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A mostrar mensagens de junho, 2019

O Carteiro de Pablo Neruda, Antonio Skármeta (Editorial Teorema)

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    Reparei neste pequeno livro a espreitar-me da estante da minha avó. Reparei uma vez, voltei a reparar na semana seguinte, e novamente na seguinte, até que, por fim, me decidi a trazê-lo comigo. Trata-se de um livro pequenino e velhinho, daqueles já com manchas amareladas a contarem o tempo das páginas, que contam uma história que me recordo de conhecer de há muitos anos - não fora este o livro que deu origem ao filme homónimo, realizado por  Michael Radford em 1994. Neste romance, ficamos a conhecer a história de Mario Jiménez, que, em 1969, passou a ser carteiro na Ilha Negra, onde habitava apenas um correspondente: o poeta Pablo Neruda. Com o intuito de se fazer valer de uma relação de proximidade com o poeta para conseguir a atenção das mulheres, Mario Jiménez tenta que o escritor lhe faça uma dedicatória num dos seus livros. Acaba por lhe correr melhor. Ao entregar-lhe uma missiva que incluía uma carta da Suécia. o carteiro questiona Neruda quanto à sua avidez por co

A velocidade da luz, Javier Cercas (Edições Asa)

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   Ao contrário de algumas pessoas que conheço que lêem mais do que um livro ao mesmo tempo, saltando de um para outro ao longo do dia ou dos dias, eu só consigo ler um livro de cada vez. Tenho de acabar o que estou a ler ou pelo menos decidir que interrompo a leitura porque começo a ler outro, e só quando  acabo este reinicio - ou não - a leitura do que abandonei.    É quase como se tivesse de manter uma relação de exclusividade com a história, com as personagens que habitam cada livro, impedindo-me de as abandonar a meio. Mas foi o que aconteceu com este livro, ou melhor com o que abandonei antes de o acabar, inadvertidamente, porque me esqueci dele. Comecei a ler este, A Velocidade da Luz , e não consegui parar.     Confesso que inicialmente estranhei a mancha gráfica, onde praticamente não existem parágrafos e são raros os diálogos. A acrescer a isto, o livro só tem quatro capítulos, pelo que as páginas se sucedem, compactas e densas, contudo isto não dissuade o leitor de c

A Princesinha, Frances Hodgson Burnett (Bertrand Editora)

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    Uma das minhas mais queridas recordações de infância é das noites passadas em casa dos meus avós, deitada na cama, com a minha avó a ler-me, por bocadinhos, a história d' A Princesinha , de Frances Hodgson Burnett, e do meu avô a abrir devagarinho a porta, para nos assustar, dizendo que o lobo mau ia devorar a Princesinha.      Sempre me foi uma história querida, porque é uma história mágica, uma história de esperança, e porque eram os meus momentos de princesa dos meus avós.     O ano passado, na Feira do Livro, decidi comprá-lo, para poder ter um volume desta obra querida na minha estante e, quem sabe, vir a lê-la aos meus filhos, como a minha avó me lia a mim.     Depois da crueza de Misery , precisava de ler alguma coisa bonita e simples.    A leitura foi muito rápida. O livro lê-se extremamente bem  e devo salientar que a tradução e a revisão são irrepreensíveis! Ainda assim, fiquei um pouco indignada com algumas das cenas e ocorrências que passam na história - mai

Feira do Livro 2019

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    Acabada a Feira do Livro deste ano, estes foram os livros que comprei. Menos que desejava seguramente, mas para além do preço dos livros, tenho que me lembrar daqueles que ainda aguardam que os leia, pousados em cima do baú do meu quarto e no chão, numa pilha que não cai porque os livros estão devidamente entalados entre a parede e a mesinha de cabeceira. Mas é difícil resistir a comprar quando temos a oportunidade de nalgumas centenas de metros quadrados encontrar praticamente todas as editoras, e, nalguns casos, os livros a preços de ocasião.      A sensação que foram muito menos livros do que queria resulta também do facto de alguns dos livros que comprei se destinarem a prendas.     Neste lamento sobre os livros que não posso (ou não pude comprar) o Biblioteca-me lembrou-me o poema de Jorge de Sena, Ode aos livros que não posso comprar , de que roubei os primeiros e os últimos versos:     Hoje, fiz uma lista de livros,     e não tenho dinheiro para os poder comprar,

Misery, Stephen King (Hodder and Stoughton)

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    Creio que, pelo menos para os próximos anos, dou assim por encerrada a leitura de Stephen King. Não quero que me interpretem mal - é um escritor exímio! Os três livros que li - este,  A Cúpula  e  Rose Madder  -, li-os no original e volto a frisar que é uma leitura muito simples e acessível... Para quem goste do estilo. E no entanto, os três livros não poderiam ser mais distintos. Se o primeiro me encantou pela sua vertente de ficção científica como forma de expor a vulnerabilidades humanas e o segundo me falou pelo tema da violência doméstica, Misery versa sobre a doença mental no seu extremo. Está tão bem escrito, que todos os leitores se sentirão Paul Sheldon, receosos, assustados, drogados. Esse é, para mim, o melhor do autor: a forma de descrever as cenas é tão real que é mesmo como se fosse connosco - para o bem e para o mal.     Paul Sheldon é um escritor que procura afastar de si a marca da sua coleção bestseller , os livros sobre Misery Chastain. Por isso, decide que

Harry Potter e a Ordem da Fénix, J. K. Rowling (Editorial Presença)

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    Sou daquele tipo de leitores chatos que não aceitam ouvir sequer uma linha à frente do que estiverem a ler, porque querem descobrir tudo o que se vai passar e saborear essa mesma descoberta. Porém, quebro essa regra a cada (re)leitura dos livros da saga Harry Potter.      Tendo decidido voltar a lê-la de fio a pavio este ano, confesso um grande prazer em revisitar este mundo mágico, como já terá ficado evidente nas minhas entradas sobre os livro um , dois , três e quatro . Para meu espanto, descubro mesmo um prazer renovado nestas leituras, pois já passaram quase dez anos desde que comecei a ler saga, e aquilo que me desperta a atenção hoje é diferente do que me encantava antes. Direi mesmo que, no caso de HP, é o saber a história já que me dá tanto gozo em lê-la, não só porque parece que estou a reencontrar amigos de há muitos anos, mas também porque consigo apreciar a criatividade e a coerência da autora. Como sei o que vai acontecer à frente, estou mais atentas às pistas q

Berta Isla, Javier Marías (Alfaguara)

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    Andava cheia de vontade de ler este livro, mesmo antes do Diogo mo oferecer. Mais uma vez ele acertou em cheio. Era a capa - lindíssima - e o resumo na contracapa que me atraíam:     « Berta Isla é a história de uma mulher que espera e se transforma. A história de um amor imperfeito, como o são todos.»     E se o início não desmereceu a expetativa, confesso que a meio do livro fui arrastando a leitura, até aos últimos capítulos que, de novo, me entusiasmaram, mas aqui mais pela história que pela escrita.     É  uma versão dos tempos modernos do Coronel Chabert do Balzac, livro que, curiosamente, ele também refere em Os enamoramentos . Mas em Berta Isla, ao contrário de outras adaptações, a maior parte do livro é dedicado ao período que antecede o regresso, ou seja, ao período do afastamento, da dúvida, do desconhecimento do destino do outro.     A sensação que tive é que a escrita é muito mais interessante quando o tom é intimista. Nos capítulos iniciais e finais e, muit