Os Interessantes, Meg Wolitzer (Teorema)

    Este romance acompanhou-me durante os últimos dois meses. Surpreendi-me ao aperceber-me disto porque geralmente vou arrastando as leituras que não me despertam o interesse - o que não foi o que aconteceu neste caso. Gostei muito deste livro. Creio que porque conta estórias banais, de pessoas normais que poderíamos ser nós, os nossos amigos e conhecidos. Como tal, não há talvez uma trama que nos mantenha totalmente absorvidos porque precise de ser destrinçada (e entendo que isso para muitos seja dissuasor da leitura) mas antes, cada vez que abria o livro, sentia-me a reencontrar os meus velhos amigos nas suas páginas: a Jules, a Ash, o Ethan, o Jonah, o Dennis.
    Apesar de seguirmos um pouco as estórias de todos eles, o foco maior é sobre Jules. Julie, quando o romance começa, que integra o campo de férias no âmbito das artes, Spirit-in-the-Woods, por ter conseguido uma bolsa, e onde conhece o grupo de amigos que fará parte do resto da sua vida - Os Interessantes. No fundo, são jovens que se crêem artistas e que esperam de si mesmos grandes feitos, em diferentes áreas: teatro, animação, música, dança. E no entanto, como quase tudo o que planeamos para as nossas vidas, quase nenhum deles alcança esse sonho. 

    Em breve, ela e os outros seriam irónicos durante grande parte do tempo, incapazes de responderem a uma pergunta inocente sem carregarem as palavras com um pequeno ajuste mordaz. Passado relativamente pouco tempo, a mordacidade haveria de se atenuar, a ironia misturar-se-ia com a seriedade e os anos encurtar-se-iam e voariam. Depois não faltaria muito para que todos se sentissem chocados e tristes por terem crescido por completo e chegado às pessoas adultas mais densas e finalizadas que eram, praticamente sem hipótese de se reinventarem.

    Não é, no entanto, um livro triste ou amargo. Não se trata de um retrato de pessoas revoltadas ou desiludidas com a vida. Também passa por aí; todos passamos. Mas é mais do que isso. É um livro sobre a vida, sobre como o mundo à nossa volta vai girando sem se vergar às nossas vontades e como temos de ser nós adaptar-nos (e conseguimos!). Sobre como tanto do que somos, do que nos move, do que aspiramos, guardamos para nós mesmos, escondemos dos outros, mesmo dos que nos são mais íntimos. E é também como, na realidade, não mudamos assim tanto desde que somos crianças e, pelo contrário, mantemos sempre em nós, mais ou menos acesos, os mesmos desejos, os mesmos traumas, a mesma busca incessante ("...faz tudo o que faz de ti quem és. (...) É tudo o que temos, não é? Que mais existe, para além de basicamente construirmos coisas até ao dia em que morrermos?"). Por fim, é um livro sobre amizade - sobre aqueles amigos que nos acompanham por toda a vida, que crescem connosco e se moldam connosco, que nos marcam e constituem, na realidade, mais um pedaço de nós

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