A Sociedade Literária da Tarte de Casca de Batata. Mary Ann Shaffer e Annie Barrows (SUMA)

Mary Ann Shaffer & Annie Barrows  @ Clube de Leituras
   Este livro é uma delícia. Não encontro melhor adjetivo para ele. E nada tem que ver com a Tarte da Casca da Batata - esse é apenas um detalhe curioso para um nome ainda mais curioso de uma Sociedade Literária formada durante a ocupação alemã em Guernsey.
    Há muitos anos que andava de olho neste livro, desde que, um dia, em busca de sugestões no Goodreads, ele me apareceu como livro recomendado com base nas minhas leituras. Fiquei curiosa com o resumo desde então, e tinha-o marcado como "A Ler". Mas não sabia o título em português e, ainda que tendo pensado em comprá-lo em inglês, acabei sempre por não o fazer. 
    Pois bem, agora foi adaptado ao cinema e entretanto começou a feira do livro. Estava combinado com a família que veríamos o filme este fim de semana e o livro apareceu-me à frente numa das bancas. Foi demasiado tentador para resistir. E demasiado apelativo para controlar a leitura: interrompi o livro que estava a ler para tentar ler este romance ainda antes de o ir ver no grande ecrã - e ainda bem que o fiz. O filme tem a sua piada (mesmo com as diferenças de enredo), mas não chega aos calcanhares do livro. Por isso, se viram e até gostaram, por favor, leiam. Vale muito a pena.

   Juliet Ashton é uma escritora inglesa, impetuosa e obstinada. Durante a Guerra, escreveu uma crónica semi-cómica, sob o pseudónimo Izzy Bickerstaff, entretanto compiladas para livro. No início do enredo, encontra-se em viagem para o apresentar. Sucedem então três coisas: é convidada pelo Jornal London Times para escrever um artigo sobre a leitura; começa a ser cortejada por um famoso e rico editor; e recebe uma carta de um desconhecido, Dawsey Adams, um homem da ilha de Guernsey, que a informa que tem em sua posse um livro que outrora lhe pertencera e sobre cujo autor gostaria de saber mais, pedindo-lhe para lhe indicar a morada de uma livraria em Londres. É Adams quem lhe fala pela primeira vez sobre a Sociedade Literária da Casca de Batata - e lhe desperta a curiosidade sobre a ocupação alemã na ilha.
    Juliet e Dawsey começam a corresponder-se (aliás, todo o livro é sob a forma de correspondência, entre vários personagens) e, mais tarde, vários habitantes da ilha - e membros da Sociedade - começam a partilhar as suas histórias com Juliet. É aqui que a escritora encontra uma possível fonte para o artigo do London Post e, curiosa com as pessoas que lhe escrevem, de quem logo se sente amiga, Juliet parte para Guernsey. 
   As histórias são apaixonantes, envolventes, algumas duras, porque mostram a crueza da ocupação. Mas todo o livro é como que uma ode à humanidade, às pessoas boas que aparecem nas nossas vidas. E como os livros podem ser uma boia de salvação em tempos difíceis.

    Transcrevo (e subscrevo) o epílogo, escrito pela Annie Barrows, a sobrinha de Mary Ann Shaffer, que completou o trabalho da tia quando esta adoeceu após completar o manuscrito:
   « A única falha nesta delícia é que tem um fim. Se pudesse escolher qualquer coisa, escolheria uma história sem fim (...). A boa notícia é que, desde que não nos deixemos apanhar grandemente no contínuo de tempo e espaço, o livro continua, de cada vez que um leitor fala dele a outro leitor. O número de membros da Sociedade Literária da Tarte da Casca da Batata aumenta de cada vez que o livro é lido e apreciado. A melhor coisa sobre os livros - e o que os tornou no melhor subterfúgio para os habitantes da ilha durante a Ocupação - é que nos tiram do nosso tempo, lugar e entendimento e nos transportam, não apenas para o mundo da história, mas para o mundo dos nossos companheiros de leitura, que também têm a suas próprias histórias.»

    Foi um livro que li num fôlego e que, querendo chegar ao fim, não queria que acabasse. Sei que vou ter saudades destes personagens - gostei tanto de todos, senti-me mesmo parte da Sociedade e adorei cada momento. Vai ser um livro que vou ter de reler daqui a uns tempos - para os reencontrar, lhes dizer a falta que senti deles.
    Não deixem de o ler.

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