Escrito na Água, Paula Hawkins (Topseller)

Paula Hawkins @ Clube de Leituras   Nel Abbott tem, desde pequena, um fascínio pelo rio que rodeia a cidade onde costuma passar férias. Pelo rio e pelas mortes que nele ocorreram, ao longo dos tempos. Mulheres levadas ao desespero ou levadas à força, que deram a vida às águas. Até que chega a sua vez. 
    O livro começa com a irmã de Nel, Jules, a receber a notícia da sua morte. Regressa então à cidade onde tanto anos antes passara os seus verões e sofrera às mãos da irmã e dos seus amigos; a cidade onde a irmã decidiu passar a viver e onde Jules preferia nunca mais ter de voltar. A casa é a mesma onde passavam férias e era lá que Nel vivia com a sua filha, que tem a certeza que a mãe se suicidou e a deixou por vontade própria. 
   O livro está escrito ao estilo do primeiro livro da autora, A Rapariga no Comboio, uma vez que vamos conhecendo o desenrolar da história pela voz de diferentes personagens. Tem ainda as curiosidades de se ir passando no presente e no passado, onde vai sendo explorada a relação entre as irmãs e o motivo que as fez afastarem-se enquanto cresciam e também de ir mostrando passagens do livro que Nel estava a escrever sobre a sua interpretação das várias mortes que ocorreram no Poço das Afogadas. Tudo bons ingredientes para um bom mistério, certo? Para mim, sim! Só que… precisava de ir mais além. Os ingredientes estão lá. Mas não chegam.
    Como leitora, senti que ficaram muitas perguntas por responder - e não daquelas que são deliberadamente deixadas para nos obrigarem a pensar ou puxarem a nossa interpretação, mas sim, em meu entender, por falta de capacidade da autora em dá-las. Adoraria ter conhecido a fundo o manuscrito de Nel, onde ela acaba por revelar que mais do que um local de mortes trágicas, o Poço das Afogadas é um local onde, ao longo dos tempos, a cidade se foi libertando das mulheres problemáticas. Temos acesso a algumas passagens - nada de muito envolvente. Mesmo as visitas ao passado, as várias mensagens que Nel deixa a Jules, nada disso é explorado a fundo, fica tudo na camada mais superficial. 
    É um excelente livro para o verão. Agarra e queremos saber o que de facto aconteceu; mas não nos faz pensar e, quando o faz, não favorece o enredo - isto porque é um bocadinho previsível…

    «Nickie perguntava-se se teria dito demasiado, revelado demasiado. Mas não a podiam culpar por ter começado aquilo tudo. Nel Abbott já andava a brincar com o fogo - estava obcecada com o rio e os seus segredos, e esse tipo de obsessão nunca acaba bem. (…) E não se dava o caso de não a ter avisado, pois não? O problema era que ninguém lhe dava ouvidos. (…) Ninguém gostava de se lembrar de que a água daquele rio estava infetada com o sangue e a bílis de mulheres perseguidas, mulheres infelizes; afinal, bebiam-na todos os dias.»

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