Receitas de Amor para Mulheres Tristes, Héctor Abad Faciolince (Quetzal)
E se estas receitas se destinam a mulheres tristes, Héctor começa logo por realçar a importância de estar triste, retomando esta ideia ao longo do livro (o que é importante, pois com frequência encontramos esta rejeição da tristeza, nossa e dos outros):
"A verdade é que, muitas vezes, não há nada mais sensato que estar triste; todos os dias acontecem coisas, aos outros e a nós que não têm remédio, ou melhor, que têm esse antigo e único remédio de nos sentirmos tristes."
E a que se destinam as receitas? A coisas tão distintas como o peso dos anos, o enjoo das palavras, a insónia, os nervos, o estar solteira, a traição do homem amado, a atração pelo outro, a gravidez, a virgindade, as regras, o homem (marido, amante ou namorado).
Prefiro aconselhar a leitura deste livro em vez de falar dele, ou melhor, aconselhar a tê-lo ao pé de nós para que possamos revisitá-lo com frequência ou sempre que precisarmos de uma receita. E não resisto a roubar a parte em que fala da dor da perda:
"Porque há uma regra inelutável que, agora que a vais ouvir, até te porá mais triste: com o passar do tempo já não sofrerás tanto; vais querer sofrer como antes e não serás capaz. É impossível sofrer e mais sofrer por muito tempo. E até acabarás por esquecê-lo, a ele, a ele! Custe-te o que te custar e aconteça o que acontecer: se ao fim de trinta e seis meses, continuares a sofrer como agora, não sofrerás por ele, sofrerás pela culpa de não continuares a sofrer. Ainda que fosse sem limites o amor que sentias, a dor é avara, dura menos."
E a acabar com a parte final da receita para aquelas que se acham feias:
"Talvez não saibas, mas num canto qualquer da Terra existe um homem à tua procura."
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