O livro de San Michele, Axel Munthe (Livros do Brasil)

  
  Como tinha previsto, durante as férias, ir ao Mont-Saint-Michel, na Bretanha francesa, decidi ler este livro de que me recordo desde sempre nas estantes dos meus pais, e de os ouvir falar dele com admiração. Sempre pensei que o livro teria algo que ver com a abadia que foi erigida no Mont-Saint-Michel ou com a sua história. 
   Não é a primeira vez que o título de um livro me engana. O caso mais engraçado de que me recordo é o de um livro, também dos meus pais, que estava numa estante no corredor da casa deles, numa das prateleiras mais altas e cuja lombada ostentava o título Parto sem dor. Noutra prateleira estava o livro de Ferreira de Castro, Emigrantes. Depois de ler este último e fascinada com o livro e com o tema decidi avançar para o Parto sem dor, convicta de que se tratava da mensagem de despedida de um emigrante. Não era. Era um livro sobre o parto sem dor o que de imediato compreendi pelas imagens. Em minha defesa, recordo a belíssima canção de Sérgio Godinho com o mesmo título, mas este sobre emigrantes:

«E agora eu vou-me embora/ e embora a dor/ não queira ir já embora/ agora eu vou-me embora/ e parto sem dor»

    O Livro de San Michele é um livro curioso, com cariz autobiográfico. Axel Munthe médico, de origem sueca, exerceu medicina em Paris e em Roma, tendo sempre em vista regressar a Anacapri para construir a casa dos seus sonhos, o que faz, com a ajuda apenas de locais; e se o livro ostenta o nome do local onde construiu a sua casa, como diz no prefácio «Não foi acerca de San Michele, nem dos seus preciosos fragmentos de mármore que animou centos de páginas, mas apenas com fragmentos de argila, extraídos da sua vida despedaçada
   Ultrapassada a surpresa inicial, o livro prende-nos pela simplicidade e franqueza de algumas das histórias, desde a divertida história do diagnóstico quase obsessivo de colites - que nem médicos, nem doentes sabiam precisar do que se tratava -, até à história dos doentes com cólera, numa altura em que Pasteur ainda investigava a doença para descobrir a vacina.
    Mais curioso é verificar que, no início do século XX, havia grandes colónias de médicos estrangeiros que exerciam em cidades como Paris e Roma, e como resolviam a questão das habilitações. Hilariante a história do médico que, obrigado, como os restantes, a comprovar que tem as habilitações necessárias para o exercício da medicina, pede que não as divulguem, porque muitos dos seus clientes o procuram justamente porque consideram que é um charlatão, e se soubessem que ele era médico podiam deixar de o procurar. 
    Muito interessante também é a forma como aborda a eutanásia, aparentemente como uma decisão médica sem qualquer outra interferência. 
    No que toca aos animais, o autor apresenta-se como um grande defensor dos animais, aliás trata vários animais para além de recolher alguns deles, dedicando por isso o livro à Rainha da Suécia, protetora dos animais maltratados e amiga de todos os cães.

    Uma última palavra para referir que O livro de San Michel é o número 1 dos Livros do Brasil que é para mim uma referência pois muitos dos meus livros preferidos foram publicados por esta editora.

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Comentários

  1. Oi Ana, seu comentário foi o mais interessante entre outros que já li aqui no Google. Este maravilhoso livro li há mais de 40 anos. Quis reler, mas após suar muito procurando entre minhas centenas de livros, ele sumiu. Consegui comprar outro neste ano, mas sòmente usado. É fantástico. Herança para filhos e netos. ��

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  2. Recebi esse livro de minha mãe que havia ganho do meu avô quando jovem, cerca de uns 100 anos atrás. Comprei a edição atual para não manusear a 1a edição em português. Já o li umas duas vezes e recomendo muito.

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    1. É um livro de que pouco se fala atualmente e que lemos, por acaso, quando temos a sorte de o encontrar nas estantes dos livros dos nossos pais ou dos nossos avós, mas que não esquecemos. Temos de nos lembrar de os passar aos nossos filhos e netos.

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  3. É um livro de que pouco se fala e que lemos apenas se, por sorte, o encontramos na estante dos livros dos nossos pais ou avós. Temos de o perpetuar passando-o aos nossos filhos e netos.

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