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Acabámos de ler:

Mulheres invisíveis, Carolina Criado Perez (Relógio d'Água)

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        Li este livro na edição inglesa, que me foi emprestado pelo meu sobrinho Francisco depois de uma conversa justamente sobre a invisibilidade das mulheres. Desconhecia que o livro estava em vias de ser traduzido e editado entre nós. Nunca tinha ouvido falar desta autora, que pensei ser espanhola ou sul-americana, e não britânica. Descubro depois que, para além de escritora, é jornalista e defensora dos direitos das mulheres. Nas notas biográficas, é referido que foi ela que conseguiu que uma mulher aparecesse em notas do Banco de Inglaterra e que dinamizou a campanha para que a estátua de uma sufragista - Millicent Fawcett - fosse erguida no Parliament Square.     O livro inicia-se com uma citação de Simone Beauvoir e que poderia ser o subtítulo ou o resumo desta obra:     “A representação do mundo é obra dos homens; eles descrevem-no do ponto de vista que lhes é peculiar e que confundem com a verdade absoluta.”     Algumas das questões que a Autora suscita constam da publi

Manual de infidelidade, José Gameiro (Avenida da Liberdade Editores)

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      Exerci advocacia durante um período muito curto. O suficiente para perceber que não era isso que queria fazer. Era então uma profissão diferente da atual, em que os advogados eram uma espécie de médicos de clínica geral: recebiam quem lhes batia à porta e passavam rapidamente de questões laborais, a questões sucessórias ou de família. Os divórcios eram ainda matéria obrigatória de tribunais e de advogados e por isso, mesmo tendo exercido por pouco tempo, contactei com alguns casos de divórcio.     As reuniões, as conversas - melhor dizendo, as discussões - com os ainda cônjuges, deixavam-me sempre um travo amargo na boca. Mas apesar da curta experiência também me apercebi ou aprendi que, como refere o Autor, ao contrário do que se possa pensar, a infidelidade não é o principal motivo de divórcio. E também que é falso que se um casal estiver bem, nada acontece. No Manual de infidelidade, José Gameiro fala nas causas, no percurso da infidelidade e na sua descoberta e no que desig

O Grito dos Pássaros Loucos, Dany Laferrière (Antígona Editores Refractários)

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      Já tinha folheado este livro e hesitado em comprá-lo, sobretudo pela falta de tempo para ler aqueles que já tenho amontoados - comprados, oferecidos, ou emprestados - contudo, numa recente visita à Biblioteca de Oeiras, encontrei-o exposto logo à entrada e trouxe-o comigo. Bastou ler a contracapa:    «Como poderíamos sentir-nos cidadãos de um país onde mataram o nosso melhor amigo e procuraram matar-nos também? Sem razão aparente. Um país onde andam leopardos em liberdade. Um país em que a nossa própria mãe tem de nos suplicar que a deixemos, pois mais vale o exílio do que a morte.»     Confesso que conheço muito mal a história do Haiti, pouco mais que os nomes Papa Doc e Baby Doc, os terremotos de 2010 e 2021 e, mais recentemente, os confrontos de gangues e a situação de fome e pobreza generalizada.     A história narrada em O grito dos pássaros loucos decorre durante a ditadura de Baby Doc, que durou 15 anos, desde a morte do seu pai em 1971 até à sua fuga para o exílio

A zona de interesse, Martin Amis (Quetzal)

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         Depois de ter visto o filme A zona de interesse, de Jonathan Glazer, fiquei com curiosidade de ler o livro com o mesmo título, de Martin Amis, em que se baseou.      Tive a sorte da minha filha mo oferecer no passado Dia da Mãe. Confesso que enquanto lia, tive necessidade de me lembrar do filme, porque o livro é bastante mais complexo ou, sendo mais exata, são histórias distintas. A coincidência entre ambos – o livro e o filme – tem a ver com a localização da residência do Comandante Doll e respetiva família junto de um campo de concentração, durante a II Guerra Mundial. No filme, a mensagem principal – pelo menos foi o que retive – é a absoluta estranheza de uma vivência familiar trivial junto de um campo da morte. Um jardim repleto de flores onde brincam crianças enquanto ao lado, no campo da concentração, a chaminé vomita um fumo negro e espesso e se vislumbram figuras humanas esquálidas. No fundo, é a destruição da ideia ainda por muitos veiculada e aceite que havia quem n