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A mostrar mensagens de outubro, 2020

Caderno de Memórias Coloniais, Isabela Figueiredo (Caminho)

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  O Caderno de Memórias Coloniais foi editado em 2009. Esta é a 8.ª edição (maio de 2018), o que é indiciador do interesse que suscitou. Ao lê-lo, senti o mesmo que tinha sentido quando li A Gorda,   a surpresa perante o desassombro com que a Autora fala dela própria, do corpo, dos seus desejos e sentimentos, num registo assumidamente autobiográfico. E da forma pouco habitual como fala do pai, da sexualidade paterna ( Ele sentia prazer em viver e gostava de comer, beber e foder. ..), bem como da sexualidade dos adultos, em especial das mulheres:     « Uma branca não admitia que gostasse de foder, mesmo que gostasse. E não admitir era uma garantia de seriedade para o marido, para a imaculada sociedade toda. As negras fodiam, essas sim, com todos e mais alguns, com os negros e os maridos das brancas, por gorjeta, certamente, por comida ou por medo. E algumas talvez gostassem, e guinchassem, porque as negras eram animais e podiam guinchar. Mas, sobretudo, porque as negras autorizavam-se a

Khan al-Khalili, Naguib Mahfouz (Civilização Editora)

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    Não sei há quanto tempo tinha este livro à espera de ser lido. Por vezes, entre dois livros, abria-o, folheava-o, mas voltava a pô-lo de lado.  Desta vez, mal comecei a lê-lo tive dificuldade em interromper a leitura.     O autor, Naguib Mahfouz, ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1988. Este romance, Khan al-Khalili, foi publicado muitos anos antes, em 1946, e a ação decorre em plena II Guerra Mundial, com a ameaça constante de bombardeamentos e o receio de uma invasão, quer pelos alemães, quer pelos aliados. É justamente devido ao receio dos bombardeamentos que Ahmad Akif, funcionário no Ministério do Trabalho, e seus pais decidem mudar para o bairro Khan al-Khalili. Segundo o pai, o bairro estaria protegido pela Mesquita de al-Hussein pelo que dificilmente seria bombardeado pelos alemães.     O pai aposentara-se muito novo e por essa razão, Ahmad fora forçado a abandonar os estudos e a aceitar um lugar modesto no Ministério para ajudar os pais e o irmão mais novo. Apesar de t

Trilogia Thomas Cromwell, Hilary Mantel

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     Escreveu-nos uma querida amiga acerca de uma trilogia que há muito (demasiado) aguarda a nossa leitura: a trilogia de Hilary Mantel, duplamente vencedora do Man Booker Prize. Composta pelos romances Wolf Hall (sem tradução para português), Bring Up the Bodies (O Livro Negro) e The Mirror and the Light (O Espelho e a Luz), trata-se de uma trilogia de romances históricos, centrados em Thomas Cromwell, aquele que veio a ser o principal conselheiro de Henrique VIII, durante o seu reinado.       É isto que a Lucinda tem a dizer, após concluir a leitura:      Acabei de ler a trilogia Wolf Hall, da Hillary Mantel, gostei muitíssimo e aprendi muitíssimo também [...].  Como bem dizes, Ana, escrever uma recensão não é tarefa fácil. Que te dizer da trilogia? Que a autora nos faz vibrar com pessoas que viveram há quinhentos anos, cujas alegrias, aflições, ambições e desalentos se tornam palpáveis para o leitor. O narrador é, praticamente sempre, Thomas Cromwell, figura que a história apresent