Naqueles braços, Camille Laurens (Publicações D. Quixote)


   Nas minha tentativa anual de organizar os livros que tenho nas várias estantes do sótão, encontrei este livro que comprei há já alguns anos. Por rotina, mantenho cá em baixo, entre a sala e o meu quarto, os livros que ainda não li, e remeto para o sótão os que já li, embora alguns desçam as escadas e aterrem de novo no meu quarto, na mesinha de cabeceira, para voltar a lê-los. Não sei porque tinha enviado este para as prateleiras dos já lidos. Confesso que alguns livros que não li, mas de cuja leitura desisti, terminam por ser enviados para o sótão antes de chegada a sua hora. Se foi o caso deste, não sei, porque quando o folheei comecei a lê-lo imediatamente. Se não é um livro excecional, é contudo muito original na forma como está estruturado: pequenos capítulos, cada um dedicado aos homens da vida da autora, mas que se repetem. O pai, o editor, o marido, o namorado, o amante, o professor, o primeiro amor...poucos são nomeados, André, o amante da mãe, Amal, um namorado marroquino e Abel Weil, psicanalista(?). E há um título recorrente: A sós com ele. A sós como homem.
    Através dos homens, alguns que permaneceram outros que são memórias fugazes, conhecemos a vida da narradora que umas vezes se assume como tal (Ontem fiz uma experiência) e noutras aparece na terceira pessoa (Ela escreve porque ele se cala.) Pela relação que estabelece com os diferentes homens constrói-se ela e a leitora capta a sua imagem. Leitora porque ela reconhece que são as mulheres que a lêem (sei que são as mulheres que lêem, mas eu não poderia escrever se não pensasse, ainda que de forma confusa, silhueta a contraluz, que é um homem,)
    Gostei de ler, gostei destes fragmentos de vida, vistos pelos olhos dos homens, pelos diálogos  com eles, pelo peso e importância que têm nas nossas vidas, o pai, os namorados, amantes e maridos, os filhos...
     Porque como ela diz a dada altura: Mas o que é você sem mim?A  mulher  é o corpo do homem, o homem é o corpo da mulher. Somos um para o outro o que nos mantém vivos.

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