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O General e o Juíz, Luís Sepúlveda (Edições Asa)

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    Em 1998 Pinochet foi preso quando se deslocou a Londres para ser submetido a uma cirurgia. Como era Senador pensava ter imunidade diplomática.  O juiz espanhol Baltazar Garzón aproveitou a situação para emitir um mandado internacional de prisão e solicitou sua extradição para a Espanha, na sequência de uma queixa apresentada pelo seu envolvimento na Operação Condor, que se destinava a perseguir e eliminar opositores de várias ditaduras sul-americanas (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Uruguai e Paraguai).      Pinochet esteve 503 dias detido, ao fim dos quais o Reino Unido não autorizou a sua transferência para a Espanha. Foi durante este período que Luís Sepúlveda publicou estas crónicas. Como escreve no texto inicial, reconhece com amargura que apesar de Pinochet não ter sido extraditado para Espanha, os artigos foram apreciados "(...) pelos que sofreram, pelos que sofrem, pelos que ainda mantém a esperança e não se cansam de afirmar que um outro mundo é possível.

Os livros que lemos em 2019

A Gorda   A Spot of folly Elogio da palavra Mau Tempo no Canal Hiroshima mon amour Luanda, Lisboa, Paraíso Língua mátria , A Ilha de Sukkwan   Romeu e Julieta , Os Reinos do Norte Aqui estou , The Madonnas of Leninegrad Escombros , Jardins de Canela , Águas da primavera Contos de Petersburgo , Como um romance , O Invisível A sonata de Kreutzer , Bom Dia, Tristeza , O Dono do Segredo A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert , A transparência do tempo Harry Potter e o Príncipe Misterioso , O domador de leões , O Prodígio A Amante do Governador , Timão de Atenas , Rei Lear , O Amigo Comum Todos ou nenhum , Pais e Filhos , Genética para Todos , Em Nome da Filha Um Artista do Mundo Flutuante , Orgulho e preconceito , O Homem Duplicado O ano em que Pigafetta completou a circum-navegação , O Carteiro de Pablo Neruda Harry Potter e os Talismãs da Morte , Mensagem de uma Mãe Chinesa Desconhecida A velocidade da luz , A Princesinha , Misery , Harry Potter e a

A Spot of folly, Ruth Rendell

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    Quando estamos assoberbados de trabalho não há nada melhor que ler um policial. Pelo menos para mim e especialmente quando a autora é Ruth Rendell. No caso não se trata de uma história apenas mas de 10 histórias e um quarto de homicídio e caos (Ten and a quarter new tales of murder and Mayhem).     Como em todas as coletâneas, há contos melhores que outros. Uma referência particular ao primeiro conto que tem apenas quatro linhas e meia e funciona, isto é, é verdadeiramente uma história, até com efeito final de surpresa.     O livro tem uma introdução interessante, de Sophie Hannah, em que nos fala da importância que os livros da Ruth Rendell tiveram durante os primeiros anos de faculdade. Conta também que numa apresentação que a autora fez falou da importância de agarrar o leitor desde a primeira linha. Como tenho a mania de ler a introdução depois de acabar de o livro respetivo, fui logo reler as primeiras linhas de cada conto, e é inegável que ela respeita esta regra: Ma

Elogio da palavra, Lamberto Maffei (edições 70)

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    A leitura deste livro, Elogio da palavra, foi mais uma vez sugerido por uma amiga, que mo foi dando a conhecer à medida que ela própria o lia. Lamberto Maffei, o autor, é médico e cientista, ligado à neurociência e neurobiologia e, como é referido na introdução, sabe dirigir-se a leitores leigos na matéria.     Com uma enorme simplicidade, sensibilidade e cultura, fala-nos sobre a palavra e a sua importância, mas simultaneamente interroga-se, interroga-nos, sobre as mudanças que assistimos com a introdução das novas tecnologias e como se irão repercutir na sociedade e também no nosso cérebro:     "(...) Em particular, quero analisar e refletir sobre a atitude de fuga em relação à palavra e à conversação, que muitas estatísticas revelam ser maciça entre os jovens e não só. Questiono-me naturalmente sobre o que acontecerá quando os jovens utilizadores de smartphones forem progenitores e deixar de haver o buffer, a modulação mitigada das gerações. Que modificações poderão

Mau Tempo no Canal, Vitorino Nemésio (Publicações Dom Quixote)

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    Uma amiga emprestou-me este livro que eu queria ler há algum tempo, dizendo-me que era um livro extraordinário. Não foi a única a dizer-mo. Mau Tempo no Canal integra a lista dos 12 melhores livros portugueses dos últimos 100 anos , selecionados por um júri convidado pela Estante . Um clássico, portanto, como refere Italo Calvino deveria dizer que estava a relê-lo e não a lê-lo. Mas, na realidade, só agora o li. E mais, confesso que não foi um livro fácil de ler.     À superfície é um livro sobre os Açores ou mais precisamente sobre as designadas ilhas do triângulo, Faial, Pico e São Jorge e sobre a vida dos seus habitantes no pós I Guerra Mundial. Uma sociedade profundamente estratificada e fechada, isolada do mundo e distante não só do continente como das outras ilhas, mesmo as mais próximas. A existência de doentes com peste sem qualquer auxílio médico é quase inimaginável. Contudo, a questão da situação da mulher parece-me ser o ponto central deste romance, personificada n

Hiroshima mon amour, Marguerite Duras (Folio)

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    Em agosto de 1945 os EUA lançaram uma bomba atómica em Hiroshima e poucos dias depois em Nagasaki. Calcula-se que morreram entre 150 a 240 mil pessoas, metade das quais logo nos primeiros dias. Nos  meses seguintes, as pessoas morreram queimadas ou devido à radiação.      Em 1959, Alain Resnais dirigiu o filme Hiroshima mon amour , com guião de Marguerite Duras, numa produção franco-japonesa. Li o livro e vi o filme há muitos anos. Reli-o agora antes de ir ver a interpretação de Fanny Ardant de Riva (elle), a personagem feminina de Hiroshima mon amour . Sozinha no palco, escuro, sóbrio - uma cadeira apenas - em diálogo com uma personagem masculina, de que se ouve somente a voz..     É surpreendente descobrir o que a memória guarda e perceber no início de algumas frases que as sabíamos de cor - Tu n'as rien vu à Hiroshima. Rien.     A historia decorre em 1957. Uma mulher francesa vai a Hiroshima, por uns dias, participar num filme sobre a paz e conhece um japonês por qu

José Mário Branco | Natália Correia

A propósito da morte hoje de José Mário Branco e quando tudo já foi dito, aqui fica, em forma de homenagem, o poema de Natália Correia, Queixa das almas jovens censuradas, que ele musicou. Mais que ler, um convite para ouvi-lo a cantar :   Dão-nos um lírio e um canivete E uma alma para ir à escola E um letreiro que promete Raízes, hastes e corola. Dão-nos um mapa imaginário Que tem a forma duma cidade Mais um relógio e um calendário Onde não vem a nossa idade. Dão-nos a honra de manequim Para dar corda à nossa ausência. Dão-nos o prémio de ser assim Sem pecado e sem inocência. Dão-nos um barco e um chapéu Para tirarmos o retrato. Dão-nos bilhetes para o céu Levado à cena num teatro. Penteiam-nos os crânios ermos Com as cabeleiras dos avós Para jamais nos parecermos Connosco quando estamos sós. Dão-nos um bolo que é a história Da nossa história sem enredo E não nos soa na memória Outra palavra para o medo. Temos fantas

A Ilha de Sukkwan, David Vann (Edições Ahab)

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        Confesso que a leitura deste livro foi um murro no estômago. Um livro doloroso, mas vertiginoso, de tal forma que dificilmente conseguia parar de ler. No início receei que a história evoluísse tranquilamente, entre pai e filho, ambos a (re)conhecerem-se e a amadurecerem na vivência solitária e assustadora da ilha de Sukkwan, perto do Alasca. Talvez por isso, tenha sido absolutamente inesperada e surpreendente a sucessão de acontecimentos, apesar dos sinais que, como muitas vezes acontece, só temos capacidade de ler depois.    Tenho dificuldade em explicar a razão pela qual, em determinados momentos, me recordava da obra O Deus das Moscas, de William Golding. Talvez porque n'A Ilha de Sukkwan também estavam afastados de qualquer civilização e, apesar de haver um adulto e uma criança, o primeiro não tinha a autoridade e os conhecimentos esperados, nem sequer estava preparado para enfrentar os problemas que iam surgindo:     "(...) Roy sentiu que se estabelecia uma

Língua mátria, contos inéditos de autores de língua portuguesa (The book company)

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   Entre os dias 21 e 29 de setembro realizou-se no Templo da Poesia o festival  Língua Mátria que contou diversas atividades, incluindo sessões com vários autores portugueses e exposições. No âmbito do festival foi editado este pequeno livro de contos que decidi comprar porque é uma maneira de conhecer os diversos autores de língua portuguesa que nele participaram: - David Capelenguela e Ngonguita Diogo, Angola; João Tordo , Teolinda Gersão e Patrícia Reis, Portugal; Luís Cardoso , Timor-Leste; Luís Carlos Patraquim, Mia Couto , Moçambique; Milton Hatoum, Brasil; Olinda Beja, São Tomé e Príncipe; Vera Duarte, Cabo Verde; e Waldir Araújo, Guiné-Bissaau.     Como em todas as colectâneas de diversos autores, os contos são muito distintos. Primeira surpresa, apesar de na contracapa se referir que Língua Mátria espelhar vários lugares e imaginários da lusofonia, o conto de João Tordo passa-se no Uruguai e o da Teolinda Gersão num lugar não identificado, mas remetendo-nos par