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A mostrar mensagens de março, 2018

A Cozinha Açafrão, Yasmin Crowther (Dom Quixote)

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    Existe sempre um certo receio em começar um novo livro: vamos gostar?; vai prender-nos?; vamos passear com ele indefinidamente, inventando sempre uma nova desculpa para não lhe pegarmos? E se este novo livro vem na sequência de um outro que não nos despertou interesse, o receio é ainda maior. Afinal, com tanta coisa para ler, o que menos nos apetece é perder tempo com livros que não nos tocam.     Por esse motivo, quando peguei em A Cozinha Açafrão , depois de ter desistido da leitura de Era Tudo tão Bom , queria mesmo que fosse um livro que me envolvesse. Apesar de tudo, já estava na minha estante há algum tempo, porque foi uma compra impulsiva à conta da promoção em que se encontrava; ainda assim, uma amiga muito querida já me tinha dito que tinha gostado, descrevendo-o como «muito forte». E é. Subscrevo a opinião.     Gosto de livros sobre outras culturas; é a minha forma de viajar e conhecer o mundo sem ter de sair de casa nem pagar uma fortuna. Neste em particular, o c

As lamas do Mississipi, Hillary Jordan (Saída de Emergência)

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   Acabei ontem de ler este livro que foi uma excelente descoberta. A história decorre no Mississipi, no final da segunda guerra mundial, e é narrada, à vez, pelas diferentes personagens.      Percebemos desde o início que uma catástrofe, um drama, se irá abater sobre todos eles, mas só conhecemos os seus contornos exatos no final do livro.     Henry, a mulher, Laura, e as duas filhas vão viver para uma quinta no Mississipi, cumprindo o sonho dele. Com eles, vai também o pai de Henry, um velho belicoso, racista e mesquinho e, pouco tempo depois, junta-se-lhes Jamie, o irmão mais novo de Henry.    Jamie foi aviador na segunda guerra mundial, e é um sedutor, em tudo diferente do irmão e do pai. Laura descreve-o dizendo que « ele gostava de ter as pessoas do seu lado .»     Laura tem grande dificuldade em se adaptar à vida na quinta e, sobretudo, à casa em que ficam instalados que nem sequer tem uma casa de banho.      E é nesta quinta cheia de lama, isolada, que conhece Flor

L'ordre du jour, Éric Vuillard (Actes Sud)

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    Debaixo do título, L'ordre du jour , aparece a indicação Récit e de facto não se trata de um romance. Uma amiga minha, residente na Bélgica, trouxe-mo e falou muito nele e num outro, que espero ler em breve, Les amnésiques .      Este livro, pequeno em termos de dimensão, é  imenso, pelo tema que trata, pela forma como o aborda, pelas denúncias que faz, pelas personagens de que fala. Demorei muito tempo a lê-lo porque, com frequência, ia pesquisar  pessoas de que falava e os factos que relatava.     Em linhas gerais, o livro fala da anexação da Áustria por parte da Alemanha, da Anschluss, ou, mais concretamente do encontro entre Kurt von Schuschnigg, chanceler da Áustria, e Hitler, em que é imposto ao primeiro um acordo que amnistia os crimes perpetrados por nazis e designa para o governo um ministro também ele nazi. A conversa entre eles (imaginada? real?) é quase surrealista.   Schuschnigg tenta provar tudo o que os austríacos fizeram pela Alemanha e em desespero ci