Sombras Queimadas, Kamila Shamsie (Civilização Editora)

    Este livro foi uma desilusão. Tudo nele me foi extremamente apelativo - a capa, o título e o resumo da contracapa. Admito, no entanto, que comecei a lê-lo com uma ideia específica do que poderia encontrar e que parte da minha desilusão se prendeu precisamente com o rumo totalmente distinto que a história toma.
    A narrativa começa em Nagasáqui, quando Konrad, um alemão, propõe casamento a Hiroko, japonesa. A primeira bomba nuclear caíra em  Hiroxima havia três dias e, quando ele deixa a casa da noiva, cai a segunda bomba, em Nagasáqui. Konrad não sobrevive e Hiroko fica com marcas (físicas, para não falar das psicológicas) permanentes. Dois anos depois, Hiroko procura a meia-irmã de Konrad, Ilse, em Deli, na Índia, onde conhece Sajjad a quem mostra pela primeira e última vez, as queimaduras em forma de pássaros gravadas na pele.
    Toda a primeira parte do romance é emotiva e forte, com as descrições de como aqueles que estavam mais perto do local da queda da bomba foram completamente vaporizados, deixando apenas as suas sombras, cravadas no local onde se encontrvam pela gordura dos seus corpos. No entanto, eu estava à espera de seguir Hiroko ao longo dos anos após a tragédia, perscrutando o seu mundo interior, a sua luta contra a dor, a sua procura de algum tipo de resposta ou resignação. Pelo contrário, a história está dividida em quatro partes, de acordo com o local onde está a decorrer - Nagasáqui, Deli, Paquistão e Nova Iorque/Afeganistão - com intervalos de muitos anos entre cada uma delas. Vamos tambem seguindo personagens diferentes, sempre da família de Konrad ou de Hiroko, ainda que a japonesa tenha um papel mais constante. 
    A sensação que me ficou foi que isto torna muito difícil o acesso verdadeiro a cada personagem, não nos sendo possível apaixonarmo-nos por ou identificarmo-nos com alguma delas, porque não as acompanhamos - simplesmente vamos conhecendo as suas diferentes versões, em cada momento em que aparecem.
    O livro foi finalista do Prémio Orange de 2009, pelo que presumo que muita gente vá discordar da minha opinião, mas não foi um livro cativante.

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