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A mostrar mensagens de abril, 2017

A vegetariana, Han Kang (D. Quixote)

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      A vegetariana é um livro absolutamente inquietante e arrebatador. Ao longo da sua leitura tive impressões distintas, inicialmente pensei que esta história não poderia decorrer ou ter como cenário outro país ou outra cultura, mas noutras partes pareceu-me universal nos problemas que aborda e na forma como o faz.    O livro tem três partes, a primeira dá o nome ao livro, A vegetariana , e é narrada na primeira pessoa pelo marido de Yeong-hye, a segunda parte tem o título Mancha mongólica e é contada pelo cunhado e a terceira parte, Árvores flamejantes , é narrada pela irmã. Todas as partes acabam de forma inquietante, como uma espécie de clímax da parte respetiva.          A protagonista, Yeong-hye, é a mulher, a cunhada, a filha, a irmã, mas nunca tem voz ativa, a não ser em pequenos diálogos, quando responde ao que lhe é perguntado. O marido descreve-a como uma pessoa banal (.... sempre pensei nela como alguém que não tinha rigorosamente nada de especia l.) nem atrae

Deus não mora em Havana, Yasmina Khadra (Bizâncio)

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        Mais um livro de Yasmina Khadra, desta feita passado em Havana, Cuba. Embora num cenário e num contexto distintos, encontro várias similitudes com o livro anterior que li deste autor: Os Anjos Morrem das Nossas Feridas.      Em ambos os livros, as personagens principais apesar de terem carreiras distintas dependem do público. Neste último encontramos Dom Fuego, um cantor de muito sucesso mas que, apesar do virtuosismo, nunca conseguiu interessar um letrista ou compositor a criar uma canção para ele. Naquele outro, a personagem central é Turambo, um boxeur. Também de comum nas duas histórias, uma paixão imensa por uma mulher.      O livro inicia-se com uma apresentação de Dom Fuego que depois de atuar mais uma vez no Buena Vista Café é informado que este foi comprado por uma gaja de Miami no âmbito de uma privatização decidida pelo Partido.     Dom Fuego esforça-se por encontrar alternativas para atuar mas sem sucesso durante os primeiros tempos e é então que vamos co

O meu nome é Lucy Barton, Elizabeth Strout (Alfaguara)

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    Gostei muito deste livro. Li-o num dia! Num dia de trabalho. Foi um daqueles livros que, cada minuto disponível, consumi-o com a leitura. É um livro muito simples e bonito. Aliás, creio que é a sua simplicidade que lhe confere a beleza.     A história é narrada por Lucy Barton que, na sequência de uma operação ao apêndice, tem de ficar nove semanas internada no hospital, por uma infeção que os médicos não conseguem localizar.     Durante este período, a mãe de Lucy aparece uma noite, e fica outras quatro ao lado da filha. Havia anos que não se viam e mal se falavam. Ao longo dessas cinco noites e quatro dias, a mãe de Lucy mantém-se sentada no cadeirão ao lado da cama da filha, recusando a maca que as enfermeiras se oferecem para disponibilizar, e fala-lhe de vários casamentos falhados de amigos e conhecidos. Lucy recebe estas histórias com grande alegria no coração, por ter a sua mãe a seu lado, enquanto luta por sufocar tudo aquilo que levou ao seu afastamento do resto da

Crime e Castigo, Fiódor Dostoiévski (Civilização Editora)

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    Confesso - antes de qualquer outra coisa que possa escrever - que estou com algum receio de fazer esta crítica.      Tinha decidido que seria este ano que me iniciaria nos clássicos russos. E "Crime e Castigo" é um daqueles clássicos. Russo também, sim. Mas essa parte até se dispensaria. É um clássico da literatura , daqueles que ouvimos falar toda a nossa vida. Eu, pelo menos, ouvi. Sem sequer saber muito bem do que tratava. Então, há umas semanas, fui jantar com dois amigos, ela do Cazaquistão, ele da Croácia, e, quando passámos para o tema dos livros - não me recordo já como nem porquê - ambos me olharam como se eu fosse um bicho estranho (' Como assim, nunca leste "Crime e Castigo"? Tens de ler!' ). Pareceu-me o momento certo. Assim que terminei o que estava a ler anteriormente (" The White Princess "), peguei no "Crime e Castigo", uma versão muito antigo que esse meu amigo me tinha emprestado e que acabei por trocar por est

Enamoramento e Amor, Francesco Alberoni (Bertrand Editora)

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    Há muitos anos, já, a minha mãe estendeu-me este livro, dizendo que era "um daqueles livros que toda a gente lia na [sua] adolescência". Folheei-o uma ou duas vezes, mas nunca cheguei a decidir-me lê-lo de uma ponta à outra - até agora.     O texto é muito bonito; está escrito com uma prosa quase poética e tem passagens absolutamente apaixonantes, que não resisti a "roubar", como:     Eu sou por isso o abslutamente único e ele o absolutamente único, não fungível com nenhum outro nem com coisa alguma. Cada pormenor, todos os pormenores da sua voz, do seu corpo, do seu gesto, se tornam os significantes desta unicidade. Aquele pormenor, aqueles pormenores, existem nela, somente nela, em nenhuma outra pessoa do mundo; ela é extraordinariamente única e extraordinariamente diferente e o assombro do amor é encontrar resposta deste ser tão único e tão ele próprio como nenhum outro.     O autor explora a temática do enamoramento, procurando explicar os fenómen

Leituras com borboleta

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     O que pode acontecer quando vamos ler para um jardim? Uma deslumbrante borboleta pousa na capa. Aguardamos que parta para abrir o livro, o que leva algum tempo. Passeia-se entre as letras e as imagens e só depois levanta voo, para regressar quando abrimos o livro e pousar de novo numa das páginas. Passa de uma página para a outra, levantando voo mas regressando sempre, até que se fez tarde e começou a estar frio e lentamente, para não a assustar, fechei o livro depois de ela levantar voo, guardei-o no saco e vim-me embora.

Toda a luz que não podemos ver, Anthony Doerr (Editorial Presença)

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    Vi este livro nas mãos de uma colega e fiquei com muita vontade de o ler. O livro está estruturado em 13 capítulos, começando no zero - 7 de agosto - e acabando no treze - 2014 - embora não esteja cronologicamente estruturado. Começamos por acompanhar Marie Laure, uma menina francesa, cega, que vive com o pai, serralheiro, encarregado das chaves do Museu Nacional de História Natural em Paris.     O pai faz maquetes da zona onde habitam em Paris (e mais tarde de Saint Malo) para que a filha aprenda a deslocar-se autonomamente no exterior. Todos os aniversários Marie Laure recebe do pai uma caixa ou outro objecto cuja abertura ela tem de descobrir com uma prenda no interior e, quando pode, livros de Jules Verne, em braille. Quando Paris é ocupada partem ambos para Saint Malo, onde reside um tio-avô do pai que sofre de agorafobia. O pai leva consigo uma pedra raríssima e preciosa, que se crê proteger quem a possui e amaldiçoar todos os que o rodeiam. Foram feitas mais três répl