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Acabámos de ler:

Aimez-vous Brahms.., Françoise Sagan (Le Livre de Poche)

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      Há um cheiro característico dos livros novos e dos livros velhos. Não são cheiros iguais os de uns e de outros, mas só nessas épocas da vida é que os livros rescendem. O cheiro dos livros velhos acompanha as folhas amarelecidas, a pose arqueada e a capa fraturada ou mesmo rasgada nas pontas.     Gosto de ler livros velhos, com capas cuidadas, como a deste romance Aimez-vous Brahms..Gosto de pensar em quem o leu antes de mim. Veio da casa dos meus sogros e passou um período no congelador, embrulhado em sacos de plástico. Foi esta a receita que me foi indicada para eliminar traças dos livros, por isso, durante semanas, em vez de comida tivemos livros no congelador.     Aimez-vous Brahms? é a pergunta que um homem jovem, Simon, faz a Paule, uma mulher mais velha que ele e envolvida numa relação insatisfatória com Roger. Um triângulo amoroso ou um retângulo amoroso, porque Roger mantém também ele uma relação com uma jovem mulher.      Mas essa pergunta leva Paule a pensar em

Um detalhe menor, Adania Shibli (D. Quixote)

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      Um blogue sobre livros não é o espaço certo para debater política e falar sobre guerras, mas quando os efeitos chegam aos livros e aos autores, a situação é distinta. Não conhecia esta Autora, Adania Shibli. Ouvi falar dela pela primeira vez quando li a notícia que a Feira do Livro de Frankfurt tinha decidido cancelar e adiar indefinidamente a entrega do prémio LiBeraturpreis, prémio destinado a homenagear escritoras do Sul Global por uma obra recém-publicada em alemão.     Na sequência deste adiamento/cancelamento, mais de 350 autores, incluindo alguns que muito aprecio e respeito, subscreveram uma carta na qual lamentam o sucedido considerando que a Feira do Livro de Frankfurt tem «responsabilidade de criar espaços para escritores palestinos compartilharem seus pensamentos, sentimentos e reflexões sobre literatura nestes tempos terríveis e cruéis, e não de silenciá-los». Eu diria que esse é o papel da literatura: compartilhar pensamentos, sentimentos e reflexões. Não podendo

Ventos do Apocalipse, Paulina Chiziane (Caminho)

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    Li Ventos do Apocalipse numa edição recente que ostenta na capa a indicação que a Autora foi Prémio Camões 2021, mas a 1.ª edição é de 1993, um ano depois do fim da guerra civil de Moçambique, e é fruto dessa vivência terrível. Transmite bem o horror que representa a guerra, sobretudo a civil, na vida das pessoas.    Ventos do Apocalipse começa com um prólogo seguindo-se três pequenas histórias. Terríveis todas. «O marido cruel», «Mata que amanhã faremos outro» e «A ambição de Massupai». Histórias de fome, medo, morte, crueldade e ambição. Mas isto são histórias contadas à volta da fogueira, por um avô, a quem pedem histórias bonitas. Porque « O povo não tem biblioteca e nem escreve. A sua história, os seus segredos residem na massa cinzenta dos antigos, cada cabeça é um capítulo, um livro, uma enciclopédia, uma biblioteca.»    KARINGANA WA KARINGANA (expressão que não consta do glossário e que significa Era uma vez) é então que começa a história, que, como é dito, se repete. «A te

Um pais para lá do azul do céu, Susanna Tamaro (Editorial Presença)

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    Não gostei deste livro.   Começo assim esta recensão porque acabo de o pousar e não gosto da sensação de acabar um livro e não sentir já nem que seja um pouquinho de falta dele, das personagens, do universo em que decorre, da escrita...   Quando era mais nova, li Tobias e o Anjo , da Susanna Tamaro. Adorei. É um livro lindíssimo, apesar de triste. Reli-o anos mais tarde, nos meus tempos de babysitting : todas as semanas mais um capítulo. Não me recordo se li o mais conhecido da autora, Vai onde te leva o coração. Tenho ideia de ter começado e não ter terminado... assim como aconteceu com este.     Foi por Tobias e o Anjo , e pela sinopse apresentada, que, quando uma amiga me enviou o link das promoções da Editorial Presença, há umas semanas, escolhi este como um dos livros a encomendar. Além disso, são quatro contos, por isso podia ir lendo e saboreando cada um deles, nos curtos momentos em que os meus filhotes permitissem.     Promete-nos a sinopse que vamos ler quatro contos sob