Amesterdão, Ian McEwan (Gradiva)

Ian McEwan @ Clube de Leituras    Foi com um misto de impaciência e pena que li este livro. Impaciência por acabar, mas no mau sentido; queria terminá-lo por ser do Ian McEwan, por ter recebido o Booker Prize em 1998 e porque, sendo pequeno, custava um pouco menos. Pena porque há uns anos atrás, li os livros deste autor de forma desenfreada, e porque de facto ele escreve muito bem; no entanto, o livro não me interessou
    Dois amigos, antigos amantes da mesma mulher, Molly Lane, cujo serviço fúnebre é a abertura do livro, vêm a sua amizade destruída por divergências de opiniões, valores e atitudes.
   Vernon Halliday é redator chefe do jornal The Judge, que precisa urgentemente de aumentar o número de vendas. O viúvo de Molly entrega-lhe então fotos comprometedoras do primeiro ministro e Vernon tem de decidir se as publica ou não.
  Clive Linley é um compositor aclamado a quem foi encomendada uma peça para assinalar a mudança de milénio. Dotado de ouvido absoluto, e sempre em busca do trecho musical seguinte, opta por ignorar uma cena suspeita entre um homem e uma mulher, num trilho de montanha, a fim de não perder a melodia surgida na altura.
    Mantenho a minha opinião sobre a qualidade da escrita, mas a estrutura do livro é estranha, e não senti que tivesse um fio condutor; é mais um conjunto de episódios das vidas dos dois amigos, que num ou noutro ponto se cruzam. Tive mesmo de me obrigar a terminar o livro, o que nunca é algo de positivo a dizer. 

    Ainda assim deixo um excerto particularmente interessante:

    "Numa língua tão rica do ponto de vista idiomático como o inglês, as oportunidades de mal entendidos têm necessariamente de acontecer. Por meio de uma ligeira alteração na entoação, um verbo pode tornar-se um substantivo, uma ação transformar-se numa coisa. (...) O que acontece com as palavras também se passa com as frases. O que Clive tivera intenção de dizer na quinta feira e metera no correio na sexta era «Mereces ser despedido». O que Vernon forçosamente compreendera na terça feira, depois da sua demissão, fora «Mereces ser despedido». (...) Era esta a natureza cómica do destino deles; teria sido vantajoso para ambos que a mensagem tivesse sido enviada por correio azul."


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