Constellation, Adrien Bosc (Stock roman)


    O João trouxe este livro de uma das suas recentes deslocações a França. Uma edição sóbria, capa preta com o nome do livro e do autor: Constellation, Adrien Bosc. Uma cinta bege anuncia que o livro ganhou o Grande prémio de Romance da Academia francesa 2014. Comecei logo a cobiçá-lo, na certeza que o João abandonaria a sua leitura por uma nova revista informática ou de divulgação científica, o que acabou por acontecer. Devo confessar que a sua leitura foi mais difícil do que previa  mas o interesse pela sua leitura nunca se desvaneceu.
    Constellation é a designação de um avião, da Air France, anunciado como o novo cometa e que o autor descreve como um pássaro cromado nascido da loucura de um homem, Howard Hughes. No dia 27 de outubro de 1949, 27 passageiros embarcam no Constellation, em Orly, rumo à América. O piloto decidira fazer o abastecimento na ilha de Santa Maria mas, por razões que o autor tenta desvendar, cai na ilha de São Miguel.
    A bordo seguiam 37 passageiros, entre eles, Marcel Cerdan, boxeur e amante de Edith Piaf. Edith Piaf ter-lhe-ia pedido que fosse ter com ela e ele teria acedido, ultrapassando o medo que tinha de voar. Edith Piaf nunca se recompôs desta perda e do sentimento de culpa. Seguia também no avião Ginette Neveu uma violinista francesa muito talentosa. Numa época em que o reconhecimento dos mortos se fazia por recurso a documentos, ou à roupa e jóias que ostentavam, e, mais raramente pelo registo dentário, o seu corpo foi confundido com o de outra passageira tendo posteriormente sido   trocados os corpos.
     O autor segue o rasto dos que morreram, passageiros e tripulantes, o rasto do avião e tenta perceber o fluxo de eventos que levaram à queda. E o percurso que faz através do recorte de jornais e da pesquisa que efectua,  fá-lo depois, chegando à ilha de Santa Maria e subindo à zona em que há cerca de 60 anos o avião caiu. O local da queda tem um pequeno mausoléu, erigido pelos locais , em homenagem às "alminhas".
     O livro é muito curioso pelas histórias que relata. Temos a sensação que o autor pesquisou exaustivamente  as circunstâncias à volta do acidente e a vida dos que seguiam no Constellation naquele dia, procurando pequenas histórias que nos dessem um retrato das pessoas que fizeram fila para embarcar no avião, no dia 27 de outubro de 1949. Penso que faltou o golpe de asa para trazer para o livro os que não têm história. Embora considerado um luxo ou designado como o avião das estrelas, seguiam a bordo um conjunto de pastores  bascos e uma mulher trabalhadora (bobineuse) que emigravam e cuja viagem era paga pelos futuros patrões e pela madrinha, respectivamente. E a  estes poucas linhas são dedicadas. Não haverá seguramente registos sobre as suas vidas em jornais ou livros mas podemos até imaginar o espanto, o receio e a expectativa com que entraram no avião.
    Um livro muito interessante e que encerra um conjunto de pequenas histórias e curiosidades.


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