Mensagens

A mostrar mensagens de novembro, 2019

Hiroshima mon amour, Marguerite Duras (Folio)

Imagem
    Em agosto de 1945 os EUA lançaram uma bomba atómica em Hiroshima e poucos dias depois em Nagasaki. Calcula-se que morreram entre 150 a 240 mil pessoas, metade das quais logo nos primeiros dias. Nos  meses seguintes, as pessoas morreram queimadas ou devido à radiação.      Em 1959, Alain Resnais dirigiu o filme Hiroshima mon amour , com guião de Marguerite Duras, numa produção franco-japonesa. Li o livro e vi o filme há muitos anos. Reli-o agora antes de ir ver a interpretação de Fanny Ardant de Riva (elle), a personagem feminina de Hiroshima mon amour . Sozinha no palco, escuro, sóbrio - uma cadeira apenas - em diálogo com uma personagem masculina, de que se ouve somente a voz..     É surpreendente descobrir o que a memória guarda e perceber no início de algumas frases que as sabíamos de cor - Tu n'as rien vu à Hiroshima. Rien.     A historia decorre em 1957. Uma mulher francesa vai a Hiroshima, por uns dias, participar num filme sobre a paz e conhece um japonês por qu

José Mário Branco | Natália Correia

A propósito da morte hoje de José Mário Branco e quando tudo já foi dito, aqui fica, em forma de homenagem, o poema de Natália Correia, Queixa das almas jovens censuradas, que ele musicou. Mais que ler, um convite para ouvi-lo a cantar :   Dão-nos um lírio e um canivete E uma alma para ir à escola E um letreiro que promete Raízes, hastes e corola. Dão-nos um mapa imaginário Que tem a forma duma cidade Mais um relógio e um calendário Onde não vem a nossa idade. Dão-nos a honra de manequim Para dar corda à nossa ausência. Dão-nos o prémio de ser assim Sem pecado e sem inocência. Dão-nos um barco e um chapéu Para tirarmos o retrato. Dão-nos bilhetes para o céu Levado à cena num teatro. Penteiam-nos os crânios ermos Com as cabeleiras dos avós Para jamais nos parecermos Connosco quando estamos sós. Dão-nos um bolo que é a história Da nossa história sem enredo E não nos soa na memória Outra palavra para o medo. Temos fantas

A Ilha de Sukkwan, David Vann (Edições Ahab)

Imagem
        Confesso que a leitura deste livro foi um murro no estômago. Um livro doloroso, mas vertiginoso, de tal forma que dificilmente conseguia parar de ler. No início receei que a história evoluísse tranquilamente, entre pai e filho, ambos a (re)conhecerem-se e a amadurecerem na vivência solitária e assustadora da ilha de Sukkwan, perto do Alasca. Talvez por isso, tenha sido absolutamente inesperada e surpreendente a sucessão de acontecimentos, apesar dos sinais que, como muitas vezes acontece, só temos capacidade de ler depois.    Tenho dificuldade em explicar a razão pela qual, em determinados momentos, me recordava da obra O Deus das Moscas, de William Golding. Talvez porque n'A Ilha de Sukkwan também estavam afastados de qualquer civilização e, apesar de haver um adulto e uma criança, o primeiro não tinha a autoridade e os conhecimentos esperados, nem sequer estava preparado para enfrentar os problemas que iam surgindo:     "(...) Roy sentiu que se estabelecia uma

Língua mátria, contos inéditos de autores de língua portuguesa (The book company)

Imagem
   Entre os dias 21 e 29 de setembro realizou-se no Templo da Poesia o festival  Língua Mátria que contou diversas atividades, incluindo sessões com vários autores portugueses e exposições. No âmbito do festival foi editado este pequeno livro de contos que decidi comprar porque é uma maneira de conhecer os diversos autores de língua portuguesa que nele participaram: - David Capelenguela e Ngonguita Diogo, Angola; João Tordo , Teolinda Gersão e Patrícia Reis, Portugal; Luís Cardoso , Timor-Leste; Luís Carlos Patraquim, Mia Couto , Moçambique; Milton Hatoum, Brasil; Olinda Beja, São Tomé e Príncipe; Vera Duarte, Cabo Verde; e Waldir Araújo, Guiné-Bissaau.     Como em todas as colectâneas de diversos autores, os contos são muito distintos. Primeira surpresa, apesar de na contracapa se referir que Língua Mátria espelhar vários lugares e imaginários da lusofonia, o conto de João Tordo passa-se no Uruguai e o da Teolinda Gersão num lugar não identificado, mas remetendo-nos par