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Histórias de Amor, José Cardoso Pires (Os livros das três abelhas)

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    "Histórias de Amor" reúne quatro contos e uma novela da autoria de José Cardoso Pires: "Week end", "Uma simples flor nos teus cabelos claros", "Ritual dos pequenos vampiros", "Romance com data", e "Dom Quixote, as velhas viúvas e a rapariga dos fósforos", respetivamente - mas não por esta ordem no livro.     Parafraseando o texto da contracapa, são histórias "por vezes ternas, por vezes amargas", em meu entender não são particularmente fáceis. Nas palavras do próprio autor, que também escreveu o prefácio "Limito-me (...) a observar que lhes chamei «de amor» por estar neste ponto a matriz em que julguei ver fundidas certas manifestações específicas do homem, capazes (....) de o definir na época ou a época, através dele."     A edição é, em si, muito interessante pois constitui a versão integral onde estão assinaladas as passagens do famoso lápis azul da censura. Cenas que atualmente parecem perfei

Mulheres de Cinza, Mia Couto (Editorial Caminho)

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   "Mulheres de Cinza" é o Livro Um de uma trilogia moçambicana "As areias do Imperador". Fui com uma amiga ao lançamento na FNAC, em Lisboa. A poucos dias do aniversário do meu pai, fui decidida a comprar um exemplar para ele e outro para mim, autografados. A sala em que decorria o lançamento era pequena para acolher tanta gente, mesmo o écran, colocado no exterior da sala, de pouco servia, porque o vozear dos presentes impedia que ouvíssemos os intervenientes. Voltámos quando o lançamento já terminara e se formara uma fila enorme para conseguir o autógrafo do autor. Fizemos as contas distribuindo minutos pelas pessoas que se encontravam à nossa frente, receando que a espera se prolongasse por horas, mas o Mia Couto, acompanhado pelo seu editor, trocava algumas palavras com os leitores e rapidamente assinava e devolvia o livro. Saímos. Cada uma com os seus exemplares assinados.          O meu pai, no dia de anos, 3 de novembro, recebeu três exemplares deste l

Todos devemos ser feministas, Chimamanda Ngozi Adichie (Leya - Dom Quixote)

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    Há uns tempos, a conversar com um amigo - já não me recordo do tema da conversa - ele diz-me algo como "Às vezes pareces mesmo feminista. Eu sei que não és, calma! Mas pronto, é como falas do assunto." Surpreendida respondi-lhe "Como não sou? Claro que sou feminista!" E a minha vontade era mesmo ter dito: "E nos tempos que correm não compreendo como alguém pode não o ser.".     Este meu amigo, com quem gosto bastante de conversar, porque é uma pessoa informada e aberta ao diálogo, tinha, infelizmente, a ideia errada - e aparentemente recorrente - do que é o feminismo. Não, não é um monstro hediondo que quer subjugar os homens às vontades e caprichos das mulheres. É tão-só a igualdade de género.     O assunto é abordado de forma muito simples neste livro, que a minha mãe tentou que o meu irmão - também ele, incompreensivelmente, a meu ver, ainda com a ideia errada do que é o feminismo - lesse. O livro resultou da adaptação de uma intervenção da a

The Remains of the Day, Kazuo Ishiguro (Vintage International)

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    Lido na sua versão original (título em português: Os Despojos do Dia ), este romance do autor de Nunca me Deixes  foi uma desilusão. Continua maravilhosamente escrito e segue um estilo de narrativa semelhante ao do livro que mais me tocou nos últimos anos, ou seja, é um discorrer de memórias que nos vai permitindo juntar as peças do puzzle a partir de alguns episódios específicos do passado. No entanto, não me cativou nem despertou a vontade constante de saber o que ia acontecer a seguir.     Talvez em parte esta desconexão se deva a alguma imaturidade minha e um certo desconhecimento da História, que me impede de a associar aos eventos descritos. Assumo que assim possa ser. Independentemente  do motivo, a verdade é que não me interessou - e honestamente não consegui encontrar a estória ...     O narrador, Stevens, é o antigo mordomo da propriedade de Lorde Darlington, Darlington Hall, atualmente pertencente a um americano, Mr. Faraday. Lorde Darlington terá sido um nobre q

Naqueles braços, Camille Laurens (Publicações D. Quixote)

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   Nas minha tentativa anual de organizar os livros que tenho nas várias estantes do sótão, encontrei este livro que comprei há já alguns anos. Por rotina, mantenho cá em baixo, entre a sala e o meu quarto, os livros que ainda não li, e remeto para o sótão os que já li, embora alguns desçam as escadas e aterrem de novo no meu quarto, na mesinha de cabeceira, para voltar a lê-los. Não sei porque tinha enviado este para as prateleiras dos já lidos. Confesso que alguns livros que não li, mas de cuja leitura desisti, terminam por ser enviados para o sótão antes de chegada a sua hora. Se foi o caso deste, não sei, porque quando o folheei comecei a lê-lo imediatamente. Se não é um livro excecional, é contudo muito original na forma como está estruturado: pequenos capítulos, cada um dedicado aos homens da vida da autora, mas que se repetem. O pai, o editor, o marido, o namorado, o amante, o professor, o primeiro amor...poucos são nomeados, André, o amante da mãe, Amal, um namorado marroq

A Eterna Demanda, Pearl S. Buck (Elsinore)

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    "A Eterna Demanda" é-nos dado a conhecer como o último trabalho de Pearl S. Buck, ainda incabado, cujo manuscrito foi descoberto, e recuperado, em 2012 pela família da autora. O prefácio, que é escrito pelo filho Edgar Walsh - um dos vários filhos que Pearl Buck e segundo marido, o seu editor Richard Walsh, adotaram -, guia-nos um pouco sobre a vida da autora e, sobretudo, os seus conturbados últimos anos de vida. Gostei muito de a conhecer melhor através deste prefácio.     Edgar Walsh apresenta-nos o trabalho da mãe como "um trabalho imperfeito", referindo que a mãe "era uma perfecionista, e este livro está longe de ser perfeito. Não deixou instruções sobre o aspeto que o romance deveria ter na sua forma final". Mais refere que "todavia, para os seus leitores passados e atuais, esta obra, representa uma oportunidade única de conhecê-la realmente e de compreender os seus sentimentos e convicções".     Foi exatamente isso que senti. Cl

Receitas de Amor para Mulheres Tristes, Héctor Abad Faciolince (Quetzal)

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         Não sei como definiria este livro se tivesse de o fazer. É quase uma brincadeira, um jogo que o autor faz, misturando emoções e receitas que tanto podem ser receitas de cozinha, como esconjuros, feitiços, conselhos, consolos. Mas são uma graça que, sob a forma de prosa são, algumas vezes, verdadeiros poemas - talvez para essa leitura tenha contribuido a tradução de Pedro Tamen.      E se estas receitas se destinam a mulheres tristes, Héctor começa logo por realçar a importância de estar triste, retomando esta ideia ao longo do livro (o que é importante, pois com frequência encontramos esta rejeição da tristeza, nossa e dos outros):     " A verdade é que, muitas vezes, não há nada mais sensato que estar triste; todos os dias acontecem coisas, aos outros e a nós que não têm remédio, ou melhor, que têm esse antigo e único remédio de nos sentirmos tristes."     E a que se destinam as receitas? A coisas tão distintas como o peso dos anos, o enjoo das palavras,

Biografia involuntária dos amantes, João Tordo (Alfaguara)

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    Comprei este livro na Feira do Livro numa tarde em que o João Tordo se encontrava no stand da editora. Tinha alguma curiosidade de ler este autor, devido a algumas críticas que tinha lido mas também na expetativa de saber como escrevia o João, que conhecia há muitos anos através das palavras de Ary dos Santos cantadas por Fernando Tordo.     E começo por referir que o João é um digno herdeiro desse património. O livro está muito bem escrito. Não resisti aliás a roubar algumas frases:     "Foi a única mulher para quem olhei e que consegui imaginar velha", afirmou. "Quanto mais a observava, mais era capaz de retratar a metamorfose que lhe aconteceria ao rosto, e ao corpo, durante os próximos cinquenta anos". (...) nunca se encontra o amor porque ele não é passível de ser encontrado. Que não nos acontece quando queremos mas quando estamos distraídos ou adormecidos. (...)     Dobrar uma esquina significava escolher um destino, dobrar a esquina seguinte s

A coisa à volta do teu pescoço, Chimamanda Ngozi Adichie (D. Quixote)

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         Os livros da Chimamanda são um bilhete seguro para uma viagem pelas suas histórias, personagens e paisagens. Até agora nunca me desiludiram. Este livro é composto por 12 histórias, passadas na Nigéria, África do Sul e nos EUA. Mas mesmo aquelas cuja ação decorre fora da Nigéria são nigerianas, pelas vivências, personagens e pela própria história.      Cela Um, a primeira história, relata a prisão de um jovem, filho de professores universitários, que é preso na sequência de desacatos provocados por cultos. E se ficamos chocados com a descrição da prisão não ficamos menos pela forma como os pais antes tinham lidado com os antecedentes criminais do filho que, na nas condições terríveis da prisão parece amadurecer.      Imitação conta a história de uma mulher nigeriana, Nkem, residente com os dois filhos nos EUA. O marido vive e trabalha na Nigéria e visita-a apenas no Verão. Quando Nkem sabe que o marido levou uma namorada para a casa de ambos na Nigéria, decide que ir

Portugal, A Flor e a Foice; J. Rentes de Carvalho (Quetzal)

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         Portugal A Flor e a Foice foi escrito entre abril de 1974 e outubro de 1975, em cima dos acontecimentos, mas com a distância inerente  ao facto do autor ser um "estrangeirado". Não se limita, no entanto, ao período da revolução, vai mais fundo, desfazendo a História de Portugal que aprendeu na escola e que, tantos anos volvidos, em certa medida, ainda consta dos nossos compêndios. E que provavelmente não será um exclusivo português. Aliás, J. Rentes de Carvalho reconhece-o quando escreve "Hoje como ontem, os cronistas purgam a realidade, enfeitam-na com guirlandas de boas intenções e ideais, ao mesmo tempo que os fotógrafos das cortes e das presidências se põem de cócoras em busca do ângulo mais favorável".     Devo confessar que me diverti a ler estas passagens, que desconhecia ou de que me esquecera, sobre a nossa história e heróis a que não escapou a descrição de D. Sebastião com " o lado direito maior que o esquerdo e o pé com um dedo a mai

Histórias à volta da mesa, Oscar Wilde (Coisas de Ler Edições)

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     Em alturas em que o trabalho é muito e o tempo para ler muito curto, ter um livro com pequenas histórias que se podem ir lendo desgarradas é uma boa opção. Já há uns anos que tenho este livro comigo e, uma vez por outra fazia uma coisa que não faço nunca: abria o livro numa página aleatória e lia a história dessa página. Como geralmente leio romances, não é uma liberdade que tomo com frequência - por opção!      De qualquer maneira, desta vez, decidi ler o livro por ordem - com a vantagem de que cada vez que o abria na página seguinte, dedicava uns poucos minutos à leitura de uma ou duas histórias diferentes e sem qualquer relação com as anteriores.       O livro está dividido em quatro partes - Episódios, Fábulas, Contos Bíblicos e Poemas em Prosa - e reune uma série de histórias contadas frequentemente por Oscar Wilde em reuniões e refeições com amigos. Aparentemente o escritor era, na época, muito aplaudido pela sua vertente de bardo ou trovador. Nos diversos texto que a

A nova Coventry, Sue Townsend (Difel)

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    Achei curioso ver na estante do sótão um livro da autora dos "Diários de Adrian Mole" num outro livro, num outro registo; a curiosidade aguçou-se quando li o resumo do livro: uma mulher, Coventry, que mata acidentalmente um homem que estava a maltratar a mulher, fugindo em seguida.     É uma leitura muito ligeira, cheia de personagens e situações absolutamente caricatas.     Coventry, uma mulher tão bonita que sente necessidade de se vestir discretamente para não atrair ainda mais atenções do que as naturalmente despertadas, está casada com Derek, um homem aparentemente extremamente insípido e com uma paixão desmesurada por tartarugas. Têm dois filhos adolescentes. Coventry sente-se absolutamente infeliz com a vida que leva. Uma noite, vê da janela da cozinha o vizinho, bêbado, estrangular a mulher, e larga o que estava a fazer para correr a casa dos vizinhos, acertando no pescoço do homem com um ActionMen. O homem cai morto no chão e, sem pensar duas vezes, Covent

Um passado perfeito, Leonardo Padura (Edições ASA)

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     Primeiro livro deste autor cubano que leio e seguramente não será o último. Um policial, muito bem construído e escrito. Mario Conde, o detective, investiga o desaparecimento de um alto quadro cubano que tinha conhecido na juventude e que tinha conquistado e casado com Tamara, por quem o detective tinha desde esses tempos uma paixão.      Um universo distinto daquele que povoa os policiais americanos e europeus (recentemente os nórdicos) que tenho lido, a começar pelo crime investigado, um crime económico. Lateralmente há referências a um caso de violação de uma menor e ao assassínio de uma criança por jovens. Mas não há litros de sangue, nem mortes brutais pormenorizadamente descritas neste livro.  Por outro lado, há referências a reuniões com sessões de autocrítica e uma consciência social que percorre o livro e a que não é indiferente o crime que é investigado - A que carga d'água alguém pode  brincar com o que é meu e é teu e é daquele velho que está a vender jorna

O miúdo que pregava pregos numa tábua, Manuel Alegre (D. Quixote)

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   Gosto do Manuel Alegre poeta. Acho que foi um dos grandes poetas da resistência. Muitas das letras das músicas que cantámos antes e depois do 25 de abril são dele.      Já tinha começado a ler um livro que não de poesia (Alma) e tinha-o largado porque me irritou a narração demasiado egocêntrica. A convicção da sua importância que lhe é transmitida pela família desde sempre (na altura lembro-me de pensar que a irmã o devia odiar).      Acabei agora de ler este livro O miúdo que pregava pregos numa tábua , e mais uma vez é ele, mas, desta feita, mais frágil. Menos convicto de si, porventura. Convoca para o livro os seus mortos, família e amigos, e a proximidade da morte, dos outros e a própria, talvez explique este discurso menos centrado em si próprio (embora ainda admita a possibilidade de a sua obra ser a continuação de Os Lusíadas, uma bravata que anunciara em jovem (…) E meteu mãos à obra. Mas ainda hoje não sabe se conseguiu. )     De resto é um livro terno, cheio d

A acompanhadora, Nina Berbérova (Biblioteca Ambar de Bolso)

      Sempre que vou de férias, por poucos dias que sejam e ainda que prevendo que não me sobrará muito tempo para o solitário prazer da leitura, pego em vários livros na convicção de que os conseguirei ler todos. Este livro, A acompanhadora, estava na minha mesinha de cabeceira já há muito tempo (terá sido o Diogo que mo ofereceu?) mas ainda não o tinha lido. Foi um dos livros que trouxe para a Foz do Arelho e que li numa tarde surpreendentemente solarenga.     A acompanhadora, Sónetchka, era filha de uma professora de música, solteira e de um aluno dela, muito mais novo, que nunca chegou a conhecer. De acordo com a sua descrição não era nem inteligente nem bonita; não tinha vestidos caros nem um talento notável. Em suma, não representava nada.     Depois de concluir o Conservatório e de alguns trabalhos esporádicos, um amigo, Mitenka apresenta-a a Maria Nikoláevna Trávina, cantora, que procurava uma acompanhadora, para sempre e que a acompanhasse possivelmente para o estrang

Índice médio de felicidade, David Machado (D. Quixote)

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    Um livro surpreendente, pela abordagem, pela narrativa, pelas personagens, mas que resulta. Prende-nos desde o princípio e embora nos sintamos compelidos a lê-lo,  receamos o pior. Isto é, tememos que ainda possa piorar.     Daniel, o protagonista principal, narra a história na forma de um diálogo com o seu melhor amigo Almodôvar, que está preso e que se recusa a receber visitas. Xavier, amigo de ambos, sofre de uma forte depressão e está trancado em casa há muito tempo. Daniel trabalhou vários anos numa agência de viagens que terminou por fechar as portas e está desempregado. Recusa seguir a mulher e os filhos para Viana do Castelo onde esta vive com os sogros e com os filhos de ambos, porque fazê-lo seria perder a esperança em voltar a ter uma vida normal: uma casa, um carro, um emprego..      Os capítulos são designados pelo índice médio de felicidade de Daniel e pelos países que têm esse mesmo valor (com exceção do último). Xavier, que Daniel considera o homem mais inf