Princípio de Karenina, Afonso Cruz (Companhia das Letras)
Soube-me muito bem ler esta novela, Princípio de Karenina. Um livro simultaneamente leve e difícil. Em muitos momentos, poesia em forma de prosa: « Havia breves e raros momentos em que a nossa casa sorria, quando de manhã a criada da Mealhada abria as janelas, para arejar a casa, e as cortinas esvoaçavam. Ou quando eu me reclinava nos acordes, como se fossem divãs, que a minha mãe tocava ao piano . [...] Todas as noites, a minha mãe, ao inclinar-se sobre mim, parecia despedir-se. Acho que ela sentia mesmo isso, que por cada dia que passava havia uma parte de mim ou dela que ia embora.» Conforme explica no final, este livro nasceu de uma viagem ao Camboja e ao Vietname, organizada pelo Centro Nacional de Cultura, em 2017, cujo objetivo seria encontrar vestígios de nós próprios pelo mundo, em lugares tão distantes como a Conchinchina. Conchinchina foi o nome dado pelos portugueses a uma região situada no sul do atual Vietname, na Indochina, mas é também, entre n