofender os antepassados. Tenho de admitir que me fascina toda a cultura chinesa, todos os rituais a ela associados - se bem que assim, nos livros; para as mulheres, é muito penosa.    Como previsto pelo Mandarim que lhe dá o nome, Minghzi torna-se, também ele Mandarim, para orgulho do avô, um caminho que trilhou praticamente sem opção, ainda que tivesse como vantagem a possibilidade de fugir da mansão e do domínio do Sr. Chai. É durante os estudos que vai para a sua primeira casa que batiza de A Cabana dos Peixes que Voam, por causa das carpas que lhe faze

O tempo entre costuras, Maria Dueñas (Porto Editora)

Imagem
   Mais um livro recomendado e emprestado pela Nélia. É um livro arrebatador que não apetece parar de ler. Houve momentos em que desejei que a minha viagem diária, no comboio, se arrastasse ou que o comboio se atrasasse, de forma a permitir-me prolongar a leitura.     A ação decorre entre Madrid, Marrocos e Lisboa, no período que antecede a guerra civil de Espanha e a II Guerra Mundial.    Sira, a protagonista, é uma jovem quando a conhecemos, aprendiz de costureira, filha de mãe solteira e noiva de um homem cuja única ambição é conseguir um posto de funcionário público para ambos, a quem uma máquina de escrever arruinou o destino (frase com que se inicia o livro).    Mais por acaso que por convição ou vontade, é recrutada pelos serviços secretos britânicos e passa a viver uma vida dupla, entre ateliers e senhoras da alta sociedade, sobretudo inglesas e alemãs, criando um passado e simulando vivências que não tinha, primeiro em Marrocos, Tetuán, e depois em Madrid.     Ao lo

O Estrangeiro, Albert Camus (Ed. Livros do Brasil)

Imagem
    Andava há muito com vontade de reler este livro. Recordo-me de o ter lido, em simultâneo com outros livros de Albert Camus, tendo este e o Mito de Sísifo marcado-me profundamente. Inolvidável o começo: Hoje, a mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem .     Ao longo da leitura, fui associando Mersault, o personagem principal, a Bartlleby de Melville. Vamos sentindo a mesma inquietação, porque não percebemos as atitudes, as motivações e o percurso de ambos. E os livros são o local certo para acompanharmos personagens por fora e por dentro, para percebermos o que sentem, como sentem, ao mesmo tempo que os acompanhamos nas suas atitudes e ações. Aqui, como em Bartleby, o desassossego resulta do facto de não nos ser dada qualquer chave para o que se passa, embora no caso de O Estrangeiro, com alguma regularidade, o personagem reconheça que é feliz.     O livro está dividido em duas partes, a primeira inicia-se com a morte da mãe e acaba com o assassinato do árabe ( O mar enviou-

Mil dias em Veneza, Marlena de Blasi (Livros d' Hoje)

Imagem
     Fui à Livraria do Viajante para comprar uma prenda para os meus pais que os convencesse a marcar a viagem desejada a Veneza, mas que ia sendo sempre adiada. A minha ideia era comprar um guia que fosse diferente do habitual e foi assim que acabei por comprar o livro Mil dias em Veneza, que ostenta na parte superior da capa a indicação que se trata de "Uma história de amor irresistível - USA Today".     É um excelente livro de férias, mas penso que a sua leitura será mais irresistível se estivermos em Veneza ou a preparar uma viagem a Veneza. Uma história de amor entre uma americana e um veneziano, ambos de meia idade e já sem compromissos familiares  ou profissionais que os prendam a lugares. A dada altura ela pergunta-lhe se ele não preferia tê-la conhecido quando eram jovens e ele responde-lhe que não a teria reconhecido então.     É um livro sem os lugares comuns habituais, pois ela designa-o sempre de o estranho e pouco se fala de paíxão. A serenidade da idade

A irmã de Freud, Goce Smilevski (Alfaguara)

Imagem
    Na contracapa do livro somos confrontados com a questão: «Terá sido Sigmund Freud responsável pela morte da irmã num campo de concentração?». Aparentemente, aquando da invasão Nazi da Áustria, Freud recebeu um visto para poder fugir para Londres, podendo nomear quem iria com ele. Freud assentou 16 nomes, que incluíam o do seu cão, mas deixou para trás as quatro irmãs que viviam na Áustria. É pela voz de Adolfine, com a qual tinha relação até próxima, que nos é contado este episódio, com algumas passagens acusatórias relativamente ao irmão:         No seu sangue, onde não havia lugar para escolhas, ele era judeu. Mas onde as escolhas podiam existir, ele escolhera a cultura alemã. (...) Antes do término da sua vida, afirmou: «A minha língua é o alemã. A minha cultura e os meus êxitos são alemães. A nível intelectual considerei-me alemão até me dar conta da proliferação de preconceitos anti-semitas na Alemanha e na Áustria. Desde então prefiro declarar-me judeu.»     O Sigm

O Chalet das Cotovias, Carlos Ademar (Parsifal)

Imagem
        Foi com pena que virei a última página deste livro. Tenho sempre algum receio dos livros que se baseiam em factos reais, em regra históricos. O fascínio que sentimos ao ler a história que dá origem ao livro, é, frequentemente, reduzido pela envolvente criada pelo autor/a. Como se houvesse receio de inventar personagens e diálogos, adicionando aos factos reais a necessária ficção que lhe dê corpo, substância e credibilidade.     Não é o caso deste livro. Partindo de factos reais, o autor cria uma história, em que quase acreditamos, porque ficção e realidade entrelaçam-se de uma maneira tão perfeita que temos dificuldade em descobrir as fronteiras.       A acção decorre no início dos anos 30, em Portugal. O Estado Novo consolida as suas instituições e vai consolidando a sua acção repressiva. A sociedade (o que atualmente designaríamos de sociedade civil) é atrasada, mesquinha e cheia de preconceitos. A liberdade sentida durante a primeira república é sufocada, a nível fam

A Senhora dos Rios, Philippa Gregory (Civilização Editora)

Imagem
    O terceiro volume sobre a Guerra das Rosas mas que, na verdade, é o primeiro. Este romance termina precisamente no momento em que começa a 'A Rainha Branca' , sendo a história da mãe de Isabel Woodville (depois Isabel Grey e, mais tarde, Isabel Iorque, Rainha da Inglaterra), Jacquetta do Luxemburgo (depois Jacquetta Lencastre, Duquesa de Bedford e, mais tarde, Jacqetta Woodville, Lady Rivers).     A autora escreve, nas suas notas finais:   Passei a minha vida como historiadora de mulheres, do seu lugar na sociedade e da sua luta para alcançar o poder. Quanto mais lia acerca de Jacquetta, mais ela me parecia o tipo de personagem que eu aprecio particularmente: alguém que é ignorada ou negada pelas histórias tradicionais, mas que pode ser descoberta através dos testemunhos. (...) O motivo pelo qual nunca foi estudada constitui um mistério para mim. Mas ela faz parte daquela vasta população de mulheres cujas vidas foram ignoradas pelos historiadores, a favor das dos h

Viver na noite, Dennis Lehane (Sextante Top)

Imagem
   Não sei o que me levou a escolher este livro para leitura primeira das férias. Talvez a atração tenha resultado das saudades que sentia da leitura de policiais, talvez de saber que se trata do mesmo autor de Shutter Island e Mystic River - dois livros que não li, penso que aliás não foram editados em Portugal, mas que deram origem a dois excelentes filmes.    Temporalmente, passa-se entre a grande depressão e o início da segunda guerra e a ação decorre sobretudo na Florida e em Cuba.    O ambiente é o da noite ( A noite - disse Joe. - Sabe demasiado bem. Se vivermos de dia, temos de obedecer às regras deles. Portanto, vivemos da noite e fazemos as nossas regras. ), da lei seca, do Ku Klux Khan, da máfia e dos gangster, mas também da família e do amor. E sobretudo da quase normalidade do dia a dia quando tudo isto é quotidiano. A traição constante convive com a  lealdade de alguns, deixando uma incógnita constante entre as pessoas.    O protagonista principal, filho de políc

The Devil Who Tamed Her, Johanna Lindsey (Corgi Books)

Imagem
   Fiz uma viagem a Espanha e, para regressar, ia fazer uma viagem de dez horas de autocarro, e acabei o livro que tinha comigo ( A Rainha Vermelha ). Infelizmente, não sei ler espanhol, mas precisava de um livro para me entreter na viagem. Na estação de autocarros havia uma banca de livros e uma das filas era constituída por livros em inglês. As opções eram escassas - clássicos que já tinha lido ou tinha em casa, investigações de homicídios ou este livro. O único romance; verdadeiro romance de cordel. Pareceu-me uma leitura simples e agradável para a viagem.      Não é uma boa escrita, certamente nunca receberá prémios ou menções  por isso. É uma leitura simples, um romance também simples. Seguimos Ophelia, a mais bela jovem da Época, que procura marido. No entanto, é extremamente altiva e fria, não tem amigos, e tem uma relação atribulada com o pai, que sente que apenas a usa para subir na sociedade, através de um casamento vantajoso da filha. Seguimos também Raphael que herdará o

A Rainha Vermelha, Philippa Gregory (Civilização Editora)

Imagem
   Este romance consiste, basicamente, no outro lado da Guerra dos Primos. Pensei que seria uma continuação de "A Rainha Branca" mas passa-se no mesmo período, apesar de começar um pouco mais cedo (1453) e terminar com a vitória do que se tornou o Rei Henrique VII.      [Para mais detalhes sobre o período histórico ver o comentário sobre 'A Rainha Branca' ]     Desta vez seguimos Margarida Beauford (nome de solteira), a herdeira da casa Lencastre, extremamente devota, cujo único filho com Edmundo Tudor, o seu primeiro marido (quando tinha apenas 13 anos!), viria a ser Rei Henrique VII, herdeiro das casas de Lencastre e de Tudor.     Considerei-o mais fraco que o anterior, mas, mais uma vez, lê-se bem. São boas leituras para férias.

Rumo ao farol, Virginia Woolf (Relógio d'Agua)

Imagem
   Ler este livro de Virginia Woolf não é tarefa fácil, embora nos deslumbre desde o início. É como seguir a tecitura de uma renda de bilros minuciosamente feita.    O livro, embora tenha como título e ação principal a vontade de rumar ao farol do filho mais novo do casal Ramsay, só concretizada anos mais tarde, acompanhado apenas por uma irmã e pelo pai, por quem nutre um sentimento ambíguo entre a raiva e a admiração, é um livro sobre relações familiares e o papel das mulheres.    Duas mulheres ocupam o palco, Mrs. Ramsay, uma mulher lindissima, casada, mãe de oito filhos e Lily Briscoe uma pintora solteira, amiga da família. Mrs. Ramsay é o centro à volta  do qual tudo gira, os filhos, os amigos, o marido, as empregadas. Dela, nunca saberemos o nome próprio, como se através do casamento o tivesse perdido, sendo incorporada num colectivo, em que só aparentemente ela perdeu a identidade, que mantém através do pensamento e das cartas que redige. (« Vinham estonteadamente ter com e

A Chave para Rebeca, Ken Follett (Bertrand Editora)

Imagem
    Li o livro Rebeca de Daphne du Maurier, há muitos anos e continua a ser um dos meus livros favoritos. Quando li O Paciente Inglês de Michael Ondaatje, achei curiosa a menção ao facto do romance ter sido usado para codificar mensagens alemãs no Egipto, durante a Segunda Guerra Mundial e quando vi que tinha sido escrito um livro sobre o assunto não resisti. Aparentemente o código nunca chegou a ser usado mas é a base deste romance de Ken Follett. Não há outra maneira de o descrever que não seja: "É um livro de espionagem". É um romance muito visual e daria um bom filme de ação. Não li mais nada do autor mas não achei uma escrita espetacular.     Seguimos várias personagens, nomeadamente: Alexander Wolff - também conhecido com Achmed Rahmha -, o espião alemão que chega ao Cairo através do deserto e que está encarregue de descobrir os planos britânicos e de os transmitir de acordo com a chave do código que tem por base o romance Rebeca ; William Vandam, o chefe de segu

O Amante Inénuo e Sentimental, John Le Carré (Pub. Europa-América)

Imagem
    Se me pedissem para descrever este livro numa palavra, diria: Estranho . Em duas? Muito Estranho !     Seguimos Aldo Cassidy, chefe de uma empresa de sucesso de carrinhos para bebés - cuja indústria o próprio revolucionou. Cassidy vive com a mulher, um dos filhos (o outro está num colégio??) e a sogra. Tem um casamento bastante infeliz.     No início da narrativa, desloca-se a Haverdown, uma propriedade que pensa vir a adquirir. Aqui, conhece um casal no mínimo peculiar - Shamus e Helen - com o qual estabelece uma estranha relação, como que para lá da realidade. Os seus encontros são esporádicos  e absolutamente bizarros - Shamus é um escritor perturbado, sempre aplaudido e venerado pela mulher. Cassidy acaba por se envolver sexualmente com cada um deles, em momentos distintos.     No entanto, a narrativa é muito pouco clara, com passagens aparentemente aleatórias, sem acrescento ou relevância para a trama. Ou assim me pareceu.     Demorei a ler mas, de facto, não interr

Prémio Camões

   Mia Couto é o vencedor da 25.ª edição do Prémio Camões (2013) que distingue um autor da literatura portuguesa.    O Prémio Camões foi criado em 1988 por Portugal e pelo Brasil para distinguir um autor de língua portuguesa que, " pelo valor intrínseco da sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum ".        Inquestionavelmente, Mia Couto, o autor e a obra, enquadram-se neste descritivo.    Deixem-me roubar algumas partes da deliciosa entrevista, conduzida por Luís Miguel Queirós, e que foi publicada no Ípsilon de 7 de junho:    Aliás, penso-me pouco como escritor. Os meus melhores momentos na literatura aconteceram quando não fui escritor. A escrita é uma casa que visito mas onde não quero morar com receio que ela me devore.(...)    Eu tenho sempre a ansiedade do próximo romance. Não existe para mim carreira quando se trata de escrita literária:começa-se sempre do zero, desarmado e frágil como um

Manon Lescaut, Abade Prévost (Verbo - Livros RTP)

Imagem
    O primeiro dos romances que trabalharei no curso on-line, Manon Lescaut data de 1731 e é um daqueles romances sobre uma paixão arrebatadora, que ultrapassa os escrúpulos, os valores e, em bom dizer, todo o bom senso. Trata-se do amor entre o Cavaleiro des Grieux e Manon Lescaut, paixão à primeira vista e que maioritariamente parece unilateral, tais são as traições contínuas dela, que não lhe causam a ele mais nada que tortura e situações embarçosas.     O amor tornou-me demasiado afetivo, demasiado apaixonado, demasiado fiel e talvez demasiado complacente para com uma amante tão encantadora, eis os meus crimes.    Mas os crimes dele não são só estes; executa crimes verdadeiros, desde burlas a homicídios, tanto incitados por ela como pela sua paixão por ela.     Amor, amor!(...), não te reconciliarás jamais com a sensatez?     É um livro bonito, com um uma linguagem muito datada.

Madrugada suja, Miguel Sousa Tavares (Clube do Autor SA)

Imagem
  O Joaquim ofereceu-me este livro de surpresa. Comecei a lê-lo de imediato e, devo confessar, que o li compulsivamente. A leitura compulsiva não evita porém que sintamos alguma deceção.    O livro, anunciado como romance, parece escrito por diferentes mãos, como se pode ver nestes excertos:    Porque hoje eu sei que só morrem verdadeiramente aqueles que, depois de mortos, nós conseguimos matar também. E nada é pior do que um morto vivo, habitando lado a lado com os que não morreram e tiveram a coragem de tentar viver para além da morte dos que amavam ( pg 100 ). e    Todos estavam endividados, mas felizes: o Estado, as autarquias, os cidadãos. Todos viviam em casa própria, mas que, de facto pertencia ao banco que lhes emprestara dinheiro a 30 anos e também emprestara para as férias no Brasil, Cuba, República Dominicana, mais o carro e os brinquedos electrónicos dos filhos (pg 203).   A 1ª parte, A aldeia, corresponde à escrita mais romanceada e às personagens com maior