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A mostrar mensagens de janeiro, 2019

Páscoa Feliz, José Rodrigues Miguéis (ed. A Bela e o Monstro)

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    Foi a surpresa deste verão. Fininho, pequenino, jeitosinho, lê-se num dia. Não conhecia o autor, por mais que tivesse ouvido falar dele, não lhe lera quase nada. Depois descobri, pesquisando, que foi quem escreveu um conto que adorei ( Arroz do céu , ou algo do género).     É incrível a semelhança do registo Narrador/Personagem (o Renato) com o famosíssimo Mersault de O Estrangeiro , de Camus. Não desenvolvo este raciocínio porque não há nada pior do que « spoilar»   O Estrangeiro . Andava pelas vinte, trinta páginas engo(lidas em voz dramatizada), já me ia passando pela cabeça quão genial é este autor, quão extraordinária é esta personagem, que já assim, de supetão, lhe tenho vontade de dar cinco estrelas. Passo o resto do livro a recordar-me que é uma história publicada em 1932, está o Salazar a tornar-se Presidente do Conselho, há gente já a ser presa por fazer marotices anti-situação.    Passo o resto do livro, pendurada no testemunho do Renato e nem dou conta que

Seara de vento, Manuel da Fonseca (Editora Ulisseia)

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    Na pilha de livros que tenho para ler, resolvi entremear os recentes, que me foram agora oferecidos, com velhos livros que fui buscar às estantes familiares. Quando os estava a arrumar, folheei este e não consegui largá-lo.     A escrita, sobretudo, surpreendeu-me. Lê-lo é quase como ver o que nos é contado. A paisagem, a ventania, o forno derruído, as personagens. Avançamos pela história como se estivéssemos a seguir as indicações do encenador: Estão ambas junto da lareira apagada, sentadas nos mochos, sumidas nos vestidos pretos. Em redor, sombras espessas diluem as paredes e os recantos numa só mancha circular. Apenas as cantarias da lareira, batidas pela luz que vem da porta, se salientam aprumadas.     Mas o rigor das descrições é acompanhado de uma enorme riqueza de imagens: Às arrecuas, Amanda Carrusca procura o momento oportuno para novo pontapé. O vento enche-lhe as saias, a ponta do lenço, dobrada para o alto da cabeça, sobe como uma enorme crista negra.     

Harry Potter e a Câmara dos Segredos, J. K. Rowling (Editorial Presença)

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    A primeira vez que li Harry Potter e a Câmara dos Segredos tinha dez e tinha sido recentemente operada ao apêndice. Na altura, o feiticeiro ainda não era famoso e eu nem sabia da existência de um primeiro volume, Harry Potter e a Pedra Filosofal . Já nessa altura fiquei agarrada, mas lembro-me de ter achado o livro tenebroso, que me fez acender a luz a meio da noite várias vezes, para me assegurar de que não havia aranhas nem cobras a passear debaixo da minha cama. E confesso que entre as várias releituras, este costumava ser, para mim, o parente pobre da saga. Dezanove anos passados dessa primeira leitura, foi com um prazer imenso que reli este livro.     O mote, como no caso do primeiro, foi a visualização do filme - um objetivo para este ano: revisitar a história do meu companheiro de adolescência, Harry Potter. Mais uma vez, o filme é uma ténue sombra do livro, que, riquíssimo em detalhes, me encantou uma vez mais. Podendo argumentar-se que não se gosta do estilo ou da tem

O leitor do comboio, Jean-Paul Didierlaurent (Clube do Autor)

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    Adorei receber este livro, porque já o tinha visto e tinha imensa vontade de o ler. Só pelo título. Adoro ler no comboio . Os meus dias começam melhor quando posso ir de comboio e aproveitar a viagem de Paço de Arcos até Santos a ler. Já fotografei pessoas a ler no comboio, sem que elas dessem por isso, já perdi a estação onde devia sair porque estava concentrada a ler. Já baixei a cabeça para não falar com alguém (desculpem-me), porque tinha mesmo de acabar um livro. Por todas estas razões, este livro suscitou-me imensa curiosidade e a sua leitura não me desiludiu.     O leitor do comboio lê para os restantes passageiros páginas de livros que ele salva de serem destruídas numa máquina que recicla - destrói - livros. O trabalho intensifica-se com a aproximação do Salão do Livro de Paris: A rentrée literária de setembro e o período propício aos prémios existiam desde há muito. Tornava-se necessário arranjar espaço, esvaziar os expositores de tudo o que não se vendera.     Não

Ian McEwan em Filmes

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    Ainda antes de darmos início a esta aventura que é o nosso Clube de Leituras, já éramos leitoras assíduas dos romances de Ian McEwan. No ano que terminou, chegaram aos grandes ecrãs portugueses duas adaptações de bons livros do autor, dos quais foi também o argumentista: Na Praia de Chesil e A Balada de Adam Henry . O autor conta ainda com outras seis adaptações de romances, além de alguns trabalhos como argumentista ou adaptações de pequenas histórias. Devido a esta estreita ligação ao cinema, muitas das suas reedições, da Gradiva, ostentam na capa imagens do filme a que deram origem.      Se, no geral, os filmes ficam aquém dos livros respetivos, nestas adaptações encontramos algumas exceções. Para darmos as boas vindas ao novo ano, deixamo-vos com uma compilação dos romances de Ian McEwan que foram adaptados para filme. NA PRAIA DE CHESIL  (finalista do Man Booker Prize) Primeira publicação : 2007  Resumo : Passado em 1962, leva-nos à noite de núpcias de Florence

Aqui estou, Jonathan Safran Foer (Alfaguara)

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   De Jonathan Safran Foer li os dois romances anteriores, Está tudo iluminado e Extremamente alto e incrivelmente perto .  São ambos livros mágicos, pela história, pela escrita, pelas personagens. Pela originalidade. Livros que não se esquecem. Ambos deram origem a filmes também fantásticos. Surpreendentes até pela forma como foram transpostas para a tela as duas histórias. Um desafio que, particularmente no caso do Extremamente alto e incrivelmente perto , me parecia impossível de concretizar. Jonathan Safran Foer fez-nos esperar por este novo livro alguns anos, foi por isso com imensa expetativa que o recebi (foi a prenda de Natal dos meus filhos) e o passei à frente dos livros que aguardam que os leia. Quase 700 páginas depois confesso o meu desapontamento. Tem momentos excelentes que nos lembram os dois livros anteriores, mas são esporádicos. Apesar de ter lido numa entrevista ao autor que este recusa o carácter autobiográfico do livro, não o consigo entender de outr

Harry Potter e a Pedra Filosofal, J. K. Rowling (Editorial Presença)

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    Natal é sinónimo de magia; magia é sinónimo de Harry Potter. E o Natal já não é Natal sem voltar a ver os filmes que fizeram toda uma geração sonhar. Mas, como boa livrólica que sou, e fã - muito fã - desse universo maravilhoso criado por J. K. Rowling, não consigo ver os filmes sem querer saber tudo o que ficou por contar e que posso encontrar nos livros. Por isso, neste início de ano, depois voltar a ver o primeiro filme da saga, lá dei por mim agarrada ao livro - que, como antigamente, li num suspiro.    Serão poucas as pessoas que não sabem quem é Harry Potter; ainda assim, não vou deixar de fazer uma recensão há muito devida - não fosse já ter perdido a conta às releituras.     Harry Potter vive com os tios e o primo, numa existência absolutamente infeliz, desde que, com um ano, os seus pais foram mortos por Voldemort, o mais terrível feiticeiro negro que a comunidade conheceu. Harry sobreviveu, sem se saber como, apenas com uma cicatriz em forma de raio e, com isso,

O Haiku das Palavras Perdidas, Andrés Pascual (Gradiva)

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    Ainda estou em processo de assimilação desta história, depois de ter fechado o livro há dois dias. Foi o primeiro livro que li de Andrés Pascual e fiquei rendida. Há um bom tempo que não me sentia tão envolvida num romance. O autor transporta-nos, à vez, até Nagasáqui de 1945, nos momentos que antecederam e que se sucederam ao lançamento da bomba atómica, e, já em 2011, a Quioto, Genebra e Alpes Suíços. São duas histórias ou, se quisermos, dois lados de uma mesma história que começou com o amor de dois jovens de treze anos: Kazuo (Victor) e Junko.     Kazuo, holandês, perdeu os pais quando era pequeno, tendo sido adotado pelo amigo japonês destes, o doutor Sato, e a sua mulher. Destoando pelo seu cabelo loiro e «olhos de peixe», cresce com os costumes japoneses e conhece Junko na escola. Juntos, costumam subir a colina e observar o campo dos prisioneiros aliados. Um dia, Junko comunica-lhe que vai fazer um jogo com ele, como a sua mãe está a fazer com ela, trazendo-lhe, à vez,

A balada da praia dos cães, José Cardoso Pires (o jornal)

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    Crescer tem destas coisas. Foi livro que pus de lado há muitos anos, por então ter uma maturidade literária mais para o verdusco. O autor inova demais, pensei na época. Out of my league .     Cresci e dei-lhe outra oportunidade. Adorei o desafio de o ler como se tivesse de o decifrar enquanto romance. É um relatório? É um relato? Aconteceu? Não aconteceu? É um daqueles livros que emprega a repimpada arte do fluxo de consciência?     Pus de parte a ideia de lhe compreender a trama (que é vício de quem leu tudo o que a Dama do Crime escreveu). Resolvi-me a seguir os passos do personagem principal, o chefe de Brigada Elias Santana (que foi sempre o Raul Solnado na minha imaginação), atribuir-lhe uns trejeitozitos de Poirot à alentejana e deleitar-me com as mudanças de humor do narrador (que é também a imaginação febril de Elias). Embora a autoria da investigação pertença à PJ, não podemos esquecer que o crime se dá em 1960, tem contornos políticos, a Pide paira, mas não chega