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A mostrar mensagens de setembro, 2019

Escombros, Elena Ferrante (Relógio D' Água)

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       Antes de escrever sobre este livro, Escombros (gosto do título, da sua sonoridade), tenho que confessar que me irritou imenso o fenómeno Elena Ferrante. De repente toda a gente falava nela, sobretudo após a edição da tetralogia d' A Amiga Genial, e eu justificava o meu desinteresse na sua leitura recorrendo a uma citação do Somerset Maugham:     "Sei por experiência própria que quando um livro causa sensação convém esperar um ano antes de tomar conhecimento dele. É surpreendente a quantidade de livros que, ao cabo, nos dispensamos de ler."     Irritava-me particularmente a discussão sobre a identidade da autora (será de facto uma autora?) e considerava a decisão dela  de não aparecer, nem se identificar, para além da indicação do nome, como uma forma de promoção, que,  paradoxalmente com o que é a prática atual, funcionava.     Revi a minha posição quer quanto aos livros dela que já li, A Amiga Genial , História do Novo Nome , História de quem vai e de

LÍNGUA MÁTRIA - Festival Literário e Feira do Livro de Oeiras

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    A propósito do Festival Literário de Oeiras, Língua Mátria, recordamos alguns dos livros de autores que teremos oportunidade de ver e ouvir nos dias 28 e 29 de setembro: Pepetela Crónicas maldispostas, conjunto de crónicas do autor publicadas na revista mensal angolana África 21, entre 2007 e 2015; Lueji , que cruza as histórias de Lueji, rainha da Lunda, e de Lu, uma bailarina conceituada e aparentemente tetraneta de Lueji; Luís Cardoso O ano em que Pigafetta completou a circum-navegação , um relato da luta dos timorenses pela sua independência e uma homenagem às mulheres e aos homens que de diferentes formas contribuíram para este desfecho; Para onde vão os gatos quando morrem? O livro está dividido por dias e vai, de forma sequencial, até ao vigésimo dia. Como refere Frei Bento Domingues no Prefácio, este « romance é escrito como uma parábola bíblica. Acompanha-o A Criação do Mundo, de Miguel Torga, outra parábola bíblica quase laicizada».  Germano Alme

Jardins de Canela, Shyam Selvadurai (Bizâncio)

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    Há livros que apesar de lidos, queremos guardar. Podemos nunca mais pegar neles, mas gostamos de os saber ao nosso alcance. Que temos a possibilidade de os voltar a ler quando quisermos.      Foi o que aconteceu com este livro que consegui adquirir na editora, a preço de feira porque era o último exemplar e já tinha sido manuseado, depois de o ter procurado em vão em livrarias e alfarrabistas. Justamente porque me foi pedido que o procurasse por quem já o tinha lido mas queria guardar. Não vai por isso ficar comigo, mas antes de o entregar tive oportunidade de o ler e me apaixonar por ele também.    O autor, Shyam Selvadurai, canadiano, nasceu no Ceilão, atual Sri Lanka, filho de uma mãe de origem cingalesa e de um pai de origem tâmul. Bastou ler estas indicações na badana para me consciencializar do pouco que sei da história deste país que se tornou independente em 1948, tendo sido colonizado por vários países europeus, incluindo Portugal e, até à independência, pelo Reino

A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert. Joël Dicker (Alfaguara)

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    Comecei a ler este livro porque vi os primeiros episódios da série , que me estava a prender, mas que, infelizmente, não consegui terminar. Além disso, se a série estava interessante, o livro devia ser espetacular! Isto porque nas adaptações televisivas há sempre pormenores que não cabem e que só temos acesso se lermos a história original.      Assim que o comecei a ler, ouvi todo o tipo de opiniões: «o livro é espetacular», «o livro é uma desilusão», «o livro está a fazer imenso sucesso», «o livro é muito pobre», «se gostas da série, dizem que o livro está muito bom!», «esse livro?, a meio já tinha percebido tudo... só li o fim para confirmar»... O que ainda dá mais vontade de ler! Quanto mais não seja, para formar uma opinião. E formei-a. Adorei o livro por duas coisas em particular: a história e o foco sobre o processo da escrita.     Quanto ao primeiro ponto, gostei imenso das mil e uma reviravoltas em que o leitor é apanhado, mas, acima de tudo, gostei da forma, como m

A transparência do tempo, Leonardo Padura (Porto Editora)

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        E se a história de um crime e da sua investigação servir apenas para falar sobre muitas outras questões, presentes e passadas,  ainda assim estamos perante um policial?     Apesar de ser mais um livro protagonizado por Mario Conde, que é contratado por um antigo colega para recuperar uma estátua de uma virgem negra, esta é de facto a parte menos importante da história, quase só o pretexto para viajarmos no tempo e no espaço, sendo o elo de ligação uma estátua da Virgem negra. Viajamos entre Cuba, no presente (2014), a guerra civil de Espanha (1936), a independência catalã, as guerras de Aragão (1472), até às batalhas dos Templários contra os infiéis, em Tripoli  (1291).     E simultaneamente acompanhamos as reflexões do Mario Conde - alter ego do autor - sobre a idade, o envelhecimento e a decisão de permanecer ou abandonar Cuba. O ambiente permanece o mesmo, a relação com Tamara, os amigos, o cão Basura II, as faltas e a escassez de dinheiro. Ao lado de Mario C

Águas da primavera, Ivan Turguéniev (Relógio D' Água)

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    Há livros que lemos, apressadamente, só porque não conseguimos parar de ler embora saibamos que devíamos  apreciá-los lentamente. Reler cada página antes de passar à próxima, mas em vez disso apressamo-nos a continuar. Foi assim que li este romance, Águas da primavera , sem parar. Confesso, contudo, que não sei  dizer exatamente o que o torna especial.     No inicio do romance, o protagonista, Dmítri Pávlovitch Sánin, tem 51 anos e não encontra justificação para nenhuma das épocas da sua vida . Sofre com a perspetiva da velhice, da doença e da morte. Para afastar os pensamentos que o atormentam, mexe nas suas coisas e encontra uma pequena cruz guarnecida de granadas. Recorda então o que se passou alguns anos antes, no Verão de 1840, quando tinha 22 anos e, no regresso à Rússia, vindo de Itália, passa por Frankfurt.     Termina por ficar em Frankfurt onde conhece Gemma por quem se apaixona, o irmão Emil e a mãe de ambos, uma família italiana ali radicada há já alguns anos. Co