Vendidas!, Zana Muhsen (Edições ASA)

    Vendidas! é um relato verídico, contad na primeira pessoa, sobre duas irmãs britânicas - Zana e Nadia - que, pensando ir de férias ao Iémen, cidade natal do pai, se apercebem que este as vendeu e que estão casadas. Zana, a mais velha - e quem narra a história - vai duas semanas mais cedo mas não consegue avisar a irmã e a mãe para impedir a viagem a Nadia. 
    A narrativa é impressionante. A viagem deu-se em 1980. São levadas para aldeias vizinhas, mas perdidas no tempo e no espaço, no meio de um deserto árido, apenas com as montanhas e os animais selvagens como companhia. As casas não têm eletricidade, água potável ou canalizada, nem sanitários - as casas de banho cingem-se a um buraco no chão. 
    Zana bate-se o mais possível para não ceder àquela situação, mas acaba forçada, pela forç,a a deitar-se com o seu marido, descrito como um rapazinho enfezado e doente, para que lhe faça um filho. É maltratada pelo sogro, que teme, e pela sogra, e despreza simplesmente o marido que, um ano mais novo que ela, corre a queixar-se ao pai cada vez qye é recusado na cama, o que leva a mais uma cena de pancada. A proximidade da irmã acaba por ser um refúgio, pois não passam muitos dias sem que se vejam e façam planos juntas, procurando consolar-se e dar-se mutuamente esperança.
    Decorrem quatro anos até que  consigam contactar a mãe que, então, finalmente conhecendo o seu paradeiro, vai à procura delas e começa, no regresso a Londres, a mover-se para as tirar dali.
    Decorrem outros quatro anos até que Zana volte, porque está disposta a deixar o filho para tras, uma vez que é rapaz e porque fica ao cuidado da irmã mais nova, na altura com dois filhos dos quais não consegue abdicar. A única forma de Nadia voltar e manter os filhos, é se o marido for com ela para Inglaterra, mas este está proibido pelo pai a aceder. Zana toma então como sua missão libertar a irmã.

    Procurei informações, agora decorridos 20 anos desde a publicção do livro, mas não há praticamente nada na internet. Em 2002, Nadia deu uma entrevista em que dizia ser feliz no Iémen e que a sua intenção nunca foi voltar, mas que a irmã a pressionava (para os interessados, Ler Artigo Aqui). No livro da irmã, a ideia que passa é outra ainda que, para todos os efeitos, Nadia desde cedo se tenha conformado muito mais que Zana que se batia com unhas e dentes, literalmente.

    É um livro arrepiante, sobretudo para nós, mulheres modernas ocidentais; basicamente, este tráfico de mulheres serve o propósito de conseguir vistos europeus para os maridos para as quais foram compradas. No entanto, uma mulher que se case com um imenita toma automaticamente a nacionalidade do Iémen, e tem de se sujeitar às suas leis. Os filhos que vêm desses casamentos acabam por servir de grilhões porque poucas mãe têm a coragem de os abandonar à guarda da família do marido, o que está previsto na lei, em caso de divórcio.

    O livro está bastante bem escrito; Zana teve a ajuda de um "escritor fantasma", Andrew Crofts. No entanto a tradução e a edição (7ª Ed.) estão péssimas, existindo demasiados erros, incluindo erros ortográficos, o que, para uma editora com a ASA, considero inadmissível.

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