Caderno de Memórias Coloniais, Isabela Figueiredo (Caminho)
O Caderno de Memórias Coloniais foi editado em 2009. Esta é a 8.ª edição (maio de 2018), o que é indiciador do interesse que suscitou. Ao lê-lo, senti o mesmo que tinha sentido quando li A Gorda, a surpresa perante o desassombro com que a Autora fala dela própria, do corpo, dos seus desejos e sentimentos, num registo assumidamente autobiográfico. E da forma pouco habitual como fala do pai, da sexualidade paterna ( Ele sentia prazer em viver e gostava de comer, beber e foder. ..), bem como da sexualidade dos adultos, em especial das mulheres: « Uma branca não admitia que gostasse de foder, mesmo que gostasse. E não admitir era uma garantia de seriedade para o marido, para a imaculada sociedade toda. As negras fodiam, essas sim, com todos e mais alguns, com os negros e os maridos das brancas, por gorjeta, certamente, por comida ou por medo. E algumas talvez gostassem, e guinchassem, porque as negras eram animais e podiam guinchar. Mas, sobretudo, porque as negras autorizavam-se a