O Primeiro Homem de Roma (Amor e Poder #1), Colleen McCullough (Difel)

    Este livro, aconselhado por vários membros da família, é o primeiro de oito volmes sobre o império romano. 
     Com início no ano 110 a.C. segue essencialmente Caio Mário, "um novo rico vindo do meio rural, um militar, com a reputação de não saber falar grego" e Lúcio Cornélio Sila cujas origens patrícias, "que remontavam aos tempos que antecediam a própria fundação de Roma", o tornavam "eminentemente elegível para a glória total de ascensão política". A ambição máxima de qualquer político era tornar-se o Primeiro Homem de Roma; no entanto, os entraves para sequer entrar na política eram sempre muitos. O primeiro deles era tão-só o sangue, o nascimento. Para ser cônsul, era necessário provir de famílias patrícias, e possuir nome identificativo de tal. Além disso, era necessário pagar avultadamente. 
    Caio Mário, como novo-rico que era, possuía riqueza suficiente, e feitos militares distintivos, mas não tinha ascendência apropriada ao consulado, sendo por vezes difamado até ao ponto de não ser sequer cidadão romano. Por seu turno, Lúcio Cornélio Sila possuía o sangue mas encontrava-se entre os escalões mais pobres da sociedade romana.
    No dia de Ano Novo de 110 a.C. os caminhos destes dois homens cruzam-se e, juntos a nível militar e familiar, por casamentos com descendentes da família patrícia dos Júlios, levam a cabo inúmeras modificações na face da governação romana, a cargo de Caio Mário durante seis anos seguidos - uma das principais afrontas, já que de acordo com a lei, um cônsul não poderia candidatar-se dois anos de seguida ao cargo. Com isso,  e todas as reformas que Caio Mário instaura, cria inúmeros inimigos entre os poderosos de Roma.

    «Suponho que haverá nisto alguma justiça, mas aonde nos levam leis destas, Caio Mário? É uma lei que confere demasiado poder ao Estado, para já não falar do dinheiro! (...) Há algo de terrivelmente tranquilizante em estar-se na política para enriquecer. É normal. É humano. É perdoável. É compreensível. Devemos ter cuidado é com os que estão na política para mudar o mundo. São eles que provocam maiores danos, os homens de poder e os altruístas. Não é saudável pensar nos outros antes de nós próprios.»

    Escrito de forma simples e acessível, faz-nos mergulhar profundamente numa época para mim profundamente apaixonante. No entanto, como livro de 900 paginas que é, tem passagens muito interessantes, e outras que custam um pouco a passar. A par de nos transmitir a realidade da época com pequenos detalhes muito curiosos, o modo como os diálogos, e mesmo parte das intrigas, são apresentados é muito semelhante ao que se passa na atualidade e leva-nos a duvidar um pouco da veracidade do que estamos a ler. Adicionalmente, senti grande dificuldade em acompanhar todos os personagens que vão surgindo e criando intriga, quando estes não são particularmente próximos dos personagens principais; e senti que havia muitas referências anteriores ao período contemplado que requeriam maior explicação - para quem não está a par das lendas e dos heróis, há muitas referências que se perdem, sem o cuidado do próprio leitor em pesquisar informação adicional. De qualquer forma, para quem gosta do período, das intrigas políticas e guerras travadas, é um livro interessante - com partes em que peca pelo detalhe, e outras em que peca pela falta dele. Não é um livro homogéneo.

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