Paraísos Artificiais, Paulo Henriques Britto (Companhia das Letras)

    Foi este o livrinho que me foi recomendado pela simpática rapariga do pequeno stand de livros do Centro Comercial de Alvalade, que já mencionei. Falou-me do autor, brasileiro, que escreve maioritariamente poemas mas que, aqui, se aventura em prosa. E, como ela me prometera, a escrita é maravilhosa. Fiquei amarrada logo na introdução.

    ... você está constantemente largando camadas sucessivas de seu ser, desintegrando-se a cada instante de sua existência no espaço; e é por isso que você não é eterno, não pode ser eterno, pelo mesmo motivo que um lápis ou uma borracha não podem ser eternos.
    Mas há uma maneira simples de alterar essa situação - quer dizer, não alterá-la objetivamente, o que seria impossível, e sim modificar o modo como você a vivencia (e como você só sabe das situações o que vivencia delas, para todos os fins práticos modificar sua percepção de uma situação é a mesma posa que modificar a situação em si): basta sentar-se na cadeira, pegar um lápis e uma folha de papel, e começar a escrever.

    Ao todo, o livre reúne oito contos, excetuando a introdução. Contos, no geral, curtos e estranhos ("Essa lealdade das coisas sem vida me enternece profundamente, dá até vontade de chorar. A gente sempre pode confiar num escorredor ou num fogão de quatro bocas ou num pano de prato, eles são absolutamente incapazes de sacanear a gente. É mesmo um negócio comovente. O amor deve ser mais ou menos isso."), em que nos revemos nas personagens e acontecimentos sem, no entanto, conseguirmos conhecê-los completamente. 
    Não gostei de todos de igual modo, claro. Gostei muito dos primeiros ("Uma doença", "Uma visita" e "O companheiro de quarto"), talvez, em parte, pela novidade, pela descoberta da escrita e do autor e gostei particularmente do último, "Os sonetos negros", o maior, quase um mini romance - talvez por ser aproximar desse estilo literário.
   É um livrinho leve, tanto na escrita como literalmente, que aconselho a todos quantos gostam de boa escrita.

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