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A mostrar mensagens de janeiro, 2016

A morte de Ivan Ilitch, Lev Tolstoi (Leya, SA)

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   Nos últimos meses li várias referências a este livro. A que mais me impressionou foi a menção que lhe é feita por João Lobo Antunes numa entrevista ao Expresso (publicada a 24 de dezembro de 2015). Curiosamente, o prefácio desta edição é de António Lobo Antunes que o descreve como fazendo o retrato implacável da nossa condição: não há sentimento que nele não figure, não há emoção que não esteja presente.     Acabei de o ler e voltei ao início, porque senti que não tinha conseguido apreendê-lo na totalidade. E lido uma segunda vez, volto a sentir o mesmo. Há um quase paradoxo entre a dimensão do livro (não chega a ter cem páginas) e a imensidão e profundidade das questões tratadas. Fala da morte, é sabido. O título denuncia-o. Mas trata  igualmente da vida, da forma como vivemos quando a morte não está nos nossos horizontes e depois, perante a morte, como se reduz e fica condicionada no tempo e no espaço.  ( Não é possível que a vida seja assim tão sem sentido, tão abjecta. E se

Crónicas maldispostas, Pepetela (D. Quixote)

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    Crónicas maldispostas reúne um conjunto de crónicas do autor publicadas na revista mensal angolana África 21, entre 2007 e 2015. Não sei se as crónicas foram publicadas na revista com este título ou se apenas foram apelidadas de maldispostas nesta edição. Mas confesso que adorei o nome e achei que era um privilégio alguém ter direito a publicar crónicas maldispostas mensalmente. Comecei logo a imaginar os temas que mereceriam a minha má disposição se tivesse direito a um espaço de publicação. O problema seria sempre a escolha, a seleção da má disposição (talvez tenha sido a perceção desta minha identificação que levou a Ana Paula a oferecer-me o livro).      E a má disposição do Pepetela é nalguns casos dirigida ao seu país e aos seus concidadãos, mas ultrapassa com frequência as fronteiras angolanas e chega a Portugal e a muitos outros países. E tanto fala de gatos vadios como dos bombardeamentos israelitas na Faixa de Gaza, dos problemas dos canhotos e dos fantasmas da Europa

Contos de cães e maus lobos, Valter Hugo Mãe (Porto Editora)

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  O primeiro livro de Valter Hugo Mãe que leio e não será seguramente o último. Segundo o meu amigo João, que mo ofereceu, a razão da escolha resultou de incluir um prefácio de Mia Couto. Curiosamente há, sente-se, uma afinidade entre ambos, como se a linguagem, mais que a língua, os juntasse e dificultasse a identificação de cada um. São de Valter Hugo Mãe as palavras:    Mãe, acho que fiquei despreocupado da lucidez. Ouço sempre um pássaro cantar. Talvez só me cure se aprender a voar . Mas podiam ser de Mia Couto.      Depois de Um pequeno prefácio para contos gigantes , vêem os contos, antecedidos da arte de diversos artistas plásticos. E ficamos sem saber o que nasceu primeiro, se o conto, se a arte que o antecede. Se Valter Hugo Mãe olhou para os desenhos, todos a preto e branco, e partiu para a escrita ou se depois de escrever o conto o deu ao artista plástico para que o ilustrasse. Ou se ambos trabalharam separada e simultaneamente, partilhando apenas a ideia, o titulo.

Ver: Amor, David Grossman (Dom Quixote)

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    Seja o que for que eu escreva acerca deste livro, nunca conseguirei dar uma ideia exata do que poderão esperar dele. Dizer que é um livro extremamente imaginativo sobre o Holocausto e as suas implicações nas gerações seguintes é simplesmente redutor. Penso que nunca tinha lido um livro com tantas histórias dentro de histórias e que mesmo assim termina por conseguir que todas elas - e as suas personagens - se entrelacem num único enredo. Dividido em quatro partes - "Momik", "Bruno", "Wasserman" e "A enciclopédia completa da vida de Kazik" - o romance é, em meu entender, a procura de Momik, em adulto, do caminho que levará a tornar-se escritor.      Na primeira parte, Momik é-nos apresentado como um rapazinho judeu, filho de sobreviventes do Holocausto, assombrado pela "Besta nazi" que lhe disseram poder surgir de qualquer criatura viva. Momik chama a si a missão de enfrentar a Besta e de a destruir para que deixe de aterrorizar

O homem que gostava de cães, Leonardo Padura (Porto Editora)

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   Depois de ouvir várias críticas favoráveis a este autor, decidi-me a procurá-lo e lê-lo. A leitura do livro "Passado perfeito" reforçou a minha vontade de ler outros livros dele e este em especial. Sabia que o tema central era o assassinato de Trotski  no México. Mas o livro ultrapassa em muito esta questão. Não sei sequer como classificá-lo. Não nos conta apenas uma história. Conta-nos muitas histórias e, a partir delas, faz-nos o retrato impiedoso do século XX, das utopias, das ideias e dos ideais e de como se morreu (se morre) por eles. Como é referido no final do livro, Ivan (o narrador/escritor mas igualmente protagonista) representa a massa, a multidão condenada ao anonimato, e a sua personagem funciona também como metáfora de uma geração e como o resultado prosaico de uma derrota histórica.     A estrutura do livro é curiosa: começa com o funeral de Ana, mulher de Ivan, que assume o papel de narrador. Ivan está acompanhado pelo seu amigo Daniel, e a morte de

A dama das camélias, Alexandre Dumas, filho (Bico de Pena)

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         Acabado este período de festividades, e apesar das minha expetativas, tive pouco tempo tempo para ler. Para mais, fui passeando entre livros, tendo apenas acabado de ler "A dama das camélias". Procurei este livro porque o meu filho mais novo tinha de o ler para as aulas de português, do 11º ano, no 1º semestre deste ano lectivo. Desesperei à procura do livro que não encontrei nas livrarias, nem nas bibliotecas familiares, nem sequer nos alfarrabistas. Por sugestão de uma amiga, encontrei o livro na Biblioteca Camões da Câmara Municipal de Lisboa. Solução tão óbvia mas a que com menos frequência recorro.    Conhecia a história e os nomes: Margarida de Gautier e Armand Duval e o final dramático e tão ao gosto da época (não corria por isso o risco de dizer, como aquela jovem que assistia ao filme Anna Karenina: Queres ver que isto ainda vai acabar mal?) mas nunca tinha lido o livro.     "A dama das camélias" está muito bem escrito e a estrutura da obra