O tempo entre costuras, Maria Dueñas (Porto Editora)

Maria Dueñas @ Clube de Leituras
   Mais um livro recomendado e emprestado pela Nélia. É um livro arrebatador que não apetece parar de ler. Houve momentos em que desejei que a minha viagem diária, no comboio, se arrastasse ou que o comboio se atrasasse, de forma a permitir-me prolongar a leitura.
    A ação decorre entre Madrid, Marrocos e Lisboa, no período que antecede a guerra civil de Espanha e a II Guerra Mundial. 
  Sira, a protagonista, é uma jovem quando a conhecemos, aprendiz de costureira, filha de mãe solteira e noiva de um homem cuja única ambição é conseguir um posto de funcionário público para ambos, a quem uma máquina de escrever arruinou o destino (frase com que se inicia o livro).
   Mais por acaso que por convição ou vontade, é recrutada pelos serviços secretos britânicos e passa a viver uma vida dupla, entre ateliers e senhoras da alta sociedade, sobretudo inglesas e alemãs, criando um passado e simulando vivências que não tinha, primeiro em Marrocos, Tetuán, e depois em Madrid.
    Ao longo do livro, Sira vai-se cruzando e conhecendo pessoas reais, algumas mais conhecidas, como o cunhado de Franco, Ramon Serrano Suñer, outras menos, mas que de acordo com a nota da autora existiram de facto, como os fascinantes Rosalinda Powell Fox e Juan Luis Beigbeder.
   Gostei particularmente do Epílogo em que nos é dada conta do destino das personagens verdadeiras e abertas múltiplas possibilidades quanto ao desfecho das personagens ficcionadas (Quanto a Marcus e a mim, talvez os nosso caminhos se separassem quando a guerra acabou. Pode ser que depois do amor alvoroçado que vivemos durante os quatro anos restantes, ele voltasse para o seu país e eu acabasse os meus dias em Madrid, convertida numa altiva modista à frente de um atelier mítico, acessível apenas a uma clientela que eu escolheria caprichosamente segundo o humor do dia. Ou então cansei-me de trabalhar e aceitei a proposta de casamento de um cirurgião....)
    A par da história e do desenho das personagens, é de realçar a perfeição da escrita, a escolha das palavras e das imagens (E para que tudo corresse como ele tinha previsto, fiz dos meus medos uma bola compacta, engoli-a e arvorei a expressão mais fascinante da minha falsa personalidade)

 ***

   

Comentários

  1. Como adorei este livro! Agarra-nos desde o primeiro momento e é tão fascinante que não temos como fugir dele - nem o tamanho assusta! Aliás, pelo contrário: sabemos que ainda temos muito para apreciar a companhia de Sira nas suas aventuras. Terminei de o ler na tarde passada e foi com tristeza que o fechei. Vou ter saudades dos personagens. Alegra-me saber que foi adaptado para televisão e vou ver a série!

    Até lá, ficam as passagens memoráveis:

    "A normalidade não estava nos dias que ficaram para trás: só se encontrava naquilo que o destino nos punha à frente, cada manhã. (...) no local para onde eu quiser dirigir-me ou quiser fixar os alicerces da minha vida , aí estaria ela, a minha normalidade. (...) A normalidade não era mais que o que a minha própria vontade, o meu compromisso e a minha palavra aceitassem que fosse e, por isso, estaria sempre comigo. Procurá-la noutro sítio ou querer recuperá-la do passado não fazia o menor sentido."

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