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A mostrar mensagens de março, 2014

Demasiada felicidade, Alice Munro (Relógio d'Água)

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       Estava com imensa curiosidade de ler um livro de Alice Munro, depois da atribuição do Prémio Nobel da Literatura 2013 e consequente divulgação e publicitação da sua obra. Para além do mais, gosto de contos. Bem escritos, conseguem hipnotizar o leitor e abandoná-lo quase imediatamente. A sensação de perda que produzem aumenta a ligação à história que acabámos de ler que assim se perpetua ou permanece mais duradouramente no nosso imaginário. Não partilho da perspectiva que a própria autora curiosamente transmite neste livro, no conto Ficção: (...) é uma colectânea de contos, não um romance. O que em si já constitui uma desilusão. É como se diminuísse a autoridade do livro, dando do autor a imagem de alguém que apenas ronda os portões da literatura, em vez de estar já lá dentro.     Demasiada felicidade reúne dez contos, e o nome do livro é o título do último conto. É o único que tem uma base verídica ou é o único que é apresentado como tal. Conta-nos a vida de Sophi

O Filho Perdido de Philomena Lee, Martin Sixsmith (Planeta)

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    Não vi ainda o filme "Philomena", protagonizado por Judi Dench, mas quando soube que havia um romance por trás desta história verídica e, mais ainda, quando soube a base da história - tráfico de crianças pela igreja católica irlandesa durante o século XX - fiquei extremamente curiosa. Pelo pouco que percebi pelo trailer , o filme é a busca de Philomena pelo seu filho, dado para adoção contra sua vontade, com ajuda de um jornalista. Esse mesmo jornalista é quem escreve o presente livro que, no fundo, é uma biografia desse rapazinho perdido. Fiquei um pouco receosa, de início, que a narrativa fosse simplesmentea recolha dos factos, mas o livro está muito bem escrito e a biografia é romanceada. Goste muito do livro, mas é um livro duro e comovente, de uma vida difícil, ainda mais porque é um história verídica.         Philomena Lee tinha 18 anos quando cedeu aos encantos de John McInerney e engravidou. Foi enviada para a Abadia Sean Ross, em Roscrea, para ter o filho

A ponte sobre o Drina, Ivo Andric (Cavalo de ferro)

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    Há já alguns anos passei alguns dias em Santo Domingo onde era com frequência interpelada sobre o meu país. Quando respondia que era de Portugal, invariavelmente era brindada com o nome de Luis Figo. Embora alheada então como agora do futebol, sempre me fascinou a forma como aproxima as pessoas e ultrapassa fronteiras.      Uma noite, o grupo de pessoas com quem estava, foi interpelado por um individuo, obviamente embriagado, e que nos dirigiu a mesma pergunta. Quando respondemos que éramos portugueses, ele retorquiu de imediato: Fernando Pessoa.      Fiquei surpreendida e não pude deixar de pensar que eu, como provavelmente as outras pessoas com quem estava, desconhecia o nome de qualquer poeta ou escritor dominicano que permitisse reotorquir àquele individuo que desapareceu, aos tropeções pela rua, empatando o diálogo.     Desde então, sempre que vou a um pais, à geografia, clima, história e património, adiciono agora a procura de escritores e a leitura de livros.