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A mostrar mensagens de março, 2019

Genética para Todos - de Mendel à Revolução Genómica do Século XXI: a prática, a ética, as leis e a sociedade; Heloísa G. Santos, André Dias Pereira (Gradiva)

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   No passado dia 15 de fevereiro a Gradiva lançou o livro Genética para Todos - de Mendel à Revolução Genómica do Século XXI: a prática, a ética, as leis e a sociedade, numa sessão seguida de debate que contou a presença dos autores e intervenções de P rofessor Doutor Carlos Ribeiro e Doutor Alexandre Lourenço.     Dada a minha formação e particular interesse no tema, este livro despertou desde cedo a minha atenção e foi um prazer para mim assistir à sessão-debate e voltar a ouvir termos familiares sob um prisma não meramente científico mas de conotação ética.     O livro, um pequeno livro, escrito com o objetivo elucidar a comunidade leiga quanto aos avanços na área da genética e os potenciais riscos que estes podem vir trazer sem o devido controlo - tanto a nível legal como com o devido e correto acesso à informação disponível.    Não se trata, portanto, de um livro sobre Genética explicada de forma acessível - como eu depreendi pelo título -, mas sim de um conjunto de conside

O Amigo Comum, Charles Dickens (Relógio D' Água)

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       Depois de ter começado há cerca de duas semanas a leitura de O Amigo Comum , invoco o meu direito de não acabar um livro e vou parar de o ler.      Admito que um dia volte a pegar nele, até porque reconheço a qualidade da escrita que, confesso, me surpreendeu. Durante a minha juventude li alguns livros de Charles Dickens, embora não saiba dizer se eram versões adaptadas ou não. Apesar da minha decisão de parar de o ler, li os primeiros capítulos com imensa curiosidade e interesse. O Amigo Comum , o último romance de Charles Dickens, começa assim:    « Nos nossos dias, não interessa o ano, ao cair de uma tarde de Outono, um bote sujo e com mau aspeto flutuava no rio Tamisa entre a Ponte de Southwark, que é de ferro, e a Ponte de Londres, que é de pedra.»     Mas se o início é cativante, abundam ao longo do livro descrições de pessoas, cenas ou cenários que surpreendem, divertem ou deslumbram, parecendo por vezes uma obra contemporânea:     «( ...) o negócio de ações é a

A Amante do Governador, José Rodrigues dos Santos (Gradiva)

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    Mais um lançamento do autor português mais prolífico da atualidade – se não em número de livros, seguramente em número de páginas!     A Amante do Governador (717 páginas) é o fecho da trilogia composta por As Flores de Lótus , de 2015 (683 páginas), O Pavilhão Púrpura , de 2016 (698 páginas), e O Reino do Meio , de 2017 (700 páginas). Pelo meio, o autor ainda lançou dois livros de Tomás Noronha, Vaticanum , em 2016 (600 páginas), e Sinal de Vida , em 2017 (654 páginas). Uma bonita média de 1 000 páginas editadas por ano. Há quem chame a isto literatura a metro, há quem considere que José Rodrigues dos Santos (JRS) conta histórias, explana os seus conhecimentos enciclopédicos e, na verdade, ajuda-nos a melhor entender a História e o Mundo em que vivemos.     Começo pela trilogia, em que o narrador Jorge Lobo, em fim de vida, conta a história de quatro personagens principais: Artur, Fukui, Lian-hua e Nadja, a que se deve ainda adicionar Sawa. Ao descrever as vidas deles,

Timão de Atenas e Rei Lear, William Shakespeare (Relógio D'Água e Caminho)

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      A leitura da obra Timão de Atenas foi feita para a disciplina da Escrita para Teatro. Confesso que não conhecia esta obra de Shakespeare, considerada uma peça menor, pelo que fiquei surpreendida ao descobrir que já tinha sido levada a cena muitas vezes, mesmo em Portugal,  que H. Purcell  compôs uma ópera  e que Duke Ellington compôs igualmente a música Timon of Athens . Confesso também que não gostei particularmente de ler esta peça. Para além de me parecer uma obra fragmentada, dividida em duas partes, a história é pouco interessante. Mesmo o exercício de procura de um significado menos evidente ou menos óbvio para a peça e, sobretudo, para o próprio Timão, não tornou a peça mais apelativa.     Quando concluí a leitura, e por me parecer que a questão podia não residir na obra em si, mas na minha falta de hábito de leitura de peças de teatro, para mais de época, decidi ler o Rei Lear.      E, neste caso, a minha experiência foi totalmente diferente. Nem o facto de co

Em Nome da Filha, Carla Maia de Almeida (Fundação Francisco Manuel dos Santos)

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    O tema é atual. Nunca deixa de o ser, mas Portugal está agora com uma atenção muito maior às questões de violência e, particularmente, violência doméstica.      Nesta hora que dobra o dia 7 em dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher, despedimo-nos daquele que o governo decretou como Dia de Luto Nacional pelas (agora já) 12 vítimas mortais nos meros 66 dias que contamos desde a virada do ano. Foi por coincidência que o pequeno livro que é alvo de opinião nesta nova publicação me acompanhou hoje, sem saber ainda se lhe conseguiria pegar.   Também abri-lo foi por um simples acaso - o de ter terminado o livro anterior (que aparecerá num outro post , posterior) -; já tê-lo terminado ainda hoje, escassas horas após ter iniciado a leitura, foi inevitável.    Uma reportagem  (assim lhe chama a autora) dividida em três partes: a primeira, a vida de uma filha que presenciou o assassinato da mãe pelo pai; a segunda, relatos de vítimas de violência doméstica, na altura em casas

Um Artista do Mundo Flutuante, Kazuo Ishiguro (Gradiva)

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    Este livro deixou-me absolutamente dividida - o que justifica, em parte, o tempo entre o fim da sua leitura e a minha recensão da mesma neste blogue.    Recorrendo à fórmula a que já nos habituou e de que, pessoalmente, gosto bastante, a história, narrada na primeira pessoa, é como que um discorrer de memórias dentro de memórias. Em qualquer dos seus romances já lidos - Nunca  Me Deixe s , The Remains of the Day ( Os Despojos do Dia ) e O Gigante Enterrado - encontramos esta forma de escrever, mas diria que este é aquele que mais se aproxima do primeiro, que é, sem dúvida, para mim, o seu melhor romance e o que me fez ler todos os seguintes (que não lhe chegaram aos «calcanhares»).     Se me perguntarem se gostei do livro, direi que sim. Se me perguntarem do que trata, responderei que me parece ser a análise de uma vida e de como as nossas ações podem vir a ter influências imprevisíveis no futuro. Mas também pode não ser exatamente isso...  Narrado na primeira pessoa, somo