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A mostrar mensagens de março, 2016

A rapariga no comboio, Paula Hawkins (Topseller, Editora 20|20)

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    Quando um livro se torna bestseller pouco tempo depois da publicação, há sempre aquela curiosidade que nos impele a olhar para ele de cada vez que passamos numa livraria. Ainda assim, eu, pelo menos, tenho sempre um certo receio que seja um daqueles livros escritos com uma "receita-sucesso" mas sem grande arte.     Este romance despertou-me o interesse desde cedo, por ser falado, mas também porque a própria leitura da contracapa me aguçou os sentidos. Como não o li durante o boom do seu sucesso, ouvi e vi, como não podia deixar de ser, opiniões contraditória, mas maioritariamente "Não é assim tão espetacular". Por isso, inevitavelmente, as minha expectativas baixaram. Talvez por isso e porque a história é completamente diferente daquilo que o resumo me sugeria, gostei muito do livro.     O livro é escrito a três vozes: a da Rachel, a da Megan e a da Anna, mas a personagem principal é sem dúvida a Rachel.     A Rachel é uma mulher que atingiu o fundo do p

O meu amante de domingo, Alexandra Lucas Coelho (Tinta da China)

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    Depois de fazer um curso de escrita, entre janeiro e fevereiro, juntei-me com as minhas companheiras de curso para continuarmos a escrever e integrarmos também na nossa partilha a discussão de livros. Curiosamente somos só o mulheres, o que nos permite assumir uma posição particular quanto aos temas que vamos abordar - tanto na leitura como na escrita.     O primeiro livro que combinámos ler foi este, de Alexandra Lucas Coelho que, claro, vinha com muito boas recomendações. O excerto que foi apresentado no nosso encontro estava bem escrito mas surpreendeu-me pela... terminologia, vá. Confesso que sou conservadora quanto ao estilo de escrita e faz-me uma certa confusão ler asneiras - não é que não as diga, mas na escrita (e leitura) prefiro a suavidade. Ainda assim, uma vez que a autora nos apresenta uma personagem que fala assim, o tom é estabelecido de princípio, e sustentado durante todo o romance, pelo que acabei por me habituar - e ri-me muito.     Está muito bem escrito

Olhos azuis, cabelo preto; Marguerite Duras (Público - Coleção Mil Folhas)

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    A minha estreia com Marguerite Duras foi uma experiência que me deixou dividida. O pequeno romance é diferente, tanto em conteúdo como em formato; no entanto, está escrito de uma maneira tão bonita que, quando o terminei, me apercebi que mais de um terço das páginas tinha o canto dobrado (sinal que havia pelo menos uma frase que eu queria "roubar" daquela página) - e o livro não chega às cem páginas.     A história passa-se entre um homem e uma mulher; a cena desenrola-se essencialmente num quarto. É-nos passada a ideia de que devemos assistir ao desenrolar do enredo como espetadores na plateia de um teatro:       Far-se-ia noite na sala, a peça começaria.    A descrição do cenário, do perfume sexual, o dos móveis, do acaju escuro, deveria ser lida pelos atores no mesmo tom que usariam para contar a história. Mesmo se, ao acaso dos teatros diferentes onde a peça fosse representada, os elementos desse cenário não coincidissem com o enunciado que se dá aqui, esse e

Vai e põe uma sentinela, Harper Lee (Editorial Presença)

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        Vários exemplares desta obra passaram pelas minhas mãos este Natal, entre os que comprei para oferecer, recebi - e tive que trocar - e recebeu a minha filha...      Era inevitável que acontecesse: trata-se como é sabido do segundo livro publicado desta autora, encontrado pouco antes da sua morte e que terá sido escrito antes do livro "Matar a cotovia" (na edição que eu li, já com vários anos, o título era " Não matem a cotovia "). Este livro foi determinante para eu ter optado pelo curso de Direito, segundo a minha mãe. A minha memória não lhe atribui um papel tão determinante mas este livro é seguramente um dos livros da minha vida. Optei por não relê-lo. Se o tivesse feito, provavelmente cairia na tentação de tentar encaixar um no outro, sobretudo as pessoas. Li-o assim, como o terá lido o editor que, segundo se conta, sugeriu a Harper Lee que escrevesse a história que deu origem ao livro que foi então publicado e premiado com o Prémio Pulitzer em 1

Maria Stuart, Stefan Zweig (Aletheia Editores)

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        O Diogo acerta sempre nos livros que me oferece. Não sei se optou por este pelo autor ou pela biografada, mas qualquer que tenha sido o motivo, acertou pois adorei lê-lo. Conhecia mal a vida de Maria Stuart e o pouco que conhecia era a relação com Isabel e a sua trágica morte. O livro dá uma dimensão a Maria Stuart que não nos deixa indiferentes. Aliás, o livro transmite a sensação que Stefan Zweig desenvolveu uma forte empatia com a biografada  e, no confronto que esta manteve com Isabel, uma clara opção pela figura derrotada, inevitavelmente trágica mas que a história tem relegado para um plano secundário.  Várias passagens nos dão esta perspetiva:      A vitória de Isabel foi o triunfo da vontade da História, que caminha sempre em frente, que atira para trás de si, como cascas vazias, as formas fora de moda e tenta criar outras sempre novas. A vida de Isabel personifica a energia duma nação que quer conquistar um lugar no Universo; o fim de Maria Stuart é a morte heró