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A mostrar mensagens de setembro, 2020

Princípio de Karenina, Afonso Cruz (Companhia das Letras)

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        Soube-me muito bem ler esta novela, Princípio de Karenina. Um livro simultaneamente leve e difícil. Em muitos momentos, poesia em forma de prosa:     « Havia breves e raros momentos em que a nossa casa sorria, quando de manhã a criada da Mealhada abria as janelas, para arejar a casa, e as cortinas esvoaçavam. Ou quando eu me reclinava nos acordes, como se fossem divãs, que a minha mãe tocava ao piano . [...]     Todas as noites, a minha mãe, ao inclinar-se sobre mim, parecia despedir-se. Acho que ela sentia mesmo isso, que por cada dia que passava havia uma parte de mim ou dela que ia embora.»     Conforme explica no final, este livro nasceu de uma viagem ao Camboja e ao Vietname, organizada pelo Centro Nacional de Cultura, em 2017, cujo objetivo seria encontrar vestígios de nós próprios pelo mundo, em lugares tão distantes como a Conchinchina. Conchinchina foi o nome dado pelos portugueses a uma região situada no sul do atual Vietname, na Indochina, mas é também, entre n

Neve, Orhan Pamuk (Editorial Presença)

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    Demorei muito tempo a ler este romance, Neve, de Orhan Pamuk. É um livro lento, detalhado e tão compacto que nos obriga a ler devagar.         Ka, um poeta turco, a residir na Alemanha, vai a Istambul para o enterro da mãe e depois a Kars, cidade situada no extremo nordeste da Turquia, para cobrir as eleições e talvez escrever um artigo a propósito das raparigas sucidárias. Quanto a estas raparigas, a dada altura é dito a Ka:      "É verdade que a causa dos suicídios reside na extrema infelicidade das nossas raparigas, disso não há qualquer dúvida. (...) Mas se a infelicidade fosse uma verdadeira causa de suicídio, metade das mulheres da Turquia ter-se-iam suicidad o."    São várias as histórias e as razões para estas jovens se suicidarem, mas o que mais o horroriza é a tranquilidade com que são encarados os suicídios [“… a maneira   como as suicidas se inseriam tão espontaneamente na banal vida quotidiana, sem aviso, sem cerimoniais .(…) o facto de as jovens terem se