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A mostrar mensagens de fevereiro, 2015

Tudo tem o seu tempo, Ana Maria Magalhães (Caminho)

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     Uma amiga comum ofereceu-me este livro, ainda por cima com uma simpática dedicatória da autora, que tive oportunidade de conhecer brevemente há alguns anos.      Assina agora o primeiro volume desta autobiografia que decide iniciar quando se descobre doente e avó ( Um dia, porém, veio-me à ideia que, se realmente morresse, deixar uma autobiografia era a única maneira de criar laços entre nós as duas. Não a conhecia eu a ela, mas conhecer-me-ia ela a mim, e desse modo se estabelecia o diálogo.)     Tenho para mim que a convicção generalizada e comum de que a minha vida dava um filme - ou um livro - depende mais de quem a conta do que da vida que é contada. E neste caso a autora, mais conhecida como autora infanto-juvenil, sabe contar e prender os leitores, começando logo pelo título feliz " Tudo tem o seu tempo". Teve também a sorte de ter nascido numa família grande e generosa que lhe forneceu pessoas, paisagens e experiências para vivenciar e depois contar.

Esteiros, Soeiro Pereira Gomes (Editorial Avante)

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    Esteiros. Minúsculos canais, como dedos de mão espalmada, abertos na margem do Tejo. Dedos das mãos avaras dos telhais, que roubam nateiro às águas e vidores à malta. Mãos de lama, que só o rio afoga.     Assim é a frase de enntrada no livro de Soeiro Pereira Gomes, e assim fica feito o resumo do mesmo. Um romance que acompanha os "meninos-homens" que tiveram de abandonar a escola para pedinchar trabalho - ou submeterem-se mesmo a pedir esmola, ou roubar fruta para vender - a fim de poderem contribuir um pouco para mitigar a miséria da família.     «O silêncio da tarde convidava a confidências. Contaram-nas. Como velhos amigos, descreveram a história das suas vidas curtas, sem história. Gaitinhas confessou a mágoa de ter renunciado à escola porque a mãe adoecera.     (...)     A voz de Gaitinhas era de lágrimas cristalizadas. E Gineto teve pena que ser doutor não fosse coisa que se roubasse.»     São histórias tristes, de crianças que não o puderam ser na su

Nunca me deixes, Kazuo Ishiguro (Gradiva)

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   Desde o momento em que começamos a ler o livro apercebemo-nos que há um segredo por detrás da história que nos é contada e que é verdadeiramente terrível. Suspeitei do que poderia ser. Uma parte de mim queria confirmá-lo, para decidir se deveria ou não continuar a ler, mas a outra parte só queria prosseguir com a leitura. O livro é tão bom e está tão bem escrito, que nos envolve totalmente e sentimos que fazemos parte dele. E, ainda que saibamos o tal segredo a meio do romance, acaba por ser bastante secundário e, como o próprio autor descreve (em entrevistas a que assisti posteriormente), serve quase só para justificar uma base para a história - uma história de amizade. Talvez a mais bonita que já li.      Kathy H., a narradora, tem 31 anos e exerce a função de «ajudante», enquanto aguarda para se tornar «dadora». As histórias que vai contando, giram em torno de reminiscências da sua vida até aquele momento, e incluem sempre os seus amigos mais chegados: Tommy e Ruth. Com

A baía dos anjos, Anita Brookner (casa das letras)

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  Há livros certos para alguns momentos da nossa vida ou há momentos certos para lermos alguns livros. Foi o que aconteceu com este livro, a baía dos anjos. Comprado há já alguns anos, seguramente atraída pelo título e pela leitura da contracapa, arrastava-se penosamente entre a minha mesinha de cabeceira e a estante da sala, mas persistindo sempre em chamar-me a atenção. Mais de uma vez iniciei a leitura que abandonei. Não sei explicar porquê. Desta vez, passou-se o contrário. Comecei a lê-lo e custava-me interromper a leitura que retomava sempre que podia.     É uma reflexão profunda e íntima sobre as relações familiares e afetivas, o envelhecimento e a morte ( Que coragem deve ser precisa para envelhecer!) . Centrado essencialmente na relação mãe/filha(o), na dependência que existe entre ambas(os) mas também na necessidade de criar distâncias e definir um percurso de vida autónomo : - Sim, aquele amor era uma espécie de liberdade. Tem-na com a sua mãe. Mas, como já percebeu,

As Luzes de Setembro, Carlos Ruiz Zafón (Planeta)

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        Não sei o que me impediu de invocar o terceiro direito inalianável do leitor (não acabar um livro) e interromper a leitura deste livro de Carlos Ruiz Zafón. O resumo da história na contracapa remete para um livro de mistério mas os livros deste autor têm sempre o ambiente nebuloso deste género literário, por isso decidi arriscar e lê-lo. O livro destina-se seguramente a leitores juvenis, mas mesmo destinando-se a este tipo de público, pareceu-me demasiado simplista em termos de argumento.      Simone, recentemente viúva, aceita o emprego como governanta de um fabricante de brinquedos, Lazarus Jann, e muda-se com os dois filhos para uma pequena aldeia da costa, Baía Azul.       A adaptação à nova vida, embora absolutamente distinta do dia a dia em Paris, é rápida, ajudada sobretudo por Hanna, a criada, por Ismael, o primo de Hanna e por Lazarus.     Pouco tempo depois Hanna é assassinada e ao tentarem descobrir o que aconteceu, são envolvidos numa trama que envolve a

Longbourn, Jo Baker (Editorial Presença)

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    Este livro foi uma deceção do princípio ao fim. É mau. A história é pobre, a escrita também não se destaca.     Descrito como "uma recriação de Orgulho e Preconceito do ponto de vista dos criados", poderia ter algum interesse na desmistificação da beleza e classe das meninas Bennet (ex. « As jovens senhoras podiam comportar-se como se, por baixo da roupa, fossem suaves e seladas como estátuas de alabastro, mas quando deixavam cair no chão do quarto as camisas sujas para que as levassem e limpassem, revelavam-se criaturas de corpos frágeis e com fluídos como realmente eram »), mas algumas dessas passagens até parecem demasiado forçadas e desnecessárias.     É mesmo um livro muito fraco, um simples romance de cordel entre a criada Sarah e o misterioso criado James, que surge do nada e guarda um segredo que o leva a - não se sabe bem porquê - não dirigir sequer um olhar ou uma palavra à rapariga (que, ainda antes de o ver ou saber que ia começar a trabalhar na casa,