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A mostrar mensagens de julho, 2015

O miúdo que pregava pregos numa tábua, Manuel Alegre (D. Quixote)

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   Gosto do Manuel Alegre poeta. Acho que foi um dos grandes poetas da resistência. Muitas das letras das músicas que cantámos antes e depois do 25 de abril são dele.      Já tinha começado a ler um livro que não de poesia (Alma) e tinha-o largado porque me irritou a narração demasiado egocêntrica. A convicção da sua importância que lhe é transmitida pela família desde sempre (na altura lembro-me de pensar que a irmã o devia odiar).      Acabei agora de ler este livro O miúdo que pregava pregos numa tábua , e mais uma vez é ele, mas, desta feita, mais frágil. Menos convicto de si, porventura. Convoca para o livro os seus mortos, família e amigos, e a proximidade da morte, dos outros e a própria, talvez explique este discurso menos centrado em si próprio (embora ainda admita a possibilidade de a sua obra ser a continuação de Os Lusíadas, uma bravata que anunciara em jovem (…) E meteu mãos à obra. Mas ainda hoje não sabe se conseguiu. )     De resto é um livro terno, cheio d

A acompanhadora, Nina Berbérova (Biblioteca Ambar de Bolso)

      Sempre que vou de férias, por poucos dias que sejam e ainda que prevendo que não me sobrará muito tempo para o solitário prazer da leitura, pego em vários livros na convicção de que os conseguirei ler todos. Este livro, A acompanhadora, estava na minha mesinha de cabeceira já há muito tempo (terá sido o Diogo que mo ofereceu?) mas ainda não o tinha lido. Foi um dos livros que trouxe para a Foz do Arelho e que li numa tarde surpreendentemente solarenga.     A acompanhadora, Sónetchka, era filha de uma professora de música, solteira e de um aluno dela, muito mais novo, que nunca chegou a conhecer. De acordo com a sua descrição não era nem inteligente nem bonita; não tinha vestidos caros nem um talento notável. Em suma, não representava nada.     Depois de concluir o Conservatório e de alguns trabalhos esporádicos, um amigo, Mitenka apresenta-a a Maria Nikoláevna Trávina, cantora, que procurava uma acompanhadora, para sempre e que a acompanhasse possivelmente para o estrang

Índice médio de felicidade, David Machado (D. Quixote)

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    Um livro surpreendente, pela abordagem, pela narrativa, pelas personagens, mas que resulta. Prende-nos desde o princípio e embora nos sintamos compelidos a lê-lo,  receamos o pior. Isto é, tememos que ainda possa piorar.     Daniel, o protagonista principal, narra a história na forma de um diálogo com o seu melhor amigo Almodôvar, que está preso e que se recusa a receber visitas. Xavier, amigo de ambos, sofre de uma forte depressão e está trancado em casa há muito tempo. Daniel trabalhou vários anos numa agência de viagens que terminou por fechar as portas e está desempregado. Recusa seguir a mulher e os filhos para Viana do Castelo onde esta vive com os sogros e com os filhos de ambos, porque fazê-lo seria perder a esperança em voltar a ter uma vida normal: uma casa, um carro, um emprego..      Os capítulos são designados pelo índice médio de felicidade de Daniel e pelos países que têm esse mesmo valor (com exceção do último). Xavier, que Daniel considera o homem mais inf

Constellation, Adrien Bosc (Stock roman)

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    O João trouxe este livro de uma das suas recentes deslocações a França. Uma edição sóbria, capa preta com o nome do livro e do autor: Constellation, Adrien Bosc. Uma cinta bege anuncia que o livro ganhou o Grande prémio de Romance da Academia francesa 2014. Comecei logo a cobiçá-lo, na certeza que o João abandonaria a sua leitura por uma nova revista informática ou de divulgação científica, o que acabou por acontecer. Devo confessar que a sua leitura foi mais difícil do que previa  mas o interesse pela sua leitura nunca se desvaneceu.     Constellation é a designação de um avião, da Air France, anunciado como o novo cometa e que o autor descreve como um pássaro cromado nascido da loucura de um homem, Howard Hughes. No dia 27 de outubro de 1949, 27 passageiros embarcam no Constellation, em Orly, rumo à América. O piloto decidira fazer o abastecimento na ilha de Santa Maria mas, por razões que o autor tenta desvendar, cai na ilha de São Miguel.     A bordo seguiam 37 passagei